G7: sem Rússia, contra China e com EUA e Europa divididos

© REUTERS / Yara NardiProtestos contra G7 na Itália, 27 de maio de 2017
Protestos contra G7 na Itália, 27 de maio de 2017 - Sputnik Brasil
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Há poucos dias, na ilha italiana da Sicília, se deu um dos eventos políticos do ano - a cúpula do grupo G7, onde pela primeira vez compareceram os novos presidentes dos EUA e da França. A Sputnik explica o que marcou a conferência de 2017 e por que o bloco já não parece ter uma unanimidade como antes.

O bloco informal dos países G7 foi inicialmente criado como um clube de discussão entre as maiores economias do mundo, isto é, Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido, EUA e União Europeia.

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A Rússia, por sua vez, integrou o grupo apenas em 1998, com o fim da Guerra Fria e a transição para o padrão democrático, e o deixou em 2014 na sequência da "anexação" da Crimeia, segundo qualificam a reunificação da península com Moscou os países ocidentais.

Tradicionalmente, as cúpulas do grupo decorrem uma vez por ano e reúnem os líderes dos países-membros, sendo que a agenda costuma ser dedicada aos assuntos internacionais mais urgentes e aos desafios à escala global, tais como, por exemplo, o desenvolvimento sustentável e as mudanças climáticas.

Entretanto, vale assinalar que o grupo frequentemente enfrenta críticas duras por deixar de corresponder às realidades de hoje. A coisa é que, por exemplo, o bloco descarta a participação da China, que hoje em dia é considerada como a segunda maior força econômica no mundo, o que subverte a própria ideia do grupo G7.

Rússia nunca mais voltará ao clube?

No período entre 1998 e 2014, o formato G7 foi substituído pelo G8, sendo que se alargou com a inclusão da Rússia, que acabou de assistir ao colapso do regime soviético e ao avanço das reformas progressistas dentro do espírito ocidental.

Porém, as turbulências políticas na Ucrânia e o consequente referendo na Crimeia sobre a reunificação com a Rússia, no qual o "sim" foi vitorioso, fez com que o grupo "se tenha desamigado" do país eslavo. Os participantes se recusaram a viajar para a cidade russa de Sochi, para onde estava marcado o evento e, em vez disso, decidiram conversar em Bruxelas. A partir daí o grupo voltou ao seu nome e formato original, ou seja, de G7.

Embora numerosos especialistas e até altos funcionários dos países integrantes tenham por várias vezes exigido o regresso do país eslavo, o bloco, particularmente a parte americana, continuou resoluto na sua postura.

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Sendo que incialmente as sanções contra a Rússia tenham sido introduzidas por iniciativa do ex-presidente americano Barack Obama, houve uma esperança que com a chegada do governo Trump algo mudasse. Porém, na véspera da cúpula de 2017, que se deu em 26 e 27 de maio, o atual secretário de Estado, Rex Tillerson, assegurou que a Rússia nunca voltaria ao grupo até que devolvesse a Crimeia ao governo ucraniano, o que representa uma continuidade com a política da administração democrata.

No entanto, o presidente russo Vladimir Putin já por várias vezes disse que a questão da Crimeia é um "assunto fechado" e não pode ser sujeito a quaisquer discussões, por isso parece que a Rússia não reintegrará o bloco em um futuro próximo, a não ser que os parceiros ocidentais mudem de retórica.

Grupo de potências econômicas sem um dos principais atores econômicos?

Claro que o mundo de hoje, caracterizado pela globalização, integração em todas as regiões e esferas, avanços tecnológicos e outros fenômenos, já não é aquilo que era em 1975, quando o dito formato foi estabelecido pela primeira vez.

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Porém, os países do bloco não parecem se apressar em modificar o formato e incluir, por exemplo, a segunda maior economia do mundo, isto é, a China. Muito pelo contrário, recentemente eles têm expressado ideias consideravelmente críticas em relação a este país asiático.

Para vários especialistas, tal política de exclusão dos países asiáticos mostra que o grupo visa preservar uma ordem mundial ultrapassada sem levar em consideração a conjuntura econômica de hoje.

Ultimamente, surgiu outra razão que gerou um clima de conflito entre o bloco e Pequim. Em seu comunicado conjunto, emitido em resultado da cúpula passada, os países-membros expressaram preocupação com a postura chinesa no âmbito das disputas no mar da China Oriental e no mar do Sul da China e se manifestaram contra quaisquer atos unilaterais.

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Em resposta, as autoridades chinesas sublinharam que sua abordagem dos respectivos conflitos marítimos sempre tem sido clara e lógica, aparentemente qualificando o comunicado do G7 como uma tentativa de imputar a culpa à China.

Por maiores que sejam as discordâncias entre os países ocidentais e a maior potência asiática, parece pelo menos estranho o fato de o país responsável por 16% do PIB mundial não fazer parte do bloco. Para vários analistas, isto pode ser explicado pela atitude protecionista dos países ocidentais e mostra que estes Estados se norteiam por princípios "obsoletos".

Um abismo cada vez maior entre Europa e EUA?

Surpreendentemente, a última cúpula do bloco G7 deixou à mostra novos problemas que parecem ter surgido com a chegada de um político excêntrico e pouco "tradicional" à Presidência dos EUA. Em sua primeira visita à reunião do grupo, Donald Trump não só conseguiu trazer à tona novos motivos para discordância com a Europa, mas também cometeu vários erros crassos de protocolo.

O fracasso mais doloroso do encontro foi, evidentemente, o fato dos países não conseguirem acordar um documento conjunto sobre as mudanças climáticas devido à postura cética americana. Trump sempre foi conhecido pela sua retórica bem dura em relação ao aquecimento global e outros problemas do ambiente que, na opinião dele, representam uma conspiração de empresas internacionais e não têm nada a ver com a realidade, e parece não ceder.

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Tal abordagem inflexível fez com que a chanceler alemã Angela Merkel avaliasse a cúpula como insatisfatória e assegurasse que os países europeus não podem mais contar com os EUA como seu aliado principal.

Consequentemente, há várias discussões em torno da reunião que decorreu, sendo que vários analistas prognosticam mesmo a gradual degradação do formato pela incapacidade de encontrar um consenso até entre os países participantes. Com efeito, se pode resumir que o atual mecanismo de negociação dentro do G7 está passando por uma espécie de crise que pode ser combatida exclusivamente com concessões bilaterais e uma visão mais aberta do mundo.

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