Na OEA, crises de Brasil e Venezuela têm pesos diferentes

© UGT/Fotos PúblicasMembros da OEA alegam que crise brasileira, ao contrário da Venezuela, é problema interno do país
Membros da OEA alegam que crise brasileira, ao contrário da Venezuela, é problema interno do país - Sputnik Brasil
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Uma simples reunião preparatória para acertar detalhes do encontro que a Organização dos Estados Americanos (OEA) terá no próximo dia 31, para tratar da crise na Venezuela, terminou em uma grande confusão depois que a chancelaria do Equador propôs que também fosse discutido na ocasião o agravamento da crise política no Brasil.

Representantes dos Estados Unidos, Canadá, Colômbia, Argentina, Chile, México, Paraguai e Uruguai se manifestaram contra a proposta, que foi recebida com indignação pelo embaixador brasileiro José Luis Machado, que repudiou o que classificou de "interpretações descabidas das nossas instituições democráticas". Segundo o diplomata brasileiro, a crise não apresenta qualquer alteração ou risco à ordem constitucional no Brasil. O representante da Argentina no organismo, Juan Arcuri, chegou a afirmar que o tema nem deveria ser considerado.

Ouvido pela Sputnik Brasil, o professor de Relações Internacionais da Universidade Católica de Brasília (UCB) Creomar de Souza entende que não dá para comparar o que acontece no Brasil e na Venezuela uma vez que, por mais que o Brasil passe por momentos de dificuldade política, as instituições continuam funcionando com regras claras, tentando dar respostas à crise.

"Na Venezuela, o que percebemos é uma falência das regras do jogo. Todos estamos chateados com o que aconteceu ontem em Brasília, mas isso não significa que o jogo parou de funcionar. No âmbito da OEA, o governo equatoriano é aliado da Venezuela, e isso faz com que haja um esforço em esvaziar qualquer debate que envolva uma contestação das práticas do governo Maduro", diz Creomar.

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"Hoje grande parte das América do Sul e da Latina, em um contexto mais macro, mostra dificuldades institucionais fortes com a diferença de que em alguns casos a regra do jogo funciona — ainda que em democracias de baixa qualidade, como é o caso brasileiro — e em outros se migrou para uma lógica um tanto ou mais autoritária, que é o que acontece na Venezuela hoje", raciocina Creomar. Na visão do professor da UCB, o isolamento internacional da Venezuela tem sido um processo contínuo que ele atribui à prática de relacionamento do presidente Nicolás Maduro para se manter no poder e se afastar de qualquer tipo de lógica que dê  espaço e voz aos grupos de oposição.

Creomar diz ainda que a intermediação do Vaticano na crise venezuelana não consegue dar resultados — ao contrário do êxito alcançado na aproximação entre o governo colombiano e as Farc — porque na Venezuela tanto governo quanto oposição adotam posturas cada vez mais radicais que inviabilizam qualquer proposta de diálogo.

"Qualquer ação de negociação envolve a vontade das partes, e, nesse aspecto, diferentemente do que aconteceu em Cuba, na Venezuela as partes chegaram a um momento no qual não há mais confiança para processos de negociação. Não importa qual seja o ente negociador do processo. As pontes de diálogo estão sendo construídas em vários âmbitos. A questão é: os entes não querem caminhar sobre a ponte", finaliza o professor.

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