Rodrigo, o Grande: Presidente das Filipinas descobre o caminho da multipolaridade

© REUTERS / CZAR DANCELO presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte
O presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte - Sputnik Brasil
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A recente conversa telefônica de Trump com o presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, o convite feito e a reação do último mostram que os princípios da política global estão mudando, opina o colunista da Sputnik, Dmitry Kosyrev.

Esta história é mais interessante do que pode parecer. O presidente dos EUA, Donald Trump, ligou para o presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, e, durante a ligação, convidou-o para Washington, chocando democratas, um pessoa do Departamento de Estado e funcionários da Casa Branca. Vale destacar que a resposta de Duterte sobre "estar ocupado e não poder dar promessas precisas" não é a única coisa interessante no desenrolar da história, pois, neste mês, Duterte está com viagem marcada para Moscou. O que mais interessa é o novo modo de organização da política global sem autorização prévia, que agrada muito à Rússia.

A receita do fracasso

Ligação de Trump para Duterte, conversa amistosa e convite ao homólogo filipino para visitar os EUA provocaram grande escândalo nos últimos dias nos EUA. A Administração norte-americana está repelindo ataques dos ativistas dos direitos humanos e outros democratas, para quem o presidente filipino é um verdadeiro diabo, liquidando quase pessoalmente traficantes sem se justificar no Tribunal.

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Mas quem disse que ele faz isso? Os mesmos ativistas de direitos humanos. Trata-se das pessoas que, durante muitos anos, pensavam que eram eles que controlavam a política externa dos EUA e de seus aliados. A política que se baseia no princípio de "promover direitos humanos em todos os cantos". Em todos os lugares ou, mais precisamente, onde os ativistas querem.

Claro que para isso é preciso criar por todo o mundo grupos locais deste sistema. Como resultado, a política externa dos EUA e do Ocidente era definida (ou pelo menos lançada) por grupos de pessoas que em cada país identificavam violadores dos direitos e se dirigiam às forças externas para pôr ordem no país. Já as últimas decidiam punir ou não punir.

Há uma semana mais ou menos, um jurista filipino com um nome parecido muito com Judas (Jude Josue Sabio, aqui está uma foto dele) apresentou em seu nome uma demanda ao Tribunal Penal Internacional (TPI), acusando Duterte e mais 11 oficiais de ter ordenado a morte de 9.400 pessoas nos últimos 30 anos. Geralmente, eliminam traficantes, mas também viciados e, às vezes, pessoas comuns por acaso. Acusações são ajustadas conforme o artigo "Homicídios em massa e crimes contra humanidade". Depois os casos são considerados pelo TPI.

Os responsáveis pela avaliação das acusações como justas ou não, pessoas que não sabem nem onde ficam as Filipinas, não são capazes de verificá-las.

Será que é mesmo tão fácil acusar uma pessoa de violação de direitos humanos? Basta iniciar um processo sem o vencer para aterrorizar até mesmo o presidente dos EUA. É desta forma que o fazem, por exemplo, agora Trump é "cúmplice moral de homicídios futuros" nas Filipinas.

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O problema é que esta política fracassou. Aqui está um exemplo: Narendra Modi foi acusado pelos ativistas de direitos humanos de não prevenir homicídios de muçulmanos no estado de Gujarat, quando ainda era governador do estado. Embora tenha sido absolvido pelo Tribunal da Índia, contra ele foram introduzidas sanções — proibição de entrada nos EUA, Reino Unido e alguns outros países.

No entanto, ele conseguiu entrar nestes Estados como premiê da Índia eleito pelo próprio povo, sendo o mais popular nas últimas décadas. Hoje, Modi é um dos líderes mais influentes do mundo. Mas, naquela época, queriam "exilá-lo".

E o que é que conseguiu os EUA e o Ocidente com esse sistema? Alcançaram a desconfiança total em relação a sua "política de promoção de direitos humanos", mesmo quando ativistas estão certos em alguns aspectos. 

Herói popular

Está completamente clara a posição dos ativistas quanto a Duterte, assim como quanto a Trump, "amigo de todos os autocratas do mundo". Mas vale mencionar a opinião dos próprios filipinos. Aqui tem um dos recentes comentários em relação à demanda ao TPI, que contém a mesma pergunta: e o que nós, filipinos, achamos? Ninguém quer saber.

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Então, decidiram perguntar a si mesmos. Há dez meses, Duterte assumiu o poder. Pesquisas recentes (de março) mostram que 76% dos filipinos confiam na politica dele e 78% aprovam-na. Quer tenha o povo razão, quer não, ele está sem dúvidas a favor das sentenças sem julgamento.

O autor do comentário conclui o texto com a seguinte frase: "Afinal de contas, é o povo das Filipinas que deve decidir o que fazer com a guerra contra tráfico de drogas. Mas precisamos começar a discutir esse problema o mais rápido possível, antes de mais um sabichão solicitar para que a ONU envie pacificadores para ocuparem nosso país."

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Mas ninguém enviará pacificadores. Rodrigo (também conhecido como Rody) é um excelente personagem no palco internacional, tendo insultado todos que não concordam com ele, inclusive Barack Obama, sem ser punido. Melhor ainda: ele e sua equipe até ganharam através da diplomacia correta, pois fecharam aliança com o Estado que deveria ser inimigo deles de acordo com os planos dos EUA — com a China. Até o início do verão está prevista uma visita de Duterte a Moscou, acordos estão em andamento.

Em ambos os casos, trata-se das relações na área militar, entre outras. Em janeiro, o porto de Manila recebeu navios russos: a recepção não poderia ter sido melhor. Já há uns dias, ao porto de Davao, no sul do país, chegou um navio de guerra chinês. Duterte não só o recebeu como subiu no navio.

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As Filipinas são um dos países mais pró-americanos do mundo no que diz respeito ao estilo de vida. Por isso, não se deve esperar que Duterte vá prejudicar as relações com os EUA. Mas existem dois EUA — o país democrático (de Obama, de Clinton, dos cínicos ativistas de direitos humanos) e o outro a favor de Trump. A chegada de Duterte ao poder não é uma revolução antiamericana. Ele venceu as eleições contra um candidato pró-Clinton e não pró-americano. Mas com Trump e com os EUA de Trump não há briga e as Filipinas podem se tornar até mesmo parceiros dos mesmos, como exemplo, a ligação telefônica da Casa Branca para as Filipinas e a conversa de parceiros.

O mundo está se distanciando da política de globalização agressiva rumo a um grupo, ainda mal organizado, de países com peculiaridades distintas. Isto é, está acontecendo o que antes predizia e promovia a diplomacia russa, ou seja, a multipolaridade.

Como será realizado este processo nas Filipinas? Em minha opinião, Duterte, esse personagem bem notável, conseguirá travar amizade com os EUA, com a China e com a Rússia ao mesmo tempo (alguém pode desaprovar, menos Moscou). Creio também, que quase todos os países do mundo se aproximarão das Filipinas, dependendo da geografia e outras certas circunstâncias. Muito inesperadamente, Duterte descobriu o caminho da diplomacia da nova época. 

Dmitry Kosyrev para a Sputnik

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