Vai encarar? Analistas da RAND recomendam um ataque contra a Rússia em Kaliningrado

© Sputnik / Mikhail Voskresensky / Acessar o banco de imagensSistema de mísseis antiaéreos S-400 Triumph em funcionamento
Sistema de mísseis antiaéreos S-400 Triumph em funcionamento - Sputnik Brasil
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No contexto de uma presença reforçada da OTAN na Europa Oriental e de preparativos para novos exercícios nas fronteiras russas, analistas da RAND Corporation, um influente grupo analítico norte-americano, recomendou ao Pentágono que considere opções para a "neutralização" dos sistemas militares russos em Kaliningrado.

Sputnik conversou com especialistas russos sobre essas "recomendações".

O relatório da RAND Corporation alega que o Departamento de Defesa norte-americano precisa ter "uma visão clara do papel que Kaliningrado…com suas fortes defesas antiaéreas" desempenhará em caso de uma guerra na região do Báltico, bem como dos passos que a OTAN poderia tomar para neutralizar o enclave russo na Europa.

O relatório admite que "toda tentativa de neutralização de Kaliningrado traz à tona a questão de escalada e da potencial resposta russa ao que o país consideraria como ataque ao seu território".

Estranhamente, o relatório não esclarece por que a reação russa deveria ser diferente. Afinal, a região é internacionalmente reconhecida como território da Rússia.

Sistema de mísseis Iskander-M durante o desfile de equipamento militar no polígono de Alabino no Fórum militar EXÉRCITO 2016, região de Moscou, Rússia, setembro de 2016 - Sputnik Brasil
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Enquanto isso, a Rússia também se defronta com a implantação de novas guarnições permanentes da OTAN nos países bálticos ao longo de suas fronteiras, além de exercícios militares intensificados. Segundo o ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, a presença da OTAN nas fronteiras da Rússia aumentou cerca de 800% na última década.

Comentando o relatório, bem como o número de reportagens na mídia ocidental e de publicações especializadas recentemente sobre o potencial de uma guerra entre os EUA e a OTAN com a Rússia, o observador militar Alexander Khrolenko lembrou que o Ocidente "de forma teimosa e consistente analisa as opções para essa guerra" há muitos anos. Somente altera os seus cenários geográficos entre o Báltico, a Síria, os Balcãs, e até mesmo a Ucrânia.

"De acordo com a maioria dos analistas ocidentais, a Rússia simplesmente não parece ter um caminho de desenvolvimento pacífico", lamentou o jornalista. O Kremlin, na opinião do Ocidente, sempre deve estar planejando uma guerra em algum lugar, e isso requer uma resposta ocidental apropriada.

Ao mesmo tempo, Khrolenko observou, os cenários para este "duelo de 'dois mundos' quase nunca consideram a possibilidade de uma guerra nuclear", presumivelmente porque haveria pouco para escrever sobre, se o mundo fosse consumido por uma tal guerra. "Na maioria das vezes, os analistas ocidentais ocupam o seu tempo calculando as capacidades das armas convencionais" dos dois lados.

E esses tipos de relatórios são realmente volumosos. Os observadores dedicam tempo discutindo a ameaça representada pelos mísseis de cruzeiro russos, sua artilharia de foguetes e tanques, bem como o perigo apresentado pela defesa aérea contra os jatos F-22 e F-35 dos EUA. Comentando o último, Khrolenko brincou que "se os F-35s e F-22s não tentarem voar para a Rússia, eles não serão ameaçados por qualquer defesa aérea".

"Depois de ler tais relatórios, a gente fica com a impressão de que os ocidentais na verdade vivem sonhando com a oportunidade de um confronto militar com a Rússia, ou mesmo querem provocar Moscou para uma guerra", observou o analista.

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A verdade, escreveu Khrolenko, é que a Rússia está preparada para responder qualquer provocação. Isso só acontecerá, entretanto, somente no caso de uma agressão estrangeira.

No início deste mês, o tenente-general Viktor Gumenny, vice-comandante da Força de Defesa Aeroespacial russa, disse que "por uma especificidade da posição geoestratégica da Rússia, a principal ameaça à sua segurança militar provém das forças aéreas e espaciais de estados estrangeiros. As últimas décadas mostraram que uma guerra não pode ser resolvida apenas pela defesa. O mesmo se aplica também à esfera aeroespacial da luta armada".

O analista Khrolenko concordou e explicou que "em caso de agressão, a Força de Defesa Aeroespacial da Rússia desempenhará um caráter ofensivo. Tarefas prioritárias incluirão a supressão dos sistemas de controle de aviação de um inimigo", incluindo a destruição de sistemas de satélites inimigos. A Rússia estará lançando em breve a sua mais nova plataforma de defesa aérea, a S-500. Trata-se de um sistema de mísseis terra-ar, que será capaz de atingir satélites inimigos a partir do solo.

"Sem GPS, Tomahawks não serão capazes de voar muito longe", concluiu o especialista.

Por sua vez, o analista militar independente, Vladimir Tuchkov, enfatizou que o mais importante a ser considerado na análise da RAND é que, embora se posicione como uma ONG sem fins lucrativos, a organização recebe uma parte significativa de seu orçamento de US $ 250 milhões do governo dos EUA. Uma ferramenta analítica importante durante a era da Guerra Fria, a organização tem servido há muito tempo para "lubrificar as partes móveis da maquinaria" do complexo militar-industrial dos EUA.

Segundo Tuchkov, "não é a Rússia que ameaça o Ocidente, mas o contrário; a Rússia começou a fortalecer a defesa de suas fronteiras ocidentais somente depois que o Ocidente, de forma unilateral, ampliou o poderio militar da OTAN nas nossas fronteiras".

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O especialista afirmou não poder deixar de mencionar a criação e o desenvolvimento do sistema europeu da escudo antimísseis. Esse sistema foi originalmente apresentado a Moscou como uma iniciativa destinada a combater a "ameaça nuclear iraniana". O seu desenvolvimento continuou, no entanto, mesmo depois do acordo nuclear iraniano ter sido assinado.

As recomendações da RAND possuem um caráter ofensivo óbvio, observou Tuchkov, uma vez que qualquer "neutralização" de Kaliningrado significaria a destruição subsequente da infraestrutura militar e a ocupação do enclave.

Em última análise, Tuchkov explicou que a OTAN tem razão de se preocupar com as capacidades militares russas em Kaliningrado. A região conta com três regimentos de S-300, um regimento de S-400 e um sistema de radar Voronezh-DM, capaz de monitorar o espaço aéreo de até 6.000 km de distância (isto é, em toda a Europa, incluindo o Reino Unido). O S-400 pode atingir alvos a 400 km de distância. A base aérea 7054 da Força de Defesa Aeroespacial russa também fica localizada na região, e conta com proteção de sistemas Buk e Pantsir.

É preciso deixar claro, nesse caso, segundo o perito, que a Rússia age no âmbito de sua própria jurisdição. "Nenhum tratado internacional proíbe a Rússia de estabelecer as defesas que julgar necessárias em qualquer lugar dentro de nossos territórios", observou.

Em outras palavras, organizar um enorme acúmulo de forças militares nas fronteiras da Rússia e depois reclamar dos perigos representados pelas armas russas — estacionadas na Rússia — parece um pouco hipócrita, para dizer o mínimo.

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