Maior jornal dos EUA publica coluna autoral que apela a 'deixar de lutar contra Daesh'

© REUTERS / StringerForças líbias leais ao governo apoiado pela ONU se preparam para tomar prédios universitários durante uma batalha contra militantes do Daesh em Sirte, Líbia, 10 de agosto, 2016.
Forças líbias leais ao governo apoiado pela ONU se preparam para tomar prédios universitários durante uma batalha contra militantes do Daesh em Sirte, Líbia, 10 de agosto, 2016. - Sputnik Brasil
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Em seu blog, o colunista independente Seth Frantzman revela como, em sua opinião, a edição The New York Times de fato "apoiou o Daesh na Síria" em uma das suas recentes matérias, apelando para que Trump deixasse de combater esta organização terrorista.

O artigo, escrito pelo jornalista Thomas Friedman e intitulado "Por que Trump está lutando contra Daesh na Síria", afirma que o presidente dos EUA, Donald Trump, deve permitir que o Daesh seja uma "dor de cabeça para Assad, Irã, Hezbollah e Rússia".

Além disso, o colunista traça um paralelo entre o grupo islamista "com traços de nazismo", sendo que este trava uma política de genocídio em relação aos yazidis, e os mujahidin que "os EUA encorajaram a derramar sangue russo". Vale ressaltar que os EUA, com efeito, gastaram centenas de milhões de dólares em apoio aos mujahidin.

O autor do artigo, publicado no The New York Times, começa sua matéria se perguntando: "Por que o nosso objetivo hoje em dia deve ser derrotar o Daesh na Síria? Claro que o Daesh é detestável e deve ser erradicado. Mas será que é realmente do nosso interesse nos estarmos focando agora somente em derrotar o Daesh?"

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Além disso, Friedman afirma que o Daesh "está controlando áreas no Iraque ocidental e grandes setores na Síria. Seu objetivo é derrotar o regime de Bashar Assad na Síria, bem como seus aliados russos, iranianos e do Hezbollah, e derrotar o regime xiita pró-iraniano no Iraque, substituindo ambos por um califado".

Porém, o blogueiro rebateu, observando que não há evidências que o Daesh tenha gasto a maior parte dos seus recursos na luta contra Assad. Em vez disso, assinala Frantzman, ele gastou a maior parte dos recursos no combate contra os curdos, na perseguição de minorias, explosão de santuários e lugares históricos, bem como crimes contra a humanidade de toda a espécie.

Além disso, "o Daesh minou a rebelião síria ao lutar contra outros grupos rebeldes na Síria", realçou.

De fato, o autor do artigo em questão diz abertamente que os EUA não devem facilitar o trabalho aos outros países assumindo o papel de líder na causa. Assim, Friedman diz:

"Poderíamos simplesmente nos afastar do combate territorial contra o Daesh na Síria e torná-lo um problema apenas do Irã, da Rússia, do Hezbollah e de Assad. Afinal, foram eles mesmos que ultrapassaram o limite na Síria, não fomos nós [os EUA]. Façam-nos travar uma guerra em duas frentes — contra os rebeldes moderados por um lado e contra o Daesh por outro. Se os EUA derrotassem o Daesh na Síria agora mesmo, apenas reduziríamos a pressão sobre Assad, o Irã, Rússia e Hezbollah, lhes permitindo alocar todos os recursos para eliminar os restantes rebeldes moderados em Idlib sem partilhar o poder com eles."

O blogueiro e "adversário" online do autor, por sua vez, desmente tais declarações, adiantando que os maiores grupos que o Daesh tem combatido na Síria ao longo de dois anos e meio são as YPG (Unidades de Proteção Popular) curdas e as Forças Democráticas Sírias. Porém, Friedman, o jornalista do NYT, prefere simplesmente ignorá-los.

Como prova, o jornalista independente publica uma captura de tela com um mapa no qual se vê que a frente de combate mais extensa que o Daesh tem é com os curdos (entre a zona amarela — curda — e negra, ou seja, jihadista). As fronteiras com as zonas controladas por Assad, por sua vez "são deserto aberto", por isso "Assad não investiu recursos sérios na luta contra o Daesh", bem como o Daesh também não o fez contra ele.

© Foto / Captura da tela do site Liveumap.comMapa no qual se vê que a frente de combate mais extensa que o Daesh tem é com os curdos
Mapa no qual se vê que a frente de combate mais extensa que o Daesh tem é com os curdos - Sputnik Brasil
Mapa no qual se vê que a frente de combate mais extensa que o Daesh tem é com os curdos

Frantzman se indigna, dizendo que "é difícil acreditar que isto tenha aparecido no maior jornal ‘mainstream' do país". O jornalista se pergunta se "ninguém aprendeu que a tragédia do Afeganistão se deu, em certa parte, por causa do apoio dos americanos que se foram, abandonando os mujahidin e permitindo que o Talibã se apoderasse do Afeganistão".

O blogueiro faz questão de lembrar que o Daesh não representa um islamismo "moderado", não é como a Irmandade Muçulmana ou o Hamas, nem mesmo como a Frente al-Nusra (Al-Qaeda na Síria).

"Eu estive há pouco em Qaraqosh no Iraque e vi o que o Daesh fez às igrejas lá, onde ele as destruía sistematicamente. Este é o rosto do Daesh", partilha o blogueiro e publica um vídeo gravado por ele próprio.

Ele também destaca que a abordagem da edição é, não meramente "cínica", mas igual a "dizer que os EUA deveriam ter abrandado a pressão contra os nazis para deixar sangrar a União Soviética".

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