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#MeuProfessorRacista: Estudantes negros denunciam racismo em campanha na internet

© Divulgação/Ocupação PretaIntegrantes do coletivo Ocupação Preta invadem as salas de aula para denunciar o racismo na USP
Integrantes do coletivo Ocupação Preta invadem as salas de aula para denunciar o racismo na USP - Sputnik Brasil
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Alunas e alunos negros que estudam na USP – Universidade de São Paulo, que integram o coletivo Ocupação Preta estão realizando uma campanha virtual através da hashtag #MeuProfessorRacista, para alertar nas redes sociais o racismo e outras situações humilhantes e de assédio que são vividas pelos estudantes negros.

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A campanha do movimento coletivo Ocupação Preta ganhou mais repercussão no mês passado a partir de um caso ocorrido durante uma aula na Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP), onde se discutia a questão do preconceito nas marchinhas de carnaval racistas e o racismo nas obras do escritor Monteiro Lobato, e a professora que ministrava a aula teria dado um tom de chacota na discussão.

Em entrevista exclusiva para a Sputnik Brasil, Emerson, um dos integrantes do coletivo Ocupação Preta, que pediu para não ser totalmente identificado para não sofrer represálias dos professores e da reitoria da USP, contou que o movimento teve início há dois anos, na luta por cotas para negros estudarem na Universidade de São Paulo.

"O coletivo surgiu há dois anos em uma campanha pró cotas na Universidade de São Paulo. A USP foi processada em 2007 e condenada pelo Ministério Público a abrir as portas da Universidade, a incluir alunos negros e pobres. Foi uma ação do Ministério Público diante da elitização da USP. Dez anos depois, em 2017 o número de alunos negros é de apenas 7% dentro da Universidade de São Paulo. Se pensamos no quadro de professores não chega a 3% de professores negros. Isso em um país em que mais de 50% da população é de negros e pardos."

© Divulgação/Ocupação PretaOs estudantes em protesto pelas Cotas na USP para os negros e pobres
Os estudantes em protesto pelas Cotas na USP para os negros e pobres - Sputnik Brasil
Os estudantes em protesto pelas Cotas na USP para os negros e pobres

Diante da situação, Emerson explicou que o coletivo Ocupação Preta vem realizando uma série de atividades e ações de protestos para cobrar o respeito às cotas e contra a discriminação dos negros na USP.

"Há mais ou menos dois anos nós decidimos fazer uma série de ações dentro da Universidade, entrando nas salas de aula e ocupávamos 50% das salas, por isso Ocupação Preta o nome, e questionávamos os professores que em todas as universidades públicas do país essa é a quantidade de alunos negros dentro da sala de aula, quando sairmos a sala vai ficar quase que exclusivamente branca, e o que vocês estão fazendo sobre isso? E porque nada está sendo feito sobre isso?"

Veja o vídeo de uma das intervenções já feitas pelo Ocupação Preta contra o racismo na USP.

Segundo o estudante integrante da Ocupação Preta, os alunos negros da USP vem denunciando pela #MeuProfessorRacista as diversas agressões que sofrem, como reprovação, ameaças de expulsão.

"A gente sofre os mais diversos casos. A hashtag tem sido muito importante para podermos mapear os problemas, mas tem de tudo desde os alunos que vão ser reprovados ou colocados de recuperação, porque defendem questões negras dentro da sala de aula e questionam os professores do porque eles não falam sobre pessoas negras e pobres. Temos alunos que sofrem ameaças de expulsão, acusados de terem emprestados carteirinha para outros alunos. Em outro caso, a professora pede para o aluno negro se sentar no fundo da sala de aula, porque o cabelo black está atrapalhando e muitos alunos são perseguidos."

Além das manifestações dentro da USP, Emerson também falou sobre as ações que o coletivo Ocupação Preta leva para a fora da Universidade por acreditar que a instituição pertence a todas as pessoas sem distinção como faz com o negro. "Nós temos o entendimento que a Universidade é pública e a USP deve ser de todas as pessoas. Esses posicionamentos racistas da USP são os que fazem que a Universidade não seja da população pobre. Por isso sempre tentamos levar o assunto para fora. Em segundo lugar, o racismo é uma questão nacional. Nós somos o país que mais escravizou e por mais tempo e fomos o último país a abolir a escravidão. Até hoje temos a maioria das pessoas negras trabalhando em serviços que são exploradas."

© Divulgação/Ocupação PretaSegundo o coletivo Ocupação Preta, cotas foram só o começo da luta, agora os racistas não passarão
Segundo o coletivo Ocupação Preta, cotas foram só o começo da luta, agora os racistas não passarão - Sputnik Brasil
Segundo o coletivo Ocupação Preta, cotas foram só o começo da luta, agora os racistas não passarão

Segundo Emerson, muitos dos professores que formaram a Universidade de São Paulo eram filhos de ex-escravizadores, muitos defendiam ações como esterilizar mulheres negras, defendiam ações para trazer mulheres brancas para o Brasil e assim apagar o sangue negro. O estudante atenta que hoje a Universidade continua sem discutir a questão do racismo, mesmo após ter sido processada.

"A Universidade segue nessa lógica, sem nenhuma discussão sobre racismo, ou alguma tentativa de incluir a população negra. Hoje, em 2017 depois da USP ter sido processada ainda temos apenas 7% dos alunos negros e a universidade não toma medidas a respeito disso. Por isso tentamos sempre levar nossas ações para fora porque é uma discussão e uma briga que é de todo mundo."

Diante de um longo debate que ainda terão pela frente, Emerson diz que a mensagem do Ocupação Preta para os estudantes negros que sofrem com o racismo e o abuso dos professores no meio acadêmico é se unirem para denunciar as perseguições. "A grande mensagem que queremos deixar é formem coletivos, vocês não estão sozinhos. Procurem outros amigos e amigas negros, procurem pessoas mais velhas negras, que são e não são da militância e tentem denunciar. É sempre importante tentarmos nos proteger das perseguições e sempre fundamental nós denunciarmos, não nos calarmos. A hashtag prova isso, pois não é um caso de racismo ou perseguição, são milhares. Não se silenciem, nós somos a maioria no país e não podemos nos calar diante de nenhuma dor."

Desde o dia 16 de dezembro de 2015, o Governo Federal lançou o serviço Disque 100, que recebe denúncias de violações de direitos humanos, como violações contra a juventude negra, mulher ou população negra em geral e também recebe denúncias de violações contra comunidades quilombolas, de terreiros, ciganas e religiões de matriz africana. 

Pela hashtag #MeuProfessorRacista os alunos negros denunciam sua dor.

Veja abaixo alguns exemplos:

 

Desde o dia 16 de dezembro de 2015, o Governo Federal lançou o serviço Disque 100, que recebe denúncias de violações de direitos humanos, como violações contra a juventude negra, mulher ou população negra em geral e também recebe denúncias de violações contra comunidades quilombolas, de terreiros, ciganas e religiões de matriz africana. 

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