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Governo brasileiro agora corre para tirar o boi da sombra

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Os estragos na exportação de carne brasileira não param de crescer. Da última sexta-feira, quando foram divulgadas as primeiras notícias da Operação Carne Fraca, deflagrada pela Polícia Federal em vários estados, até quarta-feira, 22, a média diária de embarque de carnes caiu de US$ 63 milhões para US$ 74 mil segundo dados do próprio governo.

Até esta quinta-feira, 10 países — África do Sul, Argélia, China, Hong Kong, Egito, Jamaica, Japão, México, Suíça e Trinidad Tobago — suspendaram as compras, enquanto a União Europeia suspendeu a importação de quatro unidades de produção. O governo estima que o Brasil deverá ter um prejuízo de até US$ 1,5 bilhão devido ao escândalo e que a participação do país no mercado mundial deve diminuir 10%. Segundo o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, o Brasil exportou US$ 13,4 bilhões em carnes para 137 países no ano passado. Na opinião de vários especialistas em comércio exterior ouvidos pela Sputnik Brasil, o grande desafio agora é qual será a estratégia que o governo deve adotar para recuperar a credibilidade da carne brasileira no mercado externo.

O coordenador de Defesa Agropecuária da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA Brasil), Décio Coutinho, reconhece que o estrago feito no agronegócio já está feito. O importante agora, segundo ele, é olhar para frente e começar um amplo trabalho de convencimento não só junto ao público interno mas também junto aos países importadores.

"Temos um caso pontual que está causando um prejuízo sem precedentes  para a pecuária brasileira. A produção da matéria-prima não está questionada neste momento, é uma matéria-prima de altíssima qualidade, entregue para o processo de industrialização dentro dos critérios de sanidade de produção da mais alta qualidade. A gente vai ter que mostrar aos países importadores que esse produto continua sendo de qualidade e que tanto a indústria quanto o governo mantêm as garantias que já foram dadas e que serão mantidas, expurgados aqueles que vierem indicados como culpados dentro do processo", afirma o coordenador.

Na opinião de Coutinho, empresas e governo devem procurar esses mercados importadores para explicar a situação. Ele lembra ainda que a maioria dos países que suspenderam a importação o fez em relação apenas aos 21 frigoríficos que estão sendo investigados. 

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"Para nós, o mais importante não é apenas a reabertura de mercado, precisamos trabalhar novamente a imagem do produto brasileiro junto ao consumidor interno e externo. O mais preocupante é se aproveitar das oportunidades para renegociar preço, e isso é uma coisa muito utilizada dentro do comércio nacional como internacional. Vamos ter que fazer uma grande cruzada de mãos dadas, produtores, indústria e governo para descaracterizar essa grande mácula que foi feita da imagem de nosso produto", diz o coordenador de Defesa Agropecuária da CNA Brasil.

José Meireles, consultor da Associação Brasileira de Consultores de Comércio Exterior (Abracomex), é outro especialista que concorda que a recuperação de imagem da carne brasileira vai exigir um esforço concentrado em várias frentes. Para ele, a forma como foi feita a divulgação da Operação Carne Fraca impactou fortemente na opinião pública mundial e os reflexos podem se estender para as exportações brasileiras como um todo. 

"Há uma falta de credibilidade na instituição brasileira no que se refere à certificação de qualidade. Se ela fosse mantida, certamente o caso seria pontual, mas eles generalizaram e passou a ser um caso mais abrangente. A reação foi oportuna, rápida, mas talvez não tivesse sido feita da melhor forma."

O consultor da Abracomex observa que o surgimento dessas denúncias não poderia vir em pior hora, na medida em que, desde o final do ano passado, Brasil e União Europeia avançaram bastante nas negociações de aproximação comercial e estavam a um passo de um acordo que é perseguido há mais de duas décadas. Meireles lembra que um dos maiores pontos de resistência ao acordo entre os europeus eram as commodities agropecuárias. Países como França, Irlanda e Holanda, que têm fortes políticas de subsídios aos produtores rurais, temiam perder mercado com a chegada de grandes produtores como Brasil, Argentina e Uruguai.

"Esses lobbies, que são muito poderosos na Europa, começaram a utilizar esse fato para generalizar o problema e de alguma forma tirar vantagem. É normal em comércio. Temos que ter capacidade e competência para saber como reagir a esses percalços", diz Meireles, citando como exemplo positivo o sistema de recall adotado pelas montadoras no Brasil ao constatarem algum defeito em seus modelos: reconhecimento do erro e convocação dos envolvidos para reparo.

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