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Em índice de desenvolvimento da ONU, Brasil fica atrás até da Venezuela

© Rovena Rosa/Agência BrasilBrasil permanece estagnado em ranking do IDH
Brasil permanece estagnado em ranking do IDH - Sputnik Brasil
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Cientistas sociais ouvidos pela Sputnik Brasil atribuem às desigualdades sociais do Brasil o fato de o país ter ficado estagnado, pela primeira vez desde 2010, no ranking da Organização das Nações Unidas (ONU) que mede o chamado Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).

No relatório divulgado pela entidade, relativo a 2015, o Brasil ocupa a 79ª posição numa lista de 188 países. Na América do Sul, o país ficou atrás até da Venezuela, colocada na 71ª posição, e só superou o Paraguai, no 110º lugar. O IDH leva em consieração três grandes grupos de avaliação: saúde (expectativa de vida), conhecimento (média de anos de estudo) e padrão de vida (renda nacional bruta per capita). Segundo o relatório, a perda de renda observada em 2014 e 2015 foi a principal responsável pelo desempenho do Brasil. Na visão dos entrevistados, o relatório de 2016 não deve trazer bons prognósticos, após o Produto Interno Bruto (PIB) ter encolhido 3,8% em 2015 e 3,6% no ano passado.

Na opinião do cientista político Ricardo Ismael, também professor da PUC-RJ, os números preocupam, porque o Brasil, em relatórios anteriores — principalmente na década passada, quando havia um crescimento econômico sustentável — sempre se mantinha na faixa se encontrava na faixa dos primeiros 70, sempre melhorando. O cenário para ele agora é outro.

"Além de manter uma posição desconfortável, o valor mostra que o Brasil não avançou depois de muitos anos. O relatório mostra que isso se deveu em função do crescimento econômico. A gente sabe que em 2015 houve uma queda do nosso PIB em 3,8%. Houve um pequeno avanço em saúde e educação, mas a queda no rendimento per capita terminou fazendo com que o Brasil permanecesse estagnado, o que é uma notícia ruim. Quando chegarem os números de 2016, a expectativa é que não haverá também melhoras", diz.

Para Ismael, o problema é como virá a classificação face à crise econômica vivida pelo país também no ano passado, considerada a pior da sua história. Ele lembra que só há registro de dois anos seguidos de recessão no Brasil, e isso lá no início dos anos 30 e mesmo assim não na atual dimensão. Nos cálculos dos especialista, se for somad em 2014, 2015 e 2016 a queda da renda per capita do brasileiro chega a 11%.

O relatório da ONU aponta ainda que, apesar das melhoras nos últimos anos, o tempo médio de escolaridade do brasileiro chegou a 7,8 anos em 2015, abaixo da registrada nos países-membros do Mercosul e dos BRICS. No tocante à saúde, a expectativa de vida do brasileiro passou de 73,3 anos em 2010 para 74,7 anos em 2015. O maior tempo de vida, contudo, não é sinônimo de melhor qualidade de vida, principalmente agora com as profundas reformas pretendidas pelo governo na Previdência Social.

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Já na opinião do cientista político Luciano Dias, consultor de diversas entidades, entre elas a Fundação Milton Campos, a estagnação do Brasil no IDH passa para o governo um recado trivial: para um país com as características do Brasil, marcadas por grandes desigualdades e por uma organização deficiente dos serviços básicos do Estado, é fundamental a existência de taxas elevadas de crescimento econômico, o que reduz, por vias transversas, a desigualdade, reequilibrando um pouco a distribuição de renda.  

"A tragédia brasileira é essa. É uma sociedade profundamente desigual, e os mecanismos de crescimento social, sem o crescimento econômico, ficam muito prejudicados e são marcados por uma rápida reversão. É bem provável que os números do próximo ano sejam ainda piores em função da recessão, da crise que afeta a receita dos governos estaduais e a qualidade dos serviços que oferecem. Vivemos nesses últimos dois anos uma verdadeira tragédia econômica provocada pela política econômica do governo Dilma", diz o especialista.

Dias observa que, embora a sociedade se beneficie de alguns serviços que contribuem para uma expectativa de vida mais elevada (saúde, vacinação, água tratada e saneamento), o número da educação é vergonhoso.

"Sete anos de escolaridade do Brasil, na média, é um país de ginasianos, um país com uma compreensão mínima do que é ciência, de elaboração de texto e de compreensão da língua portuguesa. Esses números são uma tragédia."

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