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PF desarticula esquema de venda ilegal de carnes com propinas para PMDB e PP

© Sputnik / Ruslan Krivobok / Acessar o banco de imagensCarcaças de carne no frigorífico
Carcaças de carne no frigorífico - Sputnik Brasil
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A Polícia Federal desarticulou nesta sexta-feira (17) uma organização criminosa, liderada por fiscais agropecuários federais e cerca de 40 empresas do agronegócio, que atuava em seis estados e no Distrito Federal.

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A ação batizada de Operação Carne Fraca, contra a venda ilegal de carnes teve como alvos principais as grandes empresas JBS e BRF Brasil, que são acusadas de pagamento de propina para a liberação de licenças e fiscalização irregular de frigoríficos. A BRF Brasil, controla marcas como Sadia e Perdigão. Já a JBS, é a detentora de marcas, como Friboi, Seara e Swift. 

Segundo a Polícia Federal, no esquema estão envolvidos ainda frigoríficos menores no Paraná e em São Paulo.

1100 policiais cumprem 309 mandados judiciais, sendo 27 de prisão preventiva, 11 de prisão temporária, 77 de condução coercitiva e 194 de busca e apreensão, em residências e locais de trabalho dos investigados e em empresas supostamente ligadas ao grupo criminoso, números que fazem desta a maior operação já realizada pela Polícia Federal em toda sua história. As ordens judiciais foram expedidas pela 14ª Vara da Justiça Federal de Curitiba/PR e estão sendo cumpridas em 7 estados: São Paulo, Distrito Federal, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Goiás. 

Em coletiva de imprensa realiza na sede da Polícia Federal em Curitiba (PR), o delegado da Polícia Federal, Maurício Moscardi Grillo, informou que durante as investigações que duraram dois anos, o esquema ilegal de venda de carne contava com o pagamento de propina para partidos políticos, como o PMDB, partido do presidente Michel Temer e o PP.

"Dentro da investigação ficava bem claro que uma parte do dinheiro da propina era sim revertido para partidos políticos. Já foi falado ao longo da investigação, que dois partidos ficavam claros, que é o PP e o PMDB. Que é o período de dois anos de investigação que isso era mais claro. Não sei se eventualmente um esquema ligado a partidos ocorrida há mais tempo e também não ficava caraterizado para nós para qual político ia especificamente ia todo o dinheiro. O que fica bem claro na investigação é que havia um dinheiro que era destinado para partidos, um dinheiro da corrupção, mas não conseguimos detectar exatamente o motivo."

Segundo a Polícia Federal, os fiscais recebiam propinas para emitir certificados sanitários sem que a fiscalização tivesse sido feita efetivamente. Uma das fraudes realizadas era o uso de substâncias químicas para ocultar odores de carnes já estragadas, mas que foram comercializadas.

Segundo o delegado da Polícia Federal, eram usadas nas carnes substâncias cancerígenas em quantidades cinco vezes maiores que o permitido para encobrir a degradação da carne. "Eles usavam ácidos e outras substâncias da carne para maquiar essa imagem ruim, que ficaria se por acaso ela fosse exposta dessa forma. Então, se usa substâncias, inclusive cancerígenas. Um desses produtos eram multiplicados cinco, seis vezes para que não dê cheiro e que o aspecto e cor fiquem bom também."

A Polícia Federal informou que as Superintendências Regional do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Paraná, Minas Gerais e Goiás atuavam diretamente para proteger grupos empresariais, em detrimento do interesse público. 

O delegado Maurício Moscardi Grilo acredita que são grandes as chances de carne de baixa qualidade ou abaixo das especificações terem sido consumidas por todo o Brasil.

"É possível que sim. É possível que tenhamos consumido alimentos de baixa qualidade. Talvez não a (carne) estragada, mas com qualidade inferior do que deveria ser realmente fornecido para uma pessoa, atendendo as qualificações técnicas que são estipuladas pelo ministério da Agricultura. A questão não é se está estragada (a carne) ou não, a questão é não atingir o patamar necessário, a qualidade técnica que se exige em um alimento."

Até o início da tarde, dos 34 funcionários públicos federais investigados, pelo menos 20 já foram presos na operação.  Também foram presos dois executivos da BRF e um da JBS. O gerente de Relações Institucionais e Governamentais da BRF Brasil, Roney Nogueira dos Santos e o diretor da BRF André Luis Baldissera; além do funcionário da Seara, empresa da JBS, Flávio Evers Cassou. 

Através de escutas telefônicas, as investigações da Polícia Federal apontaram que os frigoríficos vendiam a carne fora da validade não só no país, mas também exportava. O esquema no Paraná era chefiado pelo ex-superintendente regional do ministério, Daniel Gonçalves Filho, além da chefe do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Dipoa), Maria do Rocio Nascimento, que atuam em Curitiba.  Já na residência do atual superintendente regional do Ministério da Agricultura, Gil Bueno, foram apreendidos pela Polícia esta manhã R$ 65 mil. Foi pedida a prisão preventiva dos três.  

O delegado da Polícia Federal informou ainda, que o atual Ministro da Justiça Osmar Serraglio (PMDB), também foi citado na operação, mas não foi identificado nenhuma ação ilícita o envolvendo. Ele seria padrinho político de um dos envolvidos. Em nota, o ministro afirmou que soube da operação da Polícia Federal, nesta sexta-feira, e como qualquer cidadão tomou conhecimento que seu nome havia sido citado na investigação, e que a conclusão é de que não há indícios de ilegalidades na conversa dele gravada. O ministro se referiu à transcrição de uma conversa em que chamava Daniel Gonçalves Filho de "grande chefe". 

Na Bovespa, as ações da JBS e BRF despencaram perto de 8 por cento por volta das 12h25.

Em comunicado o site da empresa, a JBS afirma que "repudia veementemente qualquer adoção de práticas relacionadas à adulteração de produtos, seja na produção e/ou comercialização." A empresa informou que não houve ação da PF na sede da companhia em São Paulo. A BRF informou que está colaborando com as autoridades para esclarecer os fatos e reiterou que cumpre todas as normas referentes à produção e comercialização de seus produtos, com rigorosos processos e controles e não compactua com práticas ilícitas. A BRF ainda afirmou que assegura pela qualidade de seus produtos e garante que não há nenhum risco para seus consumidores, seja no Brasil ou nos mais de 150 países onde atua.

O PMDB informou desconhecer o teor da investigação, e que não autoriza ninguém a falar em nome do partido.

O Ministro da agricultura Blairo Maggi, também divulgou uma nota sobre a Operação Carne Fraca.  "Diante dos fatos narrados na Operação Carne Fraca, cuja investigação começou há mais de dois anos, decidi cancelar minha licença de 10 dias do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). O que as apurações da Polícia Federal indicam é um crime contra a população brasileira, que merece ser punido com todo o rigor.  Neste momento, toda a atenção é necessária para separarmos o joio do trigo. Muitas ações já foram implementadas para corrigir distorções e combater a corrupção e os desvios de conduta, e novas medidas serão tomadas. Estou coordenando as ações, E já determinei o afastamento imediato de todos os envolvidos e a instauração de procedimentos administrativos. Todo apoio será dado à PF nas apurações. Minha determinação é tolerância zero com atos irregulares no Mapa." 

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