Arrombar China e Rússia: o conceito de combate combinado dos EUA

© flickr.com / Matt HechtUm militar da Força Aérea dos EUA
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Na segunda-feira (13), na cidade de Huntsville, Alabama, começou o simpósio e exposição anual AUSA ILW Global Force.

O evento decorre no centro von Braun sob a égide da Associação do Exército dos EUA, e desta vez é dedicado, em primeiro lugar, à discussão do conceito Multi-Domain Battle, ou seja, a realização de operações militares em diferentes áreas: em terra, no mar, no ar, no espaço, no ciberespaço e no espectro eletromagnético.

Atualidade do assunto

Este conceito foi referido pela primeira vez em 2011, depois de o general Martin Dempsey, chefe do Estado-Maior Conjunto dos EUA, ter apontado aos estrategistas militares a probabilidade de o domínio dos EUA em terra, no ar e no mar já não ser suficiente na guerra moderna. Em 2016, na conferência anterior da Associação do Exército dos EUA, em Washington, a liderança militar dos EUA já começou a falar abertamente sobre o conceito Multi-Domain Battle, enquanto o Exército dos EUA e o Corpo de Marines publicaram em conjunto um "Livro Branco" sobre o assunto.

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De acordo com o "Livro Branco" sobre a gestão da batalha combinada (chamemos dessa forma o Multi-Domain Battle), o Exército dos EUA nesta fase não está pronto e não é capaz de conter ou vencer um inimigo moderno e de igual força, e é necessário mudar urgentemente toda a abordagem de operações contra um inimigo tecnologicamente avançado.

Durante o ano passado, a Força Aérea, o Corpo de Fuzileiros Navais e a Marinha dos EUA apresentaram seus próprios conceitos sobre o assunto, enquanto a Marinha realizou mesmo uma série de exercícios para a assimilação do conceito.

Também, durante este tempo, o Exército dos EUA modificou o complexo tático de mísseis (ATACM, sigla em inglês), que agora também é capaz de atingir alvos navais. Esta decisão está diretamente ligada à adopção gradual do conceito de batalha combinada. Na verdade, o Exército dos EUA restaurou a artilharia de costa, abolida em 1950, mas agora ela vai funcionar sob a forma de mísseis.

Brainstorming

O comandante das forças dos EUA no Pacífico, almirante Harry Harris, é um dos apologistas principais do conceito. Ele foi o ideólogo da modificação do ATACM para combater a Marinha da China e também apela ao Exército e à Marinha dos EUA para unificarem seus sistemas de defesa antimísseis para combater eficazmente os ataques com mísseis a partir de Rússia, China e Coreia do Norte.

A Força Aérea dos EUA, por sua vez, propõe criar, com base nos centros de operações aéreas conjuntas (CAOC) existentes, uma rede global de comando e controle no âmbito da qual seriam controladas em conjunto as ações do Exército, Marinha, Força Aérea, Corpo de Fuzileiros Navais e as forças armadas aliadas. Esta iniciativa foi apresentada pelo chefe do Estado-Maior da Força Aérea dos EUA, general David Goldfeyn.

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Bob Work, vice-secretário da Defesa dos EUA e um dos principais estrategistas do Pentágono da realização de guerras no futuro, é o responsável pela área espacial. Work refere o trabalho do centro experimental de operações espaciais combinadas (JICSpOC), que visa coordenar o trabalho dos satélites de comunicação e militares dos Estados Unidos em caso de guerra em terra e no espaço contra um inimigo tecnologicamente avançado. O Centro, de acordo com Work, poderia se tornar um modelo para a construção de sistemas de comando e controle em guerras futuras.

Os Marines propõem em seu conceito a criação de testas de ponte e aeródromos avançados nos territórios ocupados para aviões F-35B, que depois poderiam apoiar a Marinha a partir de terra. A Marinha, então, seria capaz de se aproximar da costa do inimigo para realizar ataques com mísseis e aviação embarcada.

Como quebrar o 'sistema de restrição de acesso'

Em geral, é precisamente o Exército dos EUA que hoje é o principal impulsionador e desenvolvedor do conceito de combate combinado.

A Força Aérea e a Marinha estão mais orientadas para suas necessidades específicas. Isto é especialmente atual nas condições do chamado "sistema de controle de acesso" (A2/AD, anti-acesso, negação de área), quando os meios de guerra eletrônica da Marinha e da Força Aérea dos EUA não podem ser usados por causa dos mísseis de longo alcance russos e chineses e dos sistemas de alerta precoce.

Primeiramente, os americanos pensavam que poderiam, passo a passo, destruir gradualmente o sistema A2/AD do inimigo a longa distância com mísseis. Mas tiveram que recusar a ideia de arrombamento lento do A2/AD, e em vez disso surge o conceito de batalha combinada, em que o papel principal é desempenhado pelo exército e fuzileiros navais, forças especiais e ataques cibernéticos.

Horrores da guerra em terra

O chefe do Estado-Maior das forças terrestres dos EUA, general Mark Milley, receia especialmente as Forças Armadas russas que, apesar de terem perdido em quantidade, mas tecnicamente e taticamente se rearmaram após o fim da Guerra Fria.

Segundo o general Milley, na guerra do futuro estar no mesmo lugar por duas ou três horas significará morte certa. Se você for detectado, muito rapidamente será morto com armas de alta precisão do inimigo. Terá que combater em circunstâncias nas quais os meios eletrônicos, muito provavelmente, não vão funcionar por causa das ações de um inimigo tecnologicamente avançado.

A guerra em terra será terrível para os soldados. Eles terão de agir de forma independente, em pequenas unidades, cercados pelo inimigo, de forma isolada, sem o apoio do ar e do mar, sem comunicação, sem logística. O Exército também vai realizar novas funções, tais como ataques a navios inimigos a partir da costa e o uso de drones.

É por isso que o tom no desenvolvimento do conceito de combate combinado é definido pelo Exército dos EUA, e esta questão está sendo discutida hoje no centro von Braun, no Alabama. Eles entendem que, na guerra de altas tecnologias do futuro contra os adversários prováveis (primeiramente, a China e a Rússia), o exército será praticamente um material consumível. A guerra do futuro para ele será "fatalmente caótica".

Ilia Plekhanov para a Sputnik

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