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Ensaio fotográfico alerta para violência contra a mulher no Carnaval

© Arquivo Pessoal/Julliane AlbuquerqueO corpo feminino é da mulher, não é do homem, ressalta a fotógrafa
O corpo feminino é da mulher, não é do homem, ressalta a fotógrafa - Sputnik Brasil
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O período do Carnaval é um momento de alegria, de se divertir e de paquerar, porém, infelizmente, as estatísticas mostram que também é o período onde se aumenta o assédio sexual e a violência contra as mulheres provocados pelo machismo, que acontece de diversas formas durante a folia, especialmente o abuso nas ruas.

De acordo com dados da Central de atendimento à Mulher em Situação de Violência, que atende pelo telefone 180, em 2016 as denúncias de violência contra as mulheres nessa época do ano cresceram 174% em relação ao mesmo período de 2015.

© Arquivo Pessoal/Julliane AlbuquerqueJulliane falou da violência contra a mulher usando elementos do Carnaval
Julliane falou da violência contra a mulher usando elementos do Carnaval - Sputnik Brasil
Julliane falou da violência contra a mulher usando elementos do Carnaval

Como uma forma de denunciar e questionar esse assunto a fotógrafa e publicitária com mestrado em sociologia Julliane Albuquerque fez um ensaio fotográfico chamado "Alegoria" para fazer um alerta à sociedade.

Em entrevista para a Sputnik Brasil, Julliane explicou que a ideia do ensaio surgiu de uma preocupação pessoal por já ter vivenciado e presenciado diversas situações de assédio e violência contra amigas e outras mulheres pelas ruas do Rio de Janeiro, onde mora, durante o período do Carnaval.

"O que me inspirou foi a violência, mais particularmente no Rio de Janeiro, que é onde eu moro. Tanto eu, quanto minhas amigas sempre ficamos na dúvida se passamos o Carnaval aqui ou fora, pois uma questão que está sempre em pauta é o assédio, que bloco ir, com que roupa ir. [Assédio] Tem ao longo do ano inteiro, mas no Carnaval ele fica maior. Está 40.º e se um homem está sem camisa, é porque está 40.º graus. Se uma mulher está com uma roupa mais curta é porque é um convite. Esta questão que me mobiliza e me inspira em outros trabalhos e em outras épocas, no Carnaval ela passa a mexer mais comigo. Daí, eu tive essa inspiração de fazer um trabalho, que falasse e questionasse isso."

Para fazer o alerta contra a violência em relação à mulher na folia, e tendo como base a questão de que fantasia não é um convite para o assédio, Julliane utilizou em suas fotografias os próprios acessórios típicos dessa época do ano, como lantejoulas, purpurina e serpentinas para retratar os hematomas na mulher. "Eu utilizei glitter, purpurina, serpentina, todos eles nos formatos dos hematomas, que são causados pela violência, porque o assédio é uma das formas da violência, mas ele também faz parte de uma violência maior. Em alguns casos que eu vejo notícias, que eu li ou presenciei mesmo na rua, de pessoas que quando falam não, são agredidas ou xingadas."

© Arquivo Pessoal/Julliane AlbuquerqueOs hematomas do assédio retratados em glitter e purpurina
Os hematomas do assédio retratados em glitter e purpurina - Sputnik Brasil
Os hematomas do assédio retratados em glitter e purpurina

No trabalho, a fotógrafa chama a atenção de que a mulher é vítima não só da violência psicológica, mas que em muitos momentos a violência passa também a ser física.

"Essa é uma preocupação muito grande. Como a violência é não só psicológica, como ela se torna também física. Está dentro de uma cultura, que torna a violência psicológica e física muito naturalizada contra a mulher. Eu usei esses elementos de purpurina, glitter para simbolizar essa violência que são próprias do Carnaval."

© Arquivo Pessoal/Julliane AlbuquerqueEm 2016, as denúncias de violência contra as mulheres nessa época do ano cresceram 174% em relação a 2015
Em 2016, as denúncias de violência contra as mulheres nessa época do ano cresceram 174% em relação a 2015 - Sputnik Brasil
Em 2016, as denúncias de violência contra as mulheres nessa época do ano cresceram 174% em relação a 2015

Julliane ressalta que para se chegar em uma mulher durante a folia a educação é fundamental, porém, o que mais se vê no carnaval de rua carioca são os homens que tocam sem permissão no corpo de uma mulher.

"O que mais tem é homem puxando o braço, o cabelo e é extremamente agressivo. Acho que se você quer conquistar uma mulher, chega numa boa, pergunta oi, tudo bem. Inclusive, no Carnaval passado eu fiquei surpresa, que uma pessoa chegou assim em mim, perguntando oi, tudo bem, licença, posso falar com você, e eu achei isso incrível, mas isso deveria ser o natural."

© Arquivo Pessoal/Julliane AlbuquerqueEnsaio Alegoria
Ensaio Alegoria - Sputnik Brasil
Ensaio Alegoria

As fotos já começaram a repercutir entre o público feminino, que tem aprovado a campanha contra o assédio na folia e a necessidade de se discutir mais amplamente o tema.

"De forma geral, as mulheres estão mais mexidas e mobilizadas com essa causa, mais engajadas e dispostas a falar, olha: meu corpo é meu, não dá para chegar, tocar, puxar, não é assim. A recepção tem sido muito boa."

Como um último conselho, a fotógrafa diz que para aproveitar o período do Carnaval a palavra de ordem para os homens é "Respeito". "Tenham respeito. O corpo feminino é da mulher, não é seu. Não é para chegar puxando, tocando. É com gentileza, educação. É para todo mundo ser feliz. Não basta só ser legal para você. Vamos fazer esse carnaval ser uma festa para todo mundo."


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