Militar reservista tcheco conta como é o dia a dia de Donbass em época de guerra

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Situação atual em Donetsk (fevereiro de 2017) - Sputnik Brasil
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Ao longo das últimas semanas, a tensão militar no Leste da Ucrânia têm se intensificado, com a morte de Givi, miliciano de Donbass, e vários ataques realizados pelo exército ucraniano contra as repúblicas autoproclamadas. A Sputnik falou sobre a situação com o grupo de militares reservistas tchecos que viajaram para a região.

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A escalada do conflito aconteceu de repente, e ninguém, na verdade, consegue entender o porquê de tal realidade, mesmo querendo, pois em meio a todos os problemas, a proibição da entrada de estrangeiros à região em questão é apenas mais um. Porém, há ativistas que se atrevem a passar a fronteira para ver tudo com seus próprios olhos.

O chefe da delegação da organização Militares Tchecos Reservistas pela Paz, tenente-coronel reservista Ivan Kratohvil, conversou com a Sputnik República Tcheca sobre sua viagem a região de Donbass e partilhou suas emoções.

"Chegamos ao aeroporto de Rostov-na-Donu [cidade russa no sul do país, nas margens do rio Don], pois esse trajeto é a única opção de chegar a Donbass. Claro que a fronteira está sendo escrupulosamente vigiada pela parte russa, mas se você não tem intenções ruins, pode passar", contou o chefe da organização, adiantando que a delegação chegou ao som de disparos.

Ivan Kratohvil conta sobre a vida cotidiana dos habitantes comuns do Leste ucraniano, afirmando que apesar da guerra, em geral, a vida segue normalmente.

"Donbass continua vivendo. Nas lojas há montes de produtos saudáveis e frescos, carne é carne, ovos são ovos, linguiça é produzida com ingredientes naturais e a preços aceitáveis. Tais ‘valores ocidentais' como carne artificial, OGM e a prática de encher carne de água ainda não chegaram lá", partilha o militar reservista.

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Ivan Kratohvil adianta que na cidade de Donetsk há poucos carros, porém, os transportes públicos funcionam sem interrupções e uma viagem custa 3 rublos (por volta de 15 centavos). Além disso, os disparos, habitualmente, acontecem na parte da noite e fora do centro da cidade, afirma o tenente-coronel.

"No centro situam-se os hotéis onde estão alojados os representantes da missão da OSCE que não devem nem ver nem ouvir nada. Disparam nos arredores da cidade justamente quando os membros da missão estão aproveitando seu tempo livre em hotéis e restaurantes", acrescenta.

Entretanto, não se pode esquecer que Donbass é uma região onde a presença de guerra por toda a parte é evidenciada, continua o chefe da delegação tcheca.

"Buracos de tiros nos prédios, muitos sem janelas, vários apartamentos sem paredes, assoalho e teto", descreve Kratohvil. "Há mortos e feridos. Agora, principalmente mulheres e crianças. Homens vão para linha de defesa. Eles se levantam cedo de manhã, vão de bonde ou trólei até a estação final, recebem metralhadoras e andam alguns quilômetros a pé. Obuses os sobrevoam, destroem suas casas", acrescenta.

"Ao longo da nossa visita, a parte de Kiev efetuou vários ataques", frisou Ivan Kratohvil.

Em resumo da sua história, o militar reservista que viu de perto todo o terror da guerra no Leste da Ucrânia confessou:

"Passada uma semana em Donetsk, eu percebi uma coisa importante. Para os habitantes de Donbass, esta guerra é um combate pela sobrevivência, pelo futuro dos seus filhos. Além disso, pelo futuro de todos os outros. Já que se trata de uma vida normal na Europa sem explosões incessantes."

Em abril de 2014, Kiev iniciou operação militar contra as repúblicas autoproclamadas de Lugansk e Donetsk, que declararam sua independência após a mudança de poder na Ucrânia em fevereiro de 2014. Segundo os dados mais recentes da ONU, o conflito já deixou 9,7 mil vítimas.

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