EUA continuam pagando pela execução de Saddam Hussein

© AP Photo / CHRIS HONDROS Quando sentença de morte foi dada ao ex-presidente do Iraque, Saddam Hussein
Quando sentença de morte foi dada ao ex-presidente do Iraque, Saddam Hussein - Sputnik Brasil
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Colunista Aleksandr Khrolenko para a agência RIA Novosti.

Hoje, 30 de dezembro de 2016, faz dez anos que Saddam Hussein, presidente do Iraque de 1979 a 2003, foi executado. Esta execução serviu de lição geopolítica para os norte-americanos e outros credores da democracia ocidental.

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A guerra no Iraque sem autorização da ONU, além de ser ilegal, é uma agressão direta contra o Estado soberano. A invasão dos EUA resultou na morte de cerca de 5 mil militares norte-americanos. Milhares ficaram feridos, ao ponto de se tornarem inválidos. O valor das "correções" norte-americanas de muitos anos atingiu a soma astronômica de seis trilhões de dólares.

Ao fundo da ocupação norte-americana de 15 de outubro de 2006, 11 grupos islamitas radicais, liderados pela unidade da Al-Qaeda, uniram forças no Iraque. Assim foi criado o Daesh (organização terrorista proibida em muitos países, incluindo a Rússia).

A maior riqueza do Iraque é o petróleo leve e acessível que corresponde a 20% das reservas mundiais. No período entre 2006 e 2014, Bagdá lucrou 550 bilhões de dólares com a venda de petróleo, entretanto, o país está à beira da falência. Não há dinheiro para os salários e pensões, além disso, em muitas cidades não há água potável e eletricidade. Um novo exército iraquiano, crido segundo os padrões estadunidenses, não é capaz de proteger o país das forças terroristas. O Iraque, país multinacional e plurirreligioso, com uma população de 37 milhões de pessoas, merece o melhor.

© AP Photo / Rwa FaisalIraque, militares iraquianos observam ataque aéreo da coalizão liderada pelos EUA às posições do Daesh em Fallujah
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Todavia, não foi posto em prática o plano de criação do Grande Oriente Médio que mudaria as fronteiras dos países na região e abriria as portas para o Ocidente, dando acesso à riqueza nacional dos países dependentes.

Para que os EUA eliminaram o presidente do Iraque, Saddam Hussein?

"Mil colheres" de antraz

Após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, no âmbito da estratégia nacional de segurança, os EUA declararam que seus interesses nacionais considera todo o mundo. O Iraque foi o segundo país a sentir essa estratégia, dois anos depois do início da companhia militar norte-americana no Afeganistão.

A operação militar dos EUA e dos países aliados contra o Iraque começou no segundo trimestre de 2003. Os ataques aéreos da aviação e mísseis de cruzeiro tinham como alvo objetos estrategicamente importantes.

No início, os norte-americanos possuíam um alvo nobre — combater a Al-Qaeda, alegadamente apoiada por Saddam Hussein, segundo os EUA. Mais um pretexto para iniciar a guerra teria sido o armamento iraquiano de extermínio em massa — nuclear, químico e biológico, incluindo as "mil colheres" de antraz malignas.

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Em 9 de abril, as tropas dos EUA ocuparam a capital do país, Bagdá, derrubaram o governo de Saddam Hussein e revelaram que não havia armas de extermínio em massa e qualquer presença do grupo Al-Qaeda no Iraque. Então, seria esse o final feliz? Sem final feliz, pois, em 1º de maio de 2003, o presidente George W. Bush declarou o início da ocupação.

Quando os norte-americanos destruíram o sistema de segurança, criado por Saddam Hussein, os combatentes da Al-Qaeda entraram no Iraque. Após 2003, o país se atolou em violência religiosa, atentados terroristas e ações de combate — milhares de civis iraquianos morreram. Além disso, há dados sobre vítimas de armas radiológicas da nação estadunidense.

Washington propôs que a maioria dos iraquianos deveria saudar a invasão, pois não se trata de ocupação e sim libertação. Em resumo, 150 mil de militares norte-americanos não conseguiram fascinar ou convencer o Iraque. A invasão resultou na "morte de mais de um milhão de pessoas".

"A execução do ditador" — não é o fim

Após a derrota militar, Saddam Hussein se escondeu em sua cidade natal, em Tikrit, onde, em 14 de dezembro de 2003, foi capturado pelas forças norte-americanas, sendo entregue às novas autoridades iraquianas depois de meio ano.

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Em 1º de julho de 2004, Bagdá deu início ao processo jurídico demonstrativo. O ex-presidente foi acusado de crimes contra humanidade e de crimes militares. Saddam Hussein se comportou intrepidamente em frente aos juízes, respondendo zombeteiramente às perguntas com aforismas e versos do Alcorão. Ele aceitou o destino imposto muito corajosamente.

Saddam Hussein foi enforcado alguns minutos antes da prece da manhã, que marca o fim do mês do Ramadã. No entanto, a execução, organizada segundo os padrões de Hollywood, não desonrou o ex-presidente, mas, ao contrario, tornou-o um herói nacional, o mártir da religião muçulmana.

A filha de Saddam Hussein, Raghad, em entrevista à CNN, disse: "a execução [do meu pai] fez com que eu, bem como os meus filhos, as minhas irmãs com suas filhas e todos que lhe amaram, sentíssemos orgulho".

Saddam Hussein foi sepultado na sua aldeia natal, em Al-Awja, nos arredores de Tikrit, perto da tumba dos seus filhos — Uday e Qusay, que foram mortos em Mossul em julho de 2004 por militares da coalizão norte-americana.

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A novidade sobre a morte de Saddam Hussein agitou todo o mundo árabe, todos entenderam: a forca é um aviso de Washington para todos os líderes independentes. O luto de três dias foi declarado na Líbia. Na Índia e no Paquistão ocorreram ações de protestos, onde participantes queimaram bandeiras dos EUA. Nas 24 horas após a execução de Saddam Hussein, 80 militares norte-americanos morreram em atentados terroristas no Iraque. Ao mesmo tempo, o presidente dos EUA, George W. Bush, estava alegre por mais uma vitória da democracia.

A estratégia do inacabado

Há muitas pessoas no Ocidente que sinceramente pensam que o mundo moderno foi criado pelos EUA. Tal mundo é confortável e bom não somente para os Estados Unidos, mas para os outros povos. Sendo assim, eliminar o domínio dos EUA é quase o fim do mundo.

Em caso de problemas ou discordâncias, é preferível a exterminação de "ditadores", que discordam ou "desmascaram" os Estados malfeitores. No entanto, desde 2001, os EUA vêm demonstrando desesperança indestrutível no Afeganistão e em outros países. Na verdade, Saddam Hussein foi o segundo, o ex-presidente do Afeganistão, Mohammad Najibullah, foi o primeiro a ser executado, em 1996.

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Em 2006, na Europa, foi eliminado o ex-presidente da Slobodan Milosevic da Sérvia. Em 2011, o líder líbio, Muammar Kadhafi, foi torturado até a morte. Por medidas históricas — é simplesmente uma ação contínua dos EUA. A lista dos líderes nacionais que foram executados por iniciativa dos EUA e de Estados destruídos só aumenta com o passar dos anos.

Os norte-americanos não são capazes de prever e controlar as consequências das suas ações nos países de "terceiro mundo". E hoje, 13 anos após a "libertação da ditadura", um novo exército iraquiano, criado pelos padrões estadunidenses, está tentando libertar a cidade de Mossul, ocupada pelo Daesh. Entre os combatentes do Daesh há muitos ex-soldados do antigo exército iraquiano.

EUA, nação que pretende dominar o mundo, é geopoliticamente ineficaz e o seu castelo de cartas no Médio Oriente está desmoronando. Washington não conseguiu dar um fim à guerra para salvar sua face e sua influência.

© AFP 2023 / THOMAS COEXMilitares dos EUA em Mossul, Iraque (foto de arquivo)
Militares dos EUA em Mossul, Iraque (foto de arquivo) - Sputnik Brasil
Militares dos EUA em Mossul, Iraque (foto de arquivo)

O ex-embaixador do Iraque na Rússia, Abbas Khalaf Kunfud, frisa:"Durante a ocupação, o país foi quase totalmente destruído devido ao ‘erro' de Bush… o mundo perdeu o berço da civilização, que era o Iraque."

Hoje, Bagdá não está disposta a "pagar aos EUA com petróleo" por sua ajuda na luta contra o Daesh, levando-os a escolher armas russas. Até mesmo os aliados europeus dos EUA discutem opções de correção da política externa norte-americana.

A decisão do presidente norte-americano Barack Obama de retirar as tropas norte-americanas do Iraque é fundamental, pois é evidente a incapacidade dos Estados Unidos de se retirarem com dignidade. A autodestruição geopolítica continua.

A opinião do autor da RIA Novosti pode não coincidir com a opinião da redação.

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