Opinião: 'Distorção de fatos sobre a Rússia mostra que a hegemonia ocidental acabou'

© REUTERS / Omar SanadikiMembro das tropas governamentais hasteia uma bandeira da Síria em Aleppo
Membro das tropas governamentais hasteia uma bandeira da Síria em Aleppo - Sputnik Brasil
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Nem mesmo as reiteradas manifestações do Kremlin e dos Ministérios da Defesa e das Relações Exteriores russos de que a participação militar da Rússia na Síria se limita a combater organizações terroristas como o Daesh e a Frente Al Nusra conseguem acalmar os ânimos das mídias ocidentais.

Desde que a Rússia iniciou as incursões na Síria com a sua Força Aérea em 30 de setembro de 2015, não têm faltado notícias e interpretações de que, "na verdade, os militares russos estariam também empenhados em fazer o Presidente Bashar Assad se livrar das centenas de grupos opositores que assombram seu governo".

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Para o professor de Geopolítica Antônio Gelis, da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo, este comportamento de alguns órgãos da mídia ocidental é indicador da percepção de que "a hegemonia acabou", numa referência ao papel que os Estados Unidos e alguns países da Europa têm desempenhado pelo mundo. Falando à Sputnik Brasil, o Professor Gelis detalha sua opinião:

"Eu acho que isso é um exemplo bem claro da última etapa da perda da hegemonia ocidental, que é a perda do monopólio da construção de narrativas. Narrativa é uma interpretação da realidade. Por que eu digo isto? Quando se coloca da seguinte forma: 'a Rússia está atacando rebeldes e não está atacando só terroristas', parte-se do princípio de que é possível separar completamente dos terroristas quem é contra Bashar Assad. E nós sabemos, pela leitura de diferentes fontes, que não é verdade, que existe uma intersecção muito grande em que o próprio Estado Islâmico [Daesh] se opõe a Assad."

Segundo Antônio Gelis, essa construção da existência de um grupo "dos bonzinhos e dos maus" é típica da maneira como algumas fontes no Ocidente têm caracterizado a guerra na Síria.

"Qualquer grande potência, quando faz uma intervenção militar, tem interesses geopolíticos, e isso é absolutamente compreensível para qualquer pessoa que tenha um mínimo de experiência em Relações Internacionais. Eu tenho impressão de que a mídia ocidental tenta oferecer uma versão que justifique aquilo que é uma enorme derrota geopolítica para o Ocidente."

Ainda na avaliação do Professor Gelis, a intervenção militar russa na Síria, a pedido do Presidente Bashar Assad, mudou a dinâmica geopolítica:

"A intervenção da Rússia na Síria iniciava uma nova era na geopolítica global. A partir do momento em que o Ocidente já não conseguia colocar ordem nas muitas bagunças que patrocinou (não vamos nos esquecer de que toda a confusão na Síria começa quando o Ocidente dá apoio aos rebeldes dizendo que Assad tinha alguns meses apenas no poder), e não conseguindo sustentar esse esforço além de não conseguir lidar com o problema do Estado Islâmico [Daesh], criou-se uma estratégia de diminuir a importância da intervenção da Rússia."

Antônio Gelis também considera que o desenrolar dos fatos e o futuro próximo determinarão uma mudança de postura nos órgãos da mídia ocidental em relação aos fatos internacionais que envolvem a Rússia:

"Nós trabalhamos com vários cenários em geopolítica. Um dos cenários que considero como mais provável é que 2017 talvez marque o início de um despertar maior da população ocidental, o que já está ocorrendo, inclusive, nos Estados Unidos, onde a população começa a perceber que essas narrativas que estão sendo oferecidas são absolutamente falsas."

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Para justificar seu raciocínio Antônio Gelis chama a atenção para o fato de que "Donald Trump ganhou a eleição presidencial com a seguinte interpretação da realidade: os Estados Unidos já não são a nação mais grandiosa do planeta, o que está embutido na sua frase de campanha 'Make America Great Again', [Faça os Estados Unidos grandiosos de novo]. Isso embute a ideia de que já não são tão grandes. Eu tenho a impressão de que esse processo já começou nos Estados Unidos, já começou na Europa, e então provavelmente teremos uma modificação de postura da mídia ocidental. Não de uma vez nem completamente, mas de forma gradativa."

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