Para onde vai excesso de armas após guerras nos Bálcãs?

© AFP 2023 / ELVIS BARUKCICCerca de 133 armas estão sendo carregadas em um caminhão, no Acampamento Base de Rajlovac, perto de Sarajevo, 05 de dezembro de 2005
Cerca de 133 armas estão sendo carregadas em um caminhão, no Acampamento Base de Rajlovac, perto de Sarajevo, 05 de dezembro de 2005 - Sputnik Brasil
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A agência da UE para a segurança das fronteiras externas (Frontex) alertou em abril deste ano sobre a existência de contrabando de armas provenientes dos Bálcãs. O relatório diz que este risco tem aumentado significativamente devido à crise migratória.

Montaram como irmãos, mataram como irmãos

Ivan Zverzhanovski, chefe do projeto da ONU sobre a luta contra o tráfico de armas (Centro Coordenador do Sudeste e da Europa Oriental para o Controle de Armas Ligeiras) disse alguns dias atrás que, de acordo com o Centro, uma espingarda comprada no mercado negro nos Bálcãs por 250-500 euros pode ser vendida, por exemplo, na Suécia por 3000-5000 euros.

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'Cães de guerra' regressam aos Bálcãs
De acordo com os dados de 2014, os habitantes dos Bálcãs Ocidentais possuem entre 3,6 e 6,2 milhões de unidades de armas de fogo, e isso apesar do fato de que nesses países moram, ao máximo, 25 milhões de pessoas.
É óbvio que tudo isto é a herança de décadas de guerra em que os Bálcãs mergulharam no início dos anos 1990. Resta saber qual o número de armas que entrou na região, fazendo uma longa viagem desde a Eslovénia diretamente para as mãos dos terroristas do "Exército de Libertação do Kosovo".

A República Socialista Federal da Jugoslávia em tempos produzia e vendia armas no valor de 500 milhões de dólares por ano, principalmente para o Oriente Médio e os países-parceiros do Movimento dos Não-Alinhados. Estas armas eram produzidas em plena conformidade com o princípio dominante socialista naquela época de "fraternidade e unidade". Por exemplo, os principais componentes do tanque M-84, o orgulho do Exército Popular Jugoslavo (EPJ), eram produzidos na Bósnia e Herzegovina, Sérvia e Montenegro e o próprio tanque era montado na Croácia.

Honduras vão ajudar os Bálcãs

Vieram os anos 1990, começou a desintegração da Jugoslávia. A "mini-guerra" das forças de defesa territorial eslovenas com o EPJ acabou quando no porto esloveno de Koper, em um navio sob a bandeira de Honduras, foram entregues 60 contentores com armas que, imediatamente após o fim do conflito nesse país, Liubliana vendeu para

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Zagreb. Apesar de todas as restrições e embargo por parte da UE e da ONU, 30 caminhões com 15.000 fuzis-metralhadoras, uma enorme quantidade de munições e outras armas cruzaram a fronteira esloveno-croata. A guerra lá só estava começando e as armas estavam vindo de todos os lugares. A Croácia adquiriu pistolas na Bélgica e Eslováquia. Metralhadoras e fuzis, incluindo as CIS SAR-80, chegaram de todo o mundo, inclusive dos vizinhos europeus, como a Polónia, a República Tcheca e Ucrânia. Aparentemente, a Croácia no início de 1991 gastou quase 200 milhões de dólares (cerca de 695 milhões de reais brasileiros) na compra de armas. Quando começou a guerra civil na Bósnia e Herzegovina, para o mercado negro começaram verdadeiramente dias fantásticos.

Décima terceira façanha de Hércules

O excesso de armamentos da Croácia foi parar à Bósnia, e ajuda adicional para as forças de muçulmanos bósnios na luta contra o exército dos sérvios bósnios chegou… em aviões americanos. Por exemplo, em 1994 os bósnios, com a ajuda dos famosos Hércules americanos (C-130) receberam sistemas anti-tanque, munições e outros armamentos.

A própria Bósnia, a propósito, produzia munições. Antes da guerra, a fábrica Igman produzia até 300 mil projéteis por dia, mas durante a guerra diminuiu a produção e começou a fabricar a mesma quantidade, mas por semana.

Quando o Acordo de Dayton é assinado e a guerra na Bósnia termina, e as armas não são mais necessárias. Em tempos de paz, o país conta com (de acordo com a Força de Estabilização) 27.000 fuzis, 5.000 pistolas, 13 milhões de balas, para não mencionar as toneladas de explosivos, milhares de minas e granadas de mão que chegaram do Panamá, Afeganistão, Paquistão. Tudo isso tornou os terroristas do Exército de Libertação do Kosovo, que lutaram pela secessão da região da Jugoslávia, muito felizes.

KLA: Kill 'Em All

Esta organização foi abastecida por duas fontes — a Albânia e a Bósnia e Herzegovina. Os albaneses do Kosovo tinham boa solvibilidade e já no início de 1996 compraram por um milhão de dólares (cerca de 3,5 milhões de reais brasileiros) o primeiro lote de armas à Bósnia e Herzegovina, incluindo Kalashikovs de produção jugoslava, FN FAL de produção argentina, metralhadoras, morteiros, toneladas de trotil, pistolas de Osa e outra miudeza.

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Curiosamente, em 1997 na Albânia durante os motins foram saqueados armazéns militares, tendo desaparecido, de acordo com Tirana, cerca de 600.000 de Kalashnikovs, um grande número de espingardas semiautomáticas SCS e outras armas de fabricação soviética, para além, como já era esperado, os estoques de balas, morteiros e explosivos.

As armas que a polícia sérvia apreendeu aos albaneses do Kosovo até o final de 1997 tinham ou origem jugoslava, ou ocidental, tendo sido contrabandeadas durante as guerras anteriores: fuzis alemães e italianos, bem como as armas mais modernas compradas no "mercado negro" na Croácia ou Bósnia.

Depois dos bombardeios da OTAN da Jugoslávia em 1999, os radicais do Kosovo lançaram um grande "comércio" de armas através da Macedônia e Albânia. De acordo com estimativas da UNMIK de dezembro de 2005, no Kosovo havia até 400.000 unidades de armas não documentadas em nenhum lugar. Quanto tem agora — já ninguém sabe. Além dos contrabandistas, certamente.

Para onde estão indo as armas que ficaram no Kosovo, para além das que chegaram através de novos canais — ninguém sabe. A verdade é que toda mídia chama a república não reconhecida de um dos principais fornecedores europeus de combatentes para o Daesh.

 Brankica Ristic para a Sputnik Sérvia

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