Indenização calará cidadãos de Okinawa que enfrentam problemas causados por bases dos EUA?

© AP Photo / Eric TalmadgeOs novos MV-22 Ospreys na Marine Corps Estação Aérea de Futenma em Ginowan, Okinawa
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Em 17 de novembro, apenas 9 dias após as eleições nos Estados Unidos, o primeiro-ministro Abe se encontrou em Nova York com o futuro presidente, Donald Trump. Abe se absteve dos detalhes, mas ainda achou necessário salientar que Trump é um líder em que é possível confiar.

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No entanto, durante a campanha pré-eleitoral, Trump assumiu posições radicais com relação a questões ligadas ao Japão. Segundo especialistas, basicamente, a aliança estratégica japonês-americana não irá mudar. Por exemplo, a presença de bases dos EUA no Japão não é questionada, mas Trump propôs que o Japão pagasse mais para que os EUA garantam a segurança do território japonês.

Ao mesmo tempo, o comportamento dos japoneses comuns com militares americanos devido aos numerosos incidentes em Okinawa é, por assim dizer, contraditório e, muitas vezes, a indignação sentida pelos cidadãos do Japão impulsiona a organização de protestos em massa.

No mesmo dia em que Abe e Trump se encontraram, o Tribunal municipal de Naha ordenou as autoridades da cidade a pagar para os cidadãos que vivem perto de base norte-americana de Futenma a indenização de 22,6 milhões de dólares devido ao barulho das aeronaves.

Ao mesmo tempo, o tribunal rejeitou a solicitação dos cidadãos para que seja proibida a realização de voos da Força Aérea dos Estados Unidos na base aérea, considerada a mais perigosa do mundo pela sua proximidade com a zona urbana. E esta é uma das razões que incita o espírito de oposição em Okinawa.

Sendo assim, as decisões judiciais de autoridades locais frequentemente contradizem as intenções do governo japonês. Apesar do fato de que as bases norte-americanas permanecerão na região por decisão da justiça, a indenização poderá equilibrar temporariamente as relações entre Abe e o seu eleitorado em Okinawa. E, ao mesmo tempo, poderá jogar nas mãos de Washington, mais precisamente, nas mãos do futuro presidente dos Estados Unidos:

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"Trump limitou significativamente sua retórica radical, tentando ser mais político. Percebe-se nele o desejo de construção de uma direção mais pragmática", disse em entrevista à Sputnik Japão historiador, político e especialista em Relações Internacionais e Estudos japoneses, Dmitry Streltsov. "Ainda mais porque o Japão financia de forma significante a manutenção de bases norte-americanas. Muito mais do que qualquer outro país. E, em alguns países, os Estados Unidos quase que sozinhos pagam pelas despesas com manutenção de suas próprias bases. No território japonês, as bases norte-americanas são muito importantes para a sua própria estratégia de segurança no Nordeste da Ásia. Ou seja, essas bases protegem os interesses americanos na região. E eu acredito que Trump saiba disso. Portanto, ele abandonará sua posição relacionada ao pagamento pela manutenção das bases dos EUA pelos japoneses, tornando-se mais consciente sobre o que fala. Acredito que durante o encontro de Abe com Trump, em Nova York, provavelmente, eles encontraram mais entendimento sobre esta questão para ambos os lados", continuou o especialista.

No entanto, a situação em Okinawa, de qualquer forma, irá se intensificar. O resto do Japão, de certa forma, tem preconceito contra os habitantes de Okinawa, que são considerados uma nação separada com sua própria língua e cultura, pois o arquipélago entrou na composição do Japão somente na segunda metade do século 19. Mesmo durante a Segunda Guerra Mundial, os japoneses não prestavam confiança completa nos habitantes de Okinawa, frisou Dmitry Streltsov:

"Os habitantes de Okinawa desempenhavam trabalhos não tão especializados. Eles não tiveram oportunidades de crescimento na carreira. E o sentimento difundido de que os habitantes de Okinawa não são completamente japoneses, de forma escondida, é percebido até hoje. Sendo assim, Okinawa permanece sendo um território muito fraco, onde não há indústria. É totalmente dependente do dinheiro do Centro, e sua economia é, na realidade, ligada às bases norte-americanas. Tudo isso cria certo complexo de inferioridade e uma disposição de oposição mais forte no país. Não por é acaso que nas eleições ao parlamento, Okinawa é a única onde o Partido Comunista ganha. E a partir deste ponto de vista, é evidenciado um problema particular para o Governo do Japão."

Deste modo, a política de Abe, provavelmente, permanecerá "premiando e castigando", acredita o acadêmico:

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"Abe está ciente de que as bases dos EUA vão permanecer e devem ser levadas em conta. E as fortes disposições da oposição também devem de alguma forma ser superadas. A solução mais óbvia seria através de dinheiro. Por um lado, garantir o pagamento de indenizações para os habitantes onde as bases estão localizadas. Por outro lado, as ações radicais realizadas na região serão suprimidas ou silenciadas. Mas em geral, a nível nacional, Okinawa não é ouvida. Isso talvez pelos japoneses considerarem Okinawa como um território ou província especial."

Além do sofrimento psicológico causado pelo barulho das aeronaves, os habitantes de Okinawa se preocupam com a poluição ambiental realizada pelos militares e o aumento da criminalidade perto da base aérea. Será que o dinheiro pode comprar tais desvantagens?

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