Política econômica de Trump estará entre o fogo e a frigideira

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A vitória de Donald Trump nas eleições americanas está provocando sismos consideráveis pelos mercados no mundo. A favorita de investidores e gestores nos quatro cantos do planeta era a candidata democrata Hillary Clinton, considerada mais previsível em termos de política econômica.

Contra Trump pesam dois agravantes segundo analistas econômicos. O primeiro, o fato dele não ser um político tradicional e, em segundo, por ser visto como um outsider dentro do próprio Partido Republicano, como explica José Valter, diretor da RC Consultores, para quem os mercados vão ter que conviver durante algum tempo com essa volatilidade até que o presidente eleito dê pistas mais concretas sobre o que vai fazer. A tarefa, no entanto, é considerada muito difícil.

"Há um cenário de muitas incertezas, especialmente pela retórica agressiva e populista a qual o então candidato Donald Trump adotou sobre algumas questões. Os preços dos ativos não estavam precificados para a vitória do Trump, razão pela qual, nesse primeiro momento, acaba havendo volatilidade maior. Você sabe como o Partido Democrata e o Partido Republicano pensam. O problema do Trump é que ele é um outsider na política e dentro do Partido Republicano, e isso gera muita incerteza. Para você precificar essa incerteza, os ativos sofrem de fato todas essas variações e continuarão nesse desce-e-sobe até que ele clarifique o que o personagem dele vai fazer."

José Valter diz que, se ele fizer tudo o que prometeu na campanha, é muito provável que a economia americana vá passar por períodos de grande dificuldade. Se não fizer o que prometeu, vai frustar os eleitores. O diretor da RC Consultores acredita que será difícil ele colocar em prática algumas ideias, como trazer grandes fábricas de volta para os EUA.

"Ele não vai conseguir trazer as fábricas de volta por uma razão muito simples: se ele trouxer, as empresas americanas não terão condições de competitividade no mundo. O custo de produção no país é muito alto."

O especialista cita o caso do iPhone da Apple. 

"A ideia do iPhone está dentro dos EUA, mas a fabricação está fora. Ele pegou no pé da China durante os discursos — e isso necessariamente pode não acontecer —, dizendo que a China está roubando empregos americanos. Ele não vai conseguir competir com a Samsung, que é da Coreia do Sul, por exemplo. Se ele adota um imposto de importação de dois dígitos, ele gera inflação dentro dos EUA. As medidas dele, ao pé da letra, ou trazem recessão, ou trazem inflação, ou trazem as duas coisas."

José Valter diz que será preciso observar com cuidado quem ele vai colocar onde, e quais medidas de fato vai tomar. 

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"Fala-se do eleitor dele, branco, de classe média, com nível de escolaridade médio e que está desempregado porque trabalhava em fábrica. Aí ele diz que quer colocar todos os mexicanos — simbolizando todos os latinos — para fazer trabalhos que esse branco que mora no interior, de classe média e ensino médio não vai fazer. Quero ver um americano que vá para praça pública cuidar de jardim. Não é tão simples assim. Se ele faz, é um desastre, se ele não faz frusta o eleitorado dele."

O diretor da RC lembra que, após divulgado o resultado, os mercados abriram em alta pela falta de precificação e, no final da tarde, na medida em que ele fez um discurso que o mercado interpretou como conciliador, houve um ajuste para baixo. Segundo José Valter, as bolsas lá fora se ajustaram positivamente. As asiáticas, que fecharam na véspera com grandes perdas, subiram recuperando o prejuízo. Isso vale também para as moedas. À medida em que o dólar se valorize ou desvalorize, as outras moedas vão acompanhar esse movimento, podendo ou não ficarem comprometidas.

No Brasil, o mercado fechou nesta quinta-feira exatamente dentro do raciocínio do consultor. Após ser negociado a R$ 3,20 na véspera, a moeda americana fechou a quinta-feira com a maior alta desde outubro de 2008, negociada a R$ 3,37 na venda. Real, peso mexicano, peso colombiano e o rand sul-africano foram algumas das emergentes mais impactadas. A Bolsa, em sentido oposto, despencou 3,25% aos 61.200 pontos, após ter desvalorizado 1,4% na quarta-feira. Contribuíram para a queda não só o cenário de incertezas do mercado externo, como também informações, divulgadas pela defesa da ex-presidente Dilma, de que a Andrade Gutierrez teria doado R$ 1 milhão à campanha de Michel Temer na eleição de 2014.

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