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A estrada de lama de Minas ao Atlântico

© Sputnik / Diogo CunhaImagem feita pelo documentarista Diogo Cunha durante filmagens de A Segunda Estrada de Ferro, sobre as consequências da tragédia de Mariana
Imagem feita pelo documentarista Diogo Cunha durante filmagens de A Segunda Estrada de Ferro, sobre as consequências da tragédia de Mariana - Sputnik Brasil
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Um ano após o rompimento da barragem de mineração da empresa Samarco em Mariana, acidente que provocou grave impacto ambiental no rio Doce até a foz, no oceano, a população dos municípios afetados ainda sofre os efeitos da tragédia.

Segundo o documentarista carioca Diogo Cunha, que conversou com Sputnik Brasil, além de afetar diretamente as pessoas pela lama do rompimento, os efeitos da tragédia se refletem em toda a população que habita em torno do rio Doce.

O diretor e roteirista, logo depois da tragédia, percorreu os lugares mais afetados. Este ano, nove meses depois da catástrofe, ele empreendeu uma segunda viagem pelos mesmos locais para colher depoimentos e avaliar os impactos. Após essas duas viagens, surgiu o documentário “A Segunda Estrada de Ferro”, que está em fase de pós-produção.

Um socorrista tenta resgatar o corpo de uma vaca morta em Bento Rodrigues, MG, em 8 de novembro de 2015 - Sputnik Brasil
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Mar de lama e impunidade
“Eu fiz duas viagens”, conta Diogo Cunha. “A primeira foi de susto, quando a água do rio Doce foi atingida. Eu comecei a ficar apreensivo para saber para onde isso estava indo. Tenho uma amiga, Janaína, que é de Governador Valadares. A gente estava conversando muito sobre isso. Estava tendo muito movimento no rio em relação ao que estava acontecendo lá. Então resolvi partir. Eu fui, se não me engano, no dia 11 de novembro do ano passado, e fiquei nove dias lá. No trajeto de lama, eu fui de Mariana a Colatina, no Espírito Santo. Fui a cada cidade, nem sempre linearmente. Fui visitando de acordo com o que ia acontecendo.”

A Segunda Estrada de Ferro — Teaser from Diogo Cunha on Vimeo.

Segundo o realizador, a ideia para o filme foi surgindo durante o registro das consequências do rompimento da barragem. Tentando chegar a lugares menos acessíveis, Diogo foi entrando em contato com pessoas mais envolvidas com o desastre e com assistência às vítimas. Ele diz que, apesar de desejar motivar e mobilizar as pessoas com as imagens que ia colhendo, seu objetivo não era o da imprensa. Ele buscou um envolvimento com as pessoas para evitar a “estética do desastre” e para buscar uma forma de compreensão e formas reais de ajudar os atingidos.

“O que mais me impressionou na primeira viagem – não tinha como não ser –, foi a lama. Quando fui a Paracatu de Baixo, um dos municípios atingidos, mas menos falado, foi muito impactante. Estava tudo muito coberto de lama, A gente via casas com eletrodomésticos, brinquedos de criança. Eu também vi outras coisas, como a falta de água em Valadares. Mas, com certeza, ver a lama sobre os municípios, sobre os distritos, foi mais forte”, avalia Diogo Cunha a sua primeira viagem.

No entanto, quase um ano após o desastre, os efeitos ainda são sentidos, só que agora de outra forma.

“Na segunda viagem impressionou ver a bagunça que se tornaram as comunidades com a ação da Samarco, para, por um lado, ressarcir as pessoas que precisavam na hora, emergencialmente, mas por outro lado numa ação que parecia uma tentativa de desestabilizar as comunidades. As pessoas estavam muito confusas quanto às informações. Não sabiam se a água do rio podia ser usada ou não, se o peixe do rio estava contaminado ou não. Quem estava recebendo alguma compensação por ter perdido o trabalho, quem merecia, quem não era considerado atingido. Todas as cidades, todos os municípios a que eu fui foram atingidos, tinham uma grande confusão após a passagem da lama e da empresa, depois, porque ninguém sabia exatamente o que ainda iria acontecer nem o que tinha acontecido.”

© Sputnik / Diogo CunhaImagem feita pelo documentarista Diogo Cunha durante filmagens de A Segunda Estrada de Ferro, sobre as consequências da tragédia de Mariana
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Imagem feita pelo documentarista Diogo Cunha durante filmagens de A Segunda Estrada de Ferro, sobre as consequências da tragédia de Mariana

Quando perguntado sobre eventuais dificuldades de comunicação da equipe com a Samarco, o diretor afirma que esse não era o objetivo das filmagens: 

Lama de barragens de Mariana - Sputnik Brasil
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Ministério Público: tragédia em Mariana foi causada por obras da Samarco
“Não queria ter a abordagem jornalística de mostrar os dois lados, para assim chegar a uma conclusão sobre uma verdade. Para mim, o que aconteceu como evento está claro. A lama atingiu os municípios, chegou ao rio e foi até o mar, e está se espalhando pelo mar. Isso é incontestável. O que eu quero é entender o que foi o atingido. O que a pessoa sente. O que acontece com a pessoa, que tem uma vida muito diferente à qual estamos acostumados nos grandes centros. Que tem a identificação com a área onde mora, com as atividades que são possíveis no meio ambiente que tem. O que acontece quando ela tem isso tirado dela pela ação de uma empresa? Então a responsabilização da Samarco por crime, se for por homicídio ou se for por crime ambiental, é uma discussão que está acontecendo na Justiça, no Ministério Público, da qual eu participo por fora, mas não é o recorte do filme.”

Ou seja, segundo o documentarista, é importante avaliar que o impacto da tragédia de Mariana não se resume aos diretamente afetados pela lama, aos que perderam a moradia. “A Segunda Estrada de Ferro’” tenta demonstrar que a amplitude do acontecimento foi muito maior do que a divulgada, e que vidas de muito mais pessoas ficaram extremamente afetadas com os efeitos do desastre ambiental sobre o rio Doce.

“O que eu mais me questiono neste filme é se dá para dizer qual grupo foi mais afetado. Quem foi mais atingido. Porque numa leitura superficial – e foi como a Samarco abordou a questão quando chegou às comunidades –, os mais atingidos foram a associação dos pescadores, que tinham uma relação econômica direta com o rio, talvez algumas pessoas do comércio ou quem vivia do turismo ali. E claro que Mariana e Barra Longa, que foram as cidades atingidas pela lama mesmo. Você tem todos os moradores que perderam as suas casas, seus animais e seus parentes.”

Diogo Cunha conclui:

“Mas para mim o atingido é muito maior do que isso. Quando o evento tem uma proporção como teve – o rompimento do Fundão, da barragem, municípios que tiveram o fornecimento de água prejudicado –, é enorme o impacto. Atingido para mim é todo o mundo que de alguma forma teve a sua vida alterada. É meio difícil a gente dizer quem foi mais. Porque, se não, a gente acaba dando a oportunidade para tirarem os direitos de alguém que foi atingido, mas não de forma direta.”

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