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Janaína Paschoal: 'Chamei Putin de adolescente para ressaltar seu vigor'

© Lula Marques/ AGPTJanaína Paschoal, advogada da acusação no processo de impeachment de Dilma Rousseff
Janaína Paschoal, advogada da acusação no processo de impeachment de Dilma Rousseff - Sputnik Brasil
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Em recentes postagens no Twitter, a advogada Janaína Paschoal demonstrou sua preocupação com as notícias de uma possível instalação de base militar da Rússia na Venezuela. E chamou Vladimir Putin de "imperialista".

Janaína Paschoal disse na rede social que a base russa na Venezuela pode representar sério risco de ataque ao Brasil, e postou o seguinte comentário sobre o presidente da Federação Russa: "Putin tem pouco mais de 60 anos, pode ser idoso, pela lei brasileira. Para fins políticos, é um adolescente. Imperialista, ninguém nega."

Diante destes comentários e de sua intensa repercussão, Sputnik Brasil entrevistou com exclusividade a Dra. Janaína Paschoal. Ela revelou as circunstâncias em que postou aqueles comentários, surpreendeu-se com a repercussão (até internacional) das postagens e esclareceu sua avaliação sobre o Presidente Putin, afirmando que não o chamou de "adolescente para desmerecê-lo, mas, sim, para valorizar o seu vigor". Sobre Putin, a advogada disse ainda que o considera um presidente muito forte e um dos mais importantes líderes mundiais.

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Defensora do impeachment chama Vladimir Putin de 'imperialista'
 

Janaína Paschoal é advogada e professora de Direito Penal da Universidade de São Paulo (USP). Junto com os também professores de Direito Miguel Reale Jr. e Hélio Bicudo, ela formulou o processo de impeachment contra a Presidente Dilma Rousseff, recebido pelo então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), em dezembro de 2015 e que culminou com a destituição de Dilma pelo Senado Federal em 31 de agosto.

A seguir, a entrevista exclusiva com a advogada.

Sputnik: O que levou a senhora a fazer essas postagens em torno da alegada instalação de uma base militar russa na Venezuela?

Janaína Paschoal: Essas manifestações vieram no bojo de um conjunto de manifestações onde eu demonstrava, e aqui reitero, minha preocupação com o que está acontecendo na Venezuela, onde temos um ditador, que é o caso do Maduro, que controla o Poder Judiciário completamente; temos pessoas presas não por terem cometido crimes, mas, sim, pura e simplesmente por divergirem do poder instituído; há uma oposição pequena, porém atuante, no Congresso, e eu vinha já há alguns dias me manifestando no sentido de sustentar a ideia de que o Brasil, como um país bastante significativo na América Latina, deveria ser um pouco mais firme ao apoiar a oposição na Venezuela. Este é o primeiro ponto que eu gostaria de destacar. O meu foco ali não era a Rússia, era a Venezuela. Na esteira desses dias em que eu trago essa preocupação com o deteriorar da situação na Venezuela, em várias fontes, em vários veículos, veio a notícia de que a Rússia instalaria uma base militar justamente na Venezuela, que eu considero um país ditatorial. Eu expressei ali minha preocupação com essa notícia, porque eu entendo que uma base militar em um país limítrofe com o Brasil, um país não democrático e num conflito como esse, deixa o nosso país, no caso o Brasil, mais vulnerável.

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S: Esta é a sua preocupação…

JP: Eu não tenho cargo político e nem poder político nenhum. Como cidadã brasileira, ficaria muito mais tranquila se houvesse uma declaração oficial do Governo russo no sentido de que essa base não vai ser instalada. Estou sendo muito sincera. Porque essa base nos deixa vulneráveis. Estamos falando de um país que está vivendo um intenso conflito e onde existe um líder que é um ditador, e todo esse teatro que Maduro está fazendo, procurando o Papa para dizer que quer o diálogo, ele a meu ver não é real, é um teatro, porque ele não dá um sinal para estabelecer esse necessário diálogo. O sinal que eu esperaria de Maduro seria libertar os presos políticos que hoje estão confinados em prisões subterrâneas na Venezuela.

S: O processo de impedimento do presidente na Venezuela passa pelo Poder Judiciário, que é majoritariamente favorável a Maduro…

JP: Sim, inclusive os poucos juízes que ousaram divergir foram retirados de seus cargos. O que mostra o viés ditatorial do país porque, por exemplo, no Brasil os juízes têm a garantia da inamovibilidade, de não terem seus vencimentos reduzidos. O juiz não pode ser demitido pelo Poder Executivo. Mas na Venezuela isso ocorreu, não foi só uma vez, de forma que o Judiciário está completamente aparelhado. Eu acredito que precisaria de uma posição um pouco mais firme do Governo brasileiro. Neste contexto, a construção de uma base militar, como cidadã brasileira, me assusta.

S: Uma de suas postagens no twitter revela que a senhora considera o Presidente Vladimir Putin imperialista. A senhora tem de fato esta avaliação?

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O que Putin pode fazer para o bem da Rússia?

JP: Eu vejo o Presidente Putin, hoje, como um dos líderes mais fortes no mundo. Quando eu digo força, não é só força do armamento, não é só força do apoio interno que ele tem, mas é também a força da personalidade. O termo imperialista pode ter várias leituras. Ele é uma pessoa de personalidade muito forte, é uma pessoa muito forte, tanto que está no poder na Rússia, se eu não estiver enganada, há 17 anos, alternando as condições de presidente e de primeiro-ministro. Houve recentemente um embate com a Ucrânia, foi anexada a Crimeia, ou seja, ele tem um perfil como líder expansionista. Eu vejo assim, posso estar equivocada. Eu não vejo em nenhum outro país um líder tão forte quanto o Presidente Putin, e creio que isso deve ser levado em consideração quando se avalia a instalação de uma base militar tão perto do Brasil.

S: E sobre a sua afirmação de que Putin, “para fins políticos, é um adolescente”?

JP: Teve gente que se ofendeu quando eu falei da adolescência, e acho que isso tem que ser esclarecido: quando falei em adolescência, não foi no sentido de desmerecê-lo, muito pelo contrário, foi no sentido de mostrar que ele deve ter pelo menos mais uns 20 anos de poder. Se ele tem 64 anos, até os 84 anos ele estará bem para exercer o poder, com essa personalidade forte, com uma base militar encostada na gente. Foi isso que eu quis dizer.

S: Para concluir…

JP: O Brasil tem que olhar para isso. Nós estamos lidando com o líder mais forte do mundo, que está instalando uma base militar no país vizinho. Eu, na condição de pacifista, realmente não gosto dessa movimentação, não posso mentir. Fico preocupada, porque sou uma pacifista. Gostaria até de entender por que resgatar esses núcleos, essas bases, qual é a intenção? Toda a movimentação armamentista no mundo interessa a todos os cidadãos. Temos que estar atentos pra todos os movimentos. Como a própria Rússia, que é um país liderado por um homem muito forte, com certeza está atenta a todos os movimentos.

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