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Carga tributária e corrupção derrubam Brasil em ranking mundial

© David Alves/Palácio PiratiniForum ranking
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O Brasil continua caindo no ranking mundial de competitividade calculado pelo Fórum Econômico Mundial. Neste ano, porém, a queda foi mais acentuada, e o país recuou para a 81ª posição numa lista de 138 nações, ficando atrás de países como Albânia, Armênia, Guatemala, Irã e Jamaica.

De 2012 para cá, o Brasil caiu 33 posições e se encontra hoje na pior posição em 20 anos. A pesquisa, feita em parceria com a Fundação Dom cabral, é realizada com executivos dos 138 países e leva em conta 118 variáveis que são analisadas e agrupadas em 12 categorias: instituições, infraestrutura, ambiente macroeconômico, saúde e educação primária, educação superior e treinamento, eficiência do mercado de bens e do mercado de trabalho, desenvolvimento do mercado financeiro, prontidão tecnológica, tamanho do mercado, sofisticação empresarial e inovação. Tributação, corrupção, leis trabalhistas e ineficiência da burocracia estatal foram os principais entraves apontados na pesquisa para justificar a queda do Brasil no ranking.

Na outra ponto do relatório, os dez países com maior competitividade foram Suíça, Singapura, EUA, Holanda, Alemanha, Suécia, Reino Unido, Japão, Hong Kong e Finlândia. Os piores do ranking foram Iêmen, Mauritânia, Chade, Burundi e Malaui.

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EUA já não lideram ranking de competitividade

O economista e professor da Fundação Getúlio Vargas, Isztván Kaznar, lembra que a melhor colocação do Brasil nesse ranking aconteceu em 2012, quando o país ocupou a 48ª posição, uma herança do governo Lula que pegou o Brasil no 84º lugar até entregar à Dilma no 53º lugar. Kaznar, que frequentemente nos últimos anos tem sido consultado pela Fundação Dom Cabral, diz que o estudo considera uma série de variáveis relevantes, que apontam o retrocesso do país.

"Quanto à legislação e ao trato legal da atividade empresarial, o período Dilma foi sumamente agressivo, antiempresarial e ideologicamente anticapitalista. Criou-se também uma série de cargas tributárias, quando o mundo inteira as está reduzindo, procurando não criar custo. Com uma carga tributária maior você fica menos competitivo em preços, mais dificuldade para exportar, alocar mão de obra, porque ela custa muito mais."

O economista lembra que no Brasil hoje para cada R$ 1 real que se dá ao trabalhador, mais R$ 1,13 a títulos de impostos (FGTS, PIS, Pasep, entre outros), o que acaba tornando a mão-de-obra muito cara. Além disso, o país tem uma infraestrutura deficiente, estradas esburacadas, portos cujas privatizações demoraram muito, aeroportos com grandes deficiências, educação que cada vez menos educa de fato e coloca no mercado mão-de-obra despreparada.

"O Brasil fala muito da importância de criar inovação tecnológica, mas isso significa também propiciar a propriedade intelectual, que não é respeitada como deveria, porque os inventores pretendem registrar patentes no exterior, como nos Estados Unidos, para ganhar royalties lá fora, porque a carga fiscal aqui é absurda."

O professor da FGV aponta ainda outro fator responsável pelo mau desempenho do Brasil no ranking: a carga fiscal, que chega a 39% do Produto Interno Bruto segundo números do próprio Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o que sufoca a capacidade de contribuição e a geração de novos investimentos, sobretudo no setor privado. 

"O Estado, os servidores públicos, os executivos do setor público, os políticos do Brasil tornaram impossível e infernal a vida do setor privado sob a ótica da administração tributária, da geração de valores e riqueza. Quando você cria um estado gigantesco com baixa produtividade isso acaba se refletindo na baixa produtividade que o setor privado terá. A massa da arrecadação deveria ir para a promoção tecnológica e o desenvolvimento e financiamento de projetos."

Kaznar diz ainda que existe no Brasil um lobby gigantesco jurídico para criar entraves de todo tipo com vistas também a vender facilidades lá na frente. 

"Comissão frequentemente se associa à corrupção. Os preços sobem porque já existe dentro dos preços um valor embutido associado à corrupção. Estamos vendo a Lava Jato, a Operação Zelotis e tantas outras comprovando isso. Temos 15 estados que já comunicaram que estão quebrados, que necessitam de uma renegociação brutal com a União, e uma enorme quantidade de municípios que começam a sinalizar com a bandeira da calamidade pública financeira."

Apesar do mau desempenho no ranking do Fórum Mundial, autoridades estrangeiras começam a ver o Brasil com outros olhos. Nessa última terça-feira, 27, por exemplo, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Jack Lew, fez  a primeira visita de um membro do gabinete de Barack Obama ao Brasil depois da posse de Michel Temer. Ao lado do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, Lew elogiou medidas tomadas pelo governo brasileiro para "reorganizar o país" e disse que as reformas estão no "caminho correto". Ele não especificou a quais mudanças se referia.

"Temos visto sinais de melhoria da confiança na economia por parte do setor privado e também temos visto oportunidade de mudança na realidade atual no Brasil devido a importantes passos que têm sido tomados pelo governo Temer para reorganizar o país. Entendemos que as reformas estruturais que estão sendo tomadas e o caminho que essas reformas estruturais estão criando é o caminho correto para o retorno do crescimento."

O secretário lembrou que o Brasil passou por uma recessão severa e disse que vive, atualmente, momento de recuperação da confiança na economia. Segundo ele, o governo está tomando medidas para recuperar a confiança e estabilizar a economia. Meirelles disse que os dois governos pretendem discutir "temas macroeconômicos", fazer avaliação da situação econômica dos dois países, além de abordar questões do comércio bilateral e cooperação científica.A visita de Lew ao Brasil faz parte de um giro latino-americano que inclui ainda Argentina, Colômbia e México. O mandato de Barack Obama termina em janeiro.

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