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Brasileira vence Miss Trans Star Internacional e luta contra transfobia

© Divulgação Miss Trans StarMiss Trans Star Internacional 2016 com a brasileira Rafaela Manfrini, ao centro
Miss Trans Star Internacional 2016 com a brasileira Rafaela Manfrini, ao centro - Sputnik Brasil
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Conseguir mais visibilidade, lutar pelo direitos de igualdade e chegar à sociedade de forma mais positiva e humana. Esta foi a mensagem principal que quis passar o concurso Miss Trans Star Internacional 2016, que aconteceu no último dia 17 de setembro, em Barcelona, na Espanha.

O concurso é considerado como uma das competições de beleza transexual mais importantes do mundo e teve como vencedora a brasileira, Rafaela Manfrini, que derrotou uma das favoritas, a israelense Tallin Abu Hama.

© Divulgação Miss Trans Star InternacionalRafaela Manfrini
Rafaela Manfrini  - Sputnik Brasil
Rafaela Manfrini
 

A quarta edição do concurso contou com 25 mulheres trans, e pela primeira vez participaram representantes de países, como Turquia, Nigéria, Israel e Sri Lanka, localidades onde ainda há muito preconceito contra o público transexual.

O transexual é aquele que nasceu homem ou mulher, mas não se sente como tal. O homem ou a mulher trans, costuma adotar roupas do sexo oposto, transformam o corpo através do consumo de hormônios, até a decisão da realização da cirurgia de mudança de sexo. 

Conforme pesquisa realizada  pela ONG Transgender Europe (TGEU), rede europeia de organizações que apoiam os direitos da população transgênero o Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais no mundo. Entre janeiro de 2008 e março de 2014, foram registradas 604 mortes no país.

Já o relatório sobre a Violência Homofóbica no Brasil, publicado, em 2012, pela então Secretaria de Direitos Humanos do governo federal, apontou o recebimento, pelo canal de denúncias Disque 100,  3.084 ocorrências de violações relacionadas à população LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transgêneros), envolvendo 4.851 vítimas. Se comparado a 2011, houve um aumento de 166% no número de denúncias, quando foram contabilizadas 1.159 denúncias envolvendo 1.713 vítimas.

Em entrevista exclusiva para a Sputnik, Rafaela Manfrini disse que participar do concurso foi a realização de um sonho, principalmente de mostrar para o mundo um outro lado dos transexuais, sem ser o que usualmente a sociedade pensa, de uma vida ligada a drogas e à prostituição.

"Foi realmente a realização de um sonho, porque na verdade, as transexuais no Brasil e no mundo são sempre muito marginalizadas. Quando as pessoas se referem a travestis ou a transexuais, elas sempre imaginam uma espécie de ser humano, que se prostitui e usa drogas por opção própria. A importância desse concurso de beleza é mostrar ao mundo que não existe só esse perfil de transexuais, mas sim outros tipos de transexuais que lutam por um mundo melhor, onde possam viver mais felizes, e mostrar que temos educação e beleza. Que podemos mudar o mundo através disso."

Por pertencer a uma família muito religiosa, Rafaela contou que só começou o processo de transformação aos 23 anos, com apoio da avó. Antes, a brasileira disse que se sentia como um robô sem vida.

"Eu vim de uma família muito religiosa e por causa da religião eu tive que adiar ao máximo a minha transformação, mas desde os cinco anos de idade eu já sentia essa necessidade. Quando eu tinha 23 anos eu fui morar com minha avó materna, que já tinha uma filha transexual, minha tia. Ela me apoiou integralmente. A partir desse momento eu comecei a viver, porque antes disso eu parecia um robô, sem vida. Eu não vivia. Eu acordava, me alimentava, mas eu nunca era eu mesma."

© Arquivo Pessoal Rafaela Manfrini
Rafaela Manfrini - Sputnik Brasil
Rafaela Manfrini

Rafaela Manfrini aproveitou a participação no Miss Trans Star Internacional para fazer um alerta sobre as dificuldades sociais do transexual no Brasil, que devido a intolerância da sociedade são impedidos de estudar e trabalhar, e acabam sem opção entrando para a prostituição.

"Acontece muito. Amigas minhas bem femininas conseguem os empregos, passam em entrevistas com 100% de aceitação, mas na hora da entrega da documentação, que vêem que é transexual, que tem nome masculino, são dadas várias desculpas, como essa vaga já estava preenchida ou você não se enquadra muito bem nesse papel. Isso dificulta a vida delas, até elas caírem na prostituição, que é o meio mais rápido para que elas possam se modificar nas plásticas e realizar o sonho delas. Por mais doloroso que seja a prostituição, nada é mais doloroso que você permanecer no seu corpo, que não é seu. Por uma brecha na justiça brasileira, eu consegui mudar meu nome e meu sexo na certidão de nascimento, mesmo não tendo ainda feito a cirurgia." 

A brasileira espera com a vitória levantar uma bandeira mais positiva e humana em relação aos transexuais no Brasil e no mundo, abrindo as portas para que a comunidade trans tenha mais oportunidades, principalmente chances profissionais.

"O meu maior desejo é passar uma maior visibilidade sobre a sociedade trans para a sociedade hetero, normal, como dizem as pessoas, e mostrar que os transexuais são seres humanos, que merecem respeito, amor, que merecem carinho, atenção, que merecem tudo como qualquer outro tipo de ser humano. Nós somos normais, não temos nenhum tipo de doença, não somos aberrações. Acho que essa é a melhor bandeira que eu posso levantar."

Outro destaque do concurso  Miss Trans Star Internacional 2016, foi a participação da Miss Trans de Portugal, Sarah Ines Moreira, que é a primeira mulher portuguesa transexual a conseguir mudar de nome e de gênero no Registro Civil.

© Arquivo PessoalMiss Trans Portugal Sarah Ines Moreira
Miss Trans Portugal Sarah Ines Moreira - Sputnik Brasil
Miss Trans Portugal Sarah Ines Moreira

Também em entrevista exclusiva para a Sputnik, Sarah falou sobre a importância de participar do concurso. Segundo Sarah, o seu objetivo foi o de chamar a atenção de trazer para o público a luta da comunidade transexual e falar de seus direitos, como o do trabalho e muitas vezes são privadas disso.

"Esse concurso eu participei mais por uma causa social, para dar mais visibilidade a nós transexuais, para transmitir a imagem dos transexuais de uma forma humana e positiva."

Ao comentar a situação do preconceito e assassinatos de transexuais pela intolerância no Brasil, em Portugal e no mundo, Sarah lembrou da morte de uma amiga há 18 anos e falou sobre a necessidade de políticas públicas de proteção ao transexual.

"Eu acho isso muito grave para nossa comunidade transexual. Acho que deveria haver mais proteção à nossa comunidade no mundo, no Brasil, em Portugal, inclusive, apesar de que em Portugal não ser tão agressivo. Não sofremos de agressão física, já houve, mas não tanto como no Brasil, mas acho que deveria ter mais visibilidade e proteção, que defendesse as transexuais."

© Arquivo PessoalSarah Ines e Rafaela Manfrini
Sarah Ines e Rafaela Manfrini - Sputnik Brasil
Sarah Ines e Rafaela Manfrini

Sarah destacou a participação e a união entre as candidatas à miss, especialmente a coragem daquelas que vieram de países onde a intolerância é muito grande contra os transexuais.

"Inclusive uma transexual de Israel, veio pela primeira vez, e uma turca, que são países com bastante preconceito. Elas tiveram coragem de vir, enfrentar, e participar do concurso e representar o país delas, foi uma grande coragem."

Além de fazer com que a sociedade olhe com outros olhos para a comunidade transexual, de acordo com Sarah, a mensagem que fica, e que é a o objetivo do concurso, é dizer não a transfobia e acabar com a repulsa e o ódio e o preconceito gratuito contra pessoas e grupos com identidade de gênero travestis, transgêneros e transexuais. "Fiz uma grande campanha para divulgar esse concurso. O concurso passa uma grande mensagem, que é a de não a transfobia. Acho realmente que as pessoas precisam encarar de maneira diferente a comunidade transexual e LGBT."  

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