Espionagem militar na era da democracia: revelados documentos comprometedores no Uruguai

© AP Photo / Matilde Campodonico Participantes da 20ª Marcha do Silêncio em Montevidéu em memoria das pessoas desaparecidas durante a ditadura militar (1973-1985) no país, 20 de maio de 2015
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Após buscas na casa do falecido general Elmar Castiglioni foram encontrados e retirados arquivos que comprometem os serviços secretos.

"A revelação desses documentos mostra o fato de que a estratégia e a política de inteligência militar não mudou com a transição da ditadura para a democracia [no Uruguai] em 1985. A inteligência militar continuou trabalhando como trabalhou anteriormente", disse Samuel Blixen, um jornalista que está fazendo investigação no jornal Brecha, à Sputnik Mundo em entrevista ao programa GPS Internacional.

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"O mais chocante é que a inteligência militar no Uruguai tem um alto nível de autossuficiência. Muitos alvos dos documentos eram membros de partidos políticos legais. Assim, foram escutados telefonemas e estava sendo realizada a vigilância de altos funcionários do governo de Jorge Batlle, que esteve no poder de 2000 a 2005. Também foi realizada vigilância ao atual presidente do país, Tabaré Vázquez, quando ele foi prefeito da capital do país, Montevidéu, de 1990 a 1994", declarou Blixen.

O leque de espionagem era vasto. "É difícil definir quaisquer restrições ideológicas. Ela tocou todos os partidos. O Partido Comunista, o Movimento de Participação Pública e os sindicatos foram objeto de investigação, como, por exemplo, no tempo das manifestações contra a privatização de empresas estatais. Também foi realizada espionagem em relação a líderes de partidos de direita", explicou o jornalista.

Como salientou Blixen, após a restauração da democracia no país, nem a política, nem a estratégia da inteligência militar mudaram e se mantiveram constantes até 2009.

"Desde 1985, nenhum dos governos que estiveram no poder teve vontade política suficiente para reorganizar as forças armadas e limpá-las dos elementos que permaneceram desde os tempos da ditadura", esclarece Blixen.

O general Elmar Castiglioni "chefiou a inteligência militar desde os tempos da ditadura até ao triunfo da democracia. Há suspeita de que ele usou os documentos com o fim de chantagear e pressionar os políticos", contou o jornalista da edição Brecha.

"Dado o fato de que toda esta atividade ilegal estava sendo realizada na época dos governos de esquerda, é possível supor que os partidos de direita desejem contribuir para a investigação. Mas não acho que eles estejam interessados nisso. Não acho que o governo esteja pronto para se meter nisso. O governo quer saber a verdade, mas não quer criar dificuldades para os militares", disse Blixen.

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Comparando a situação no Uruguai com outros países da região, ele disse o seguinte: "No Paraguai, foram encontrados os Arquivos do Terror (Archivos del Terror), documentos do tempo da ditadura de Alfredo Stroessner descobertos em 1992. Ele contém informações sobre as relações entre a polícia e os militares. Na Argentina continua a busca de documentos e o governo, juntamente com organizações sociais, faz com que a população saiba mais sobre os crimes da ditadura no país. Por isso, continuam os processos judiciais. Já no Uruguai, todo esse processo está sendo travado."

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