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Marcos Troyjo: 'Brasil precisa de correção para voltar a crescer'

© Valter Campanato/Agência BrasilPalácio do Planalto
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O Brasil precisa voltar a crescer e, para isso, precisa de muita correção e de fazer um amplo trabalho de terraplenagem. É o que sustenta o diplomata, economista e cientista político Marcos Troyjo, diretor do BRICLab (o Laboratório dos BRICS da Universidade Columbia, NY) em análise sobre o atual momento da política e da economia nacionais.

Em artigo publicado na "Folha de São Paulo", sob o título "O Brasil está mais dependente do que nunca", Marcos Troyjo sugere ao presidente interino Michel Temer adotar o lema "Brasil, correção e terraplenagem", e diz que, "mais do que construir o futuro, a missão da equipe de Temer é trazer o Brasil do passado para o presente".

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Diante da repercussão do artigo de Troyjo, Sputnik Brasil ouviu o diplomata sobre o que ele considera como "extrema dependência" do país: "Durante muito tempo, o pensamento de centro-esquerda e de esquerda da América Latina, do Brasil, foi dominado pela chamada teoria da dependência, que era um pouco a ideia de que o sistema econômico internacional tinha passado por uma nova divisão do trabalho", diz Marcos Troyjo.

"Vigorava aquela ideia de que países que se concentrassem na produção de commodities agrícolas e minerais teriam sempre vantagens comparativas nesses setores, que lhes permitiriam fazer frente aos países de produção de bens de maior valor agregado, de bens industriais. Isso ficou um pouco para trás, nos anos 50."

O diretor do BRICLab conta ainda que Raúl Prebisch, teórico da CEPAL – Comissão Econômica para a América Latina e Caribe, fez um diagnóstico, a seu ver correto, de que os países latino-americanos também teriam que passar por uma série de industrializações para se tornarem menos dependentes do crescimento gerado nos países ricos, de modo que as janelas de oportunidades se abrissem para eles.

"O Brasil, que nos anos 90 conseguiu se desvencilhar um pouco disso durante os Governos de Fernando Henrique Cardoso, teve uma recaída nesse período longo da História que começa com a eleição de Lula em 2002 e que deve se encerrar com o impedimento definitivo da Presidente Dilma Rousseff. Durante esses últimos treze anos, nós voltamos a entender o mundo como um mundo entre a dependência de países desenvolvidos e a dos países em desenvolvimento, e, portanto, a autonomia, a soberania do processo nacional só seria obtida se fosse possível privilegiar conteúdo nacional nas compras governamentais."

Marcos Troyjo também explica o que entende por "terraplenagem da economia":

"O Brasil precisa reajustar sua macroeconomia, reajustar o papel das estatais, ou seja, é ter um Governo de correção, um ajuste. Os próximos dois anos e meio serão um período de correção, mas também poderão ser um período de terraplenagem. Por que terraplenagem? Há 10, 12 anos, foi publicado um dos livros mais influentes em relações econômicas internacionais, do jornalista do ‘New York Times’, Thomas Friedman, que se chama ‘O Mundo É Plano'. Friedman argumenta que o mundo é plano porque num determinado momento da história os países em desenvolvimento tinham condições menos favoráveis para o seu crescimento do que as economias avançadas. Era como se o terreno fosse torto, fosse inclinado em favor dos países desenvolvidos. Friedman argumentava que um dos benefícios da globalização é que se nivelavam as condições internacionais para se competir."

Marcos Troyjo conclui:

"O que eu argumento por terraplenagem é um pouco inspirado por essa imagem, ou seja, a ideia de que o Brasil precisa nivelar, harmonizar suas capacidades de competir internacionalmente. Por exemplo: adotando uma reforma trabalhista, que diminuirá a voracidade do Estado sobre a folha de pagamento; equilibrando a questão tributária de modo que terminem as guerras fiscais; fazendo alguma coisa em relação à Previdência Social, uma vez que é impossível num país, como é o caso do Brasil, em que as mulheres já têm uma expectativa média de vida de, praticamente, 80 anos, continuarem a se aposentar aos 52, 53 anos. Isso é um absurdo. Se o Brasil não fizer isso nos próximos dois anos e meio, tenho a impressão de que nós não vamos conseguir harmonizar a capacidade de competir. Ou seja, se não fizermos essa terraplenagem, esse nivelamento de terreno, a minha impressão é que essa boa vontade, quase que uma lua de mel que o mercado vive em relação ao Governo Temer, vai acabar se esvaindo de forma muito rápida."

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