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Especialista: 'Polêmica no Mercosul é mais uma trapalhada do governo'

© José Cruz/Agência BrasilRodolfo Novoa
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A cobrança de explicações feita pelo governo brasileiro ao uruguaio sobre declarações do chanceler Rodolfo Nin Novoa, de que Brasília estaria pressionando Montevidéu para que apoiasse o rebaixamento da Venezuela e impedisse sua posse na presidência rotativa do Mercosul, provocou efeitos.

Após o governo ter convocado o embaixador uruguaio para confirmar as declarações, o próprio Novoa telefonou ao ministro das Relações Exteriores, José Serra, e disse que as frases foram um mal-entendido. Pouco depois, a chancelaria uruguaia divulgava nota oficial, confirmando ter havido um ruído de comunicação nos diálogos. 

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Deputado do Parlasul acusa Serra de tentar impor um golpe no Mercosul

Brasil, Argentina e Paraguai têm pressionado para que a Venezuela não assuma o cargo, conforme previsto nas normas do bloco, no último dia 31, após o fim da vigência rotativa de seis meses exercida pelo Uruguai. Como os uruguaios não transmitiram oficialmente a presidência, os três sócios do Mercosul declararam que o posto está vago e que deve ser ocupado por uma comissão conjunta até se resolverem os problemas políticos na Venezuela. O governo de Nicolás Maduro, por sua vez, rejeitou a solução e disse que vai exercer o comando do bloco até o fim do ano.

Armada a polêmica, quem está com a razão?

Para Caio Manhanelli, coordenador em São Paulo da Associação Brasileira de Consultores Políticos (ABCP) e considerado um dos maiores especialistas em Mercosul, existem muitos culpados nessa história e no final das contas a polêmica não trouxe qualquer alteração no funcionamento do bloco. 

"O Mercosul continua funcionando, os carros argentinos e brasileiros continuam transitando de um lado para o outro, a soja continua transitando entre portos. O próprio Mercosul tem uma espécie de proteção contra oscilações políticas. Que instituição política é séria quando você tem uma alternância automática de seis em seis meses? O presidente não tem condições de impor mudanças devido às burocracias internacionais e nacionais. Não existe seriedade política em termos de Mercosul, o que existe é seriedade econômica e comercial."

Segundo Manhanelli, Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela estão politizando o Mercosul.

"O que o Brasil está demonstrando, desde o início do governo Temer, é equívoco atrás de equívoco, trapalhadas em cima de trapalhadas. O Uruguai lavou as mãos e fez o que tinha que fazer: cumpriu o mandato e saiu. Todos eles, inclusive esse chanceler (José Serra) que mal fala espanhol, machista inclusive, está tentando rechaçar a alternância automática na presidência, uma coisa que estava prevista, que o Brasil assinou e todo mundo concordou, e não foi no governo Dilma, foi lá atrás no de Fernando Henrique. O chanceler brasileiro está usando isso de palanque para se mostrar como uma figura de influência internacional, acreditando talvez em um portfólio para 2018. O Maduro, por sua vez, também está usando de palanque internacional, vitimizando a Venezuela, que não me parece cômoda em integrar o Mercosul. Dos dois lados você tem argumentos muito falaciosos e demagogos. No final das contas, o Mercosul não é político. A missão do Mercosul falhou em ser política."

Na avaliação de Manhanelli, a melhor solução hoje para esse impasse seria que a presidência do bloco passasse a um conselho da entidade, já que existe uma indisposição política de países como Argentina e Brasil, hoje não mais alinhados com a Venezuela como eram à época do ex-presidente Lula e da presidenta afastada Dilma Rousseff. Para o especialista, o Mercosul também falhou na integração cultural entre seus países-membros. Quanto à Venezuela, Manhanellli diz que, na verdade, o país nunca se integrou realmente ao bloco.

"O Mercosul com a Venezuela se transforma na quinta maior potência econômica do mundo e também em termos populacionais e territoriais. Acontece que a Venezuela de fato nunca entrou no Mercosul. São dois acordos principais, o aduaneiro, para facilitar o trânsito de produtos de um lado e de outro, em que a Venezuela não cumpriu com as alterações na legislação que necessitava para entrar no bloco. O segundo ponto é a legislação migratória, que também foi descumprida."

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