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Cresce a percepção de que impeachment não vai ‘passar o Brasil a limpo’

ENTREVISTA COM MAURICIO SANTORO 2 DE 12 08 16
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Durante palestra sobre mudanças climáticas e crise ambiental em São Paulo, a ex-senadora Maria Silva, porta voz da Rede de Sustentabilidade, disse que, embora legal, o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff não atende ao desejo da população brasileira de “passar o Brasil a limpo”.

Marina defendeu novamente, no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a cassação da chapa vitoriosa de Dilma e de seu vice, Michel Temer, na eleição de 2014, por conta das denúncias de uso de recursos ilícitos na campanha, como os desviados da Petrobras e que são alvo de investigações pela Operação Lava Jato.

Apesar de ter elogiado a decisão de Temer na montagem da nova equipe econômica, Marina disse que o presidente interino não dialoga com as grandes questões em discussão hoje no mundo. A porta-voz da Rede disse também que o mundo vive uma crise civilizatória e que a política se mostra impotente para resolver os problemas da humanidade.

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A desilusão com o panorama político brasileiro e com a crise ética no Congresso cria um cenário que corrobora a afirmação de Marina de que o impeachment não vai resolver os problemas do país.

O professor de Relações Internacionais da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) Maurício Santoro é um dos que se diz completamente cético quanto à possibilidade de se obter uma melhoria do sistema.  

“Estamos vivendo, ao longo de todo esse processo (de impeachment), questões jurídicas bastante questionáveis, e mais do que isso uma mobilização por parte do que existe de mais conservador da política brasileira em apoiar esse processo e como muitos políticos envolvidos em escândalos de corrupção estão usando isso para se proteger.” 

Santoro não se refere apenas ao impeachment da presidente, mas também ao processo que sofre o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha. Segundo o professor, depois de mais de um ano de investigações Cunha perdeu o cargo, mas não influência. 

“Ele continua uma figura importante nos bastidores do governo, emplacou vários de seus aliados em cargos chave. Ele é parte da ironia de todo esse processo, muitas vezes conduzido por políticos que têm contra eles acusações muito mais graves do que as feitas à presidente Dilma.”

Na avaliação de Santoro, se Cunha contar o que sabe certamente muitas cabeças cairão em vários partidos políticos. A questão é se ele vai fazer isso. Para o especialista, muito provavelmente ele vai utilizar essa ameaça para tentar conseguir uma série de vantagens e garantir a própria anistia.

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Votação de cassação de Cunha será em setembro, depois do final do processo de impeachment

Em relação à esperança de vários movimentos sociais de que o impeachment contra Dilma possa ser derrotado com a mobilização nas ruas, Santoro se mostra muito cauteloso.

Sou muito cauteloso quanto à possibilidade de uma mudança para anular o impeachment. 

“Vimos um enfraquecimento muito grandes das manifestações populares. O jogo político voltou a ficar mais restrito ao Congresso e aos partidos, que estão procurando fazer seus arranjos nos esquemas de sempre. Só haveria a possibilidade de um desfecho diferente caso acontecesse uma nova onda de mobilização nas denúncias que estão sendo feitas contra Temer, Serra e outros expoentes do governo interino.”

Na análise de Santoro, o enfraquecimento se deve ao próprio cenário do impeachment. 

“Foi uma polarização muito grande, reunindo de um lado o PT e forças de esquerda e de outro um amálgama de movimentos conservadores que têm muito pouco em comum entre si a não ser a rejeição ao governo petista. A partir do momento em que houve o afastamento temporário da presidente, essas coalizações se enfraqueceram muito.”

O professor da UERJ aponta uma dificuldade muito grande dos movimentos de esquerda de organizar uma agenda comum em termos de reforma política, agenda alternativa diante da agenda do governo interino muito hostil ao arcabouço do estado de bem estar social que aos trancos e barrancos se conseguiu construir no Brasil desde a Constituição de 88.

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