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Sem Terra vão aproveitar Olimpíada para defender reforma agrária no Brasil

ENTREVISTA COM KELLY MAFORT 2 DE 03-08-16
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O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) estão se organizando, com outras organizações, durante os Jogos Olímpicos no Rio, para defender a reforma agrária no país e denunciar a situação que consideram de flagelo social com cerca de 90 mil famílias vivendo em tendas à espera da concessão de posse de terras.

Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, Kelly Mafort, integrante da direção nacional do MST, fala das ações que estão sendo executadas em nove estados, entre ocupações de fazenda, bloqueios de rodovias, manifestações em várias cidades e ocupações de prédios públicos. A ideia é aproveitar a grande visibilidade internacional que a Rio 2016 está obtendo, para denunciar, entre outros pontos, o avanço do grande agronegócio no campo, a sonegação de impostos praticada pelos grandes latifundiários, e reivindicar uma reforma agrária popular e contra o golpe instaurado pelo governo interino com o afastamento da presidente Dilma Rousseff.

 O MST também se opõe ao sucateamento do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), a extinção do Ministério do Desenvolvimento Agrário, e à utilização crescente de agrotóxicos na agricultura brasileira, ameaçando a saúde de milhões de brasileiros. As últimas ações realizadas pelo MST foram a ocupação das terras da Usina Lambari, em Jaú, interior de São Paulo, do Grupo Atalla, na última terça-feira, e da Usina Santana Helena, do Grupo Naoum, em Santa Helena de Goiás (GO) na véspera.

Kelly diz que o  Grupo Atalla é um dos maiores sonegadores fiscais do país, com cerca de R$ 5 bilhões em impostos não pagos e inúmeros processos em dívidas trabalhistas e com o INSS. O grupo concentra 200 mil hectares em terras no Estado de São Paulo e tem inúmeros processos de execução fiscal que correm nas varas estaduais e federais. Só no município de Jaú, existem 108 processos de execução fiscal em âmbito da Fazenda Nacional.

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 “No Brasil, a regra dos grandes fazendeiros é não pagar imposto. A população tem que se revoltar. Ao mesmo tempo em que grupos como esses seguem contraindo ainda empréstimos de bancos públicos, temos só no Estado de São Paulo três mil famílias debaixo de lona, 90 mil no país nos últimos seis, sete anos, numa luta de muito sacrifício por um pedaço de terra.”

A integrante da coordenação nacional do MST também denuncia a detenção de militantes como forma inédita de intimidação.

“Temos dois militantes, trabalhadores rurais, o Valdir e o Luis,  presos em Goiás. Eles são os primeiros presos políticos enquadrados na Lei do Crime Organizado, que está em vigor desde 2013 e na qual agora os movimentos sociais passam a ser enquadrados. Isso é grave, porque aumenta a pena, diminui o direito de defesa e enquadra a luta por terra e moradia, e democracia como um crime. A população precisa se manifestar, porque isso significa tolher a liberdade política e o direito democrático de organização.”

Kelly afirma que isso, no momento político do Brasil, é bastante preocupante.

“A sociedade tem nos movimentos sociais uma voz de resistência e protesto. Toda vez que os movimentos sociais e suas lideranças são calados a própria sociedade está sendo calada. Tivemos um longo período de ditadura militar no Brasil e na América Latina, e qualquer possibilidade de calar a boca dos movimentos é também um retrocesso e uma volta aquilo que a duras penas o povo brasileiro conquistou nas suas liberdades democráticas.”

Com relação aos próximos planejamentos, Kelly garante que o processo de luta é permanente.

“A causa da reforma agrária está completamente esquecida no país, e agora ainda mais criminalizada pelo governo Temer, mas também é preciso dizer que o governo Dilma também pouco fez pela reforma agrária. Não vamos desistir da luta pela terra, porque isso é um direito básico dos trabalhadores. Também não vamos desistir porque não concordamos que o povo brasileiro se alimente de veneno. Hoje somos o país que mais consome agrotóxicos no mundo. Defendemos a agroecologia, a agroflorestal, é possível pensar um campo de defesa ambiental e ter uma alimentação saudável. Nossa causa é justa e ninguém vai parar o movimento.”

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