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Professora de História usa o Funk para atrair alunos para sala de aula

ENTREVISTA COM ANE SARINARA 2 DE 01 07 16
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Impedir a evasão escolar e tornar o ensino mais interessante para os jovens. Este parece ser um dos grandes desafios dos educadores, mas na periferia de Osasco, em São Paulo, a professora de História, Ane Sarinara, de 27 anos, encontrou na música e no funk, um caminho fora do ensino tradicional, para tornar suas aulas mais atraentes para os alunos.

Em entrevista exclusiva para Sputnik, Ane Sarinara contou que a ideia partiu de conversas que tinha com os alunos nos horários do recreio para tentar conhecê-los um pouco mais. 

Segundo Ane Sarinara, por também ter crescido na periferia paulista, a música, especialmente o funk, era um fator em comum que a unia aos alunos.

“Eu ia para o intervalo, tentava conhecer um pouco a região em volta da escola, e percebi que muitos alunos tinham o sonho de ser MC (sigla que identifica cantores de Rap, Hip-Hop e Funk), mas esses alunos não prestavam atenção na aula, não gostavam de ficar na escola. Como eu também sou da periferia, eu sempre escutei muito funk também, e percebi que dava para usar a criatividade deles para deixar a aula um pouco mais atrativa e divertida.”

A educadora ressaltou que com toda a tecnologia hoje ao alcance dos jovens, o ambiente escolar parou no tempo, o que torna o espaço desinteressante para os estudantes.

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“Sala de aula é um ambiente chato, não adianta mentir, porque a escola parou no tempo, ela não está avançando. Hoje temos outro tipo de jovens. Eles mexem na internet, escutam música, assistem televisão tudo ao mesmo tempo, então, não adianta querer que eles fiquem sentados olhando para a lousa, porque ele não vai prestar atenção. Você também não pode imunizar a criatividade deles. Eles precisam sentir que fazem parte daquilo. O funk foi um modo que eu encontrei.”

Para a professora de história, assim como a música é um reflexo de como é a sociedade, o funk também é um reflexo da periferia.

“A música é machista, é racista, ela exclui as pessoas, então o funk é um reflexo também da periferia, o que eles vivem, eles escrevem, é assim que eles fazem a música. Eu pensei, eu gosto de funk e eles também. Vamos ver um modo desse funk agregar algo positivo para as pessoas. Eu tinha um conteúdo de história, onde os alunos já acham uma linguagem chata, e sugeri a eles a criarem a melhor forma de passar esse conteúdo, e aí foi a música.”

Depois que adotou o novo método de ensino, Ane Sarinara disse que constatou maior interesse em sala de aula e até mesmo os alunos, que não gostavam de estudar, passaram a ter outro comportamento. A professora destacou, que a participação dos alunos em criar canções, também é uma forma de valorizar a cultura da periferia e regiões mais pobres das cidades, normalmente excluídas pela sociedade.

“Os alunos ficaram mais participativos. A periferia não é valorizada, as pessoas da periferia não são valorizadas, e o fato de você pegar uma criação do próprio aluno e dar espaço para ele falar o que ele entendeu, e o que quer passar na linguagem dele, é valorizá-lo como pessoa. O aluno, por exemplo, não conseguia se expressar muito em redação, mas cantando ele consegue se expressar. Ele não deixou de escrever ou de estudar, eu só mudei a forma, não tem muito segredo.”

Mesmo diante de um quadro de desmotivação da categoria dos professores no país não só devido a baixos salários, mas também pelas más condições de infraestrutura para o ensino, como a problemática da violência contra profissionais de educação em sala de aula, Ane Sarinara destaca que o sistema precisa motivar o professor, o valorizando como um ser humano e dando a devida importância a categoria. Porém, a educadora ressalta, que também é preciso que o professor não desista, e olhe o aluno de forma individual e os oriente de forma crítica. “O professor tem que olhar para o aluno como um indivíduo e não como um bloco, como se eles fossem a mesma coisa. Ensinar seus alunos de forma crítica, porque senão vamos continuar na mesma situação. Não podemos nos deixar cair pela rotina, nos deixar levar pelo sistema, porque sabemos que no Brasil a educação não está voltada para criar pessoas reflexivas, pessoas que transformam o seu espaço. Ele quer domesticar, e nós não podemos aceitar isso assim e jogar a toalha simplesmente.”

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