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Polícia Civil do Estado do Rio pode entrar em greve durante os Jogos Olímpicos

ENTREVISTA COM CLAUDIO ALVES 2 DE 28 06 16
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"Welcome to hell" ("Bem-vindos ao inferno"). Essa era uma das faixas que recepcionavam os turistas que desembarcavam no aeroporto internacional Tom Jobim, no Rio, na segunda-feira, 27. A faixa e outros cartazes eram exibidos por policiais civis do Estado denunciando o completo estado de falência da corporação às vésperas dos Jogos Olímpicos.

A faixa "Bem-vindos ao inferno" era complementada pelos dizeres: "Policiais e bombeiros não são pagos. Qualquer pessoa que vier para o Rio não estará segura."

O Estado do Rio atravessa uma grave crise financeira, há ponto de, há duas semanas, o governador em exercício, Francisco Dornelles, ter baixado um decreto de estado de calamidade pública financeira. A União prometeu recursos emergenciais a fundo perdido no valor de R$ 2,9 bilhões, dos quais apenas uma pequena parcela será direcionada ao pagamento das horas extras dos milhares de agentes de segurança que virão à cidade trabalhar na segurança do evento. A notícia de que o dinheiro não será utilizado para pagar os salários dos servidores, nem para amenizar a situação de extrema penúria de delegacias e equipamentos irritou policiais e bombeiros, que prometem entrar em greve durante os Jogos Olímpicos.

A Polícia Civil está sem água, papel higiênico — que na 9ª Delegacia, no Catete, é doado pelos moradores do bairro — papel para registro de ocorrência, tem limite de 30 litros diários de combustível por viatura, entre outras restrições que têm contribuído para aumentar a insegurança da população fluminense.

Em entrevista exclusiva à Sputnik, o porta-voz do Sindicato dos Policiais Civis do Estado do Rio de Janeiro, Cláudio Alves, diz que a situação é de caos no Estado do Rio, tanto na Polícia Civil quanto na Polícia Militar. Alves lembra que os policiais civis fizeram um grande protesto na segunda-feira em frente à chefia de polícia com passeata até a Assembleia Legislativa e confirmou a manifestação em inglês no Tom Jobim durante a recepção dos turistas. 

"Não há dinheiro para nada na Polícia Civil: falta papel, papel higiênico, falta água, vários telefones foram cortados, o IML (Instituto Médico Legal) está um caos, funcionando com metade do efetivo previsto. A sala de necropsia chegou a ficar fechada na semana passada e depois reabriu porque contrataram pessoal de limpeza."

Segundo o porta-voz do Sindipol, parte desse quadro caótico no Estado e na polícia se deve à falta de pagamento à empresa que faz o asseio e a conservação das unidades. Alves diz que cada delegacia contrata do seu jeito alguém para fazer a limpeza, ou o próprio policial, homem ou mulher, se encarrega dessas tarefas. 

"Tinha que suspender (o trabalho no caso do IML), porque não tinha como fazer necrópsia. Até hoje o IML não tem bisturi, serra elétrica, material para fazer necropsia, não tem o álcool absoluto, que é um álcool que você usa para fazer exame de patologia para poder identificar o tipo de doença caso a pessoa tenha sido envenenada. É uma série de coisas que está faltando e provocando esses protestos todos aqui no Rio de Janeiro."

O que decepcionou a maioria dos servidores e policiais civis e militares é que os R$ 2,9 bilhões prometidos pela União — e ainda não liberados devido à última etapa de análises técnicas — é que essa verba seria empregada apenas para as Olimpíadas, para reforçar a segurança, pagar diárias para o pessoal da Força Nacional de Segurança e toda a estrutura que vai ficar à disposição das Olimpíadas e não para salários. 

"Os salários estão vindo parcelados, o calendário de pagamentos foi alterado. Antes era até o primeiro, segundo dia útil, hoje só é pago no décimo dia útil. O  último pagamento saiu dia 14. A situação é realmente muito complicada. No próximo dia 12 de julho, às 14 horas, haverá uma assembleia geral na Fasp (Federação das Associações dos Servidores Públicos) com indicativo de greve na Polícia Civil. A Fasp fica na esquina da Avenida Passos com a Rua São Tomé, no Saara. Pode-se decidir por parar no início dos Jogos Olímpicos."

O estado de penúria da Polícia Civil atinge até o setor de apoio aéreo.

"Os helicópteros da Polícia Militar não tem blindagem. O da Polícia Civil, o Huey — helicóptero utilizado na Guerra do Vietnã e que o governo do Estado adquiriu há uns quatro, cinco anos — é um helicóptero todo blindado. Esse, sim, suporta até tiros de fuzil. Está parado porque não tem combustível. O outro helicóptero não é blindado, mas também está parado, porque não tem gasolina, peças de reposição, manutenção. O Estado não pagou a essas empresas que prestam serviços."

Segundo o porta-voz do Sindipol, até a questão da autodefesa dos policiais e da garantia de segurança à população, através do armamento, está afetada.

"Munição há muito tempo está sendo diminuída. Se não me engano, o policial tem direito a 12 munições por ano. Muito policial compra do próprio bolso a sua munição. É uma situação realmente gravíssima." 

A Sputnik entrou em contato com o Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos Rio 2016 para tentar saber qual a reação do comitê quanto ao protesto realizado pelos policiais civis no Tom Jobim e se esse tipo de manifestação pode prejudicar a imagem do Rio e do Brasil no exterior. Até o fechamento desta matéria, porém, não houve retorno à solicitação.

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