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Acordos Taiwan-Paraguai ameaçam unidade do Mercosul?

ENTREVISTA COM JOSE MARIA DE SOUZA 2 DE 28 06 16
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A presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, se reuniu nesta terça-feira, 28, com o presidente do Paraguai, Horacio Cortes, assinando acordos de cooperação em vários setores, em especial energia solar, têxteis e alimentos. A proximidade entre os dois países se dá independentemente dos demais países do Mercosul: Brasil, Venezuela, Argentina e Uruguai.

A viagem de Ing-wen é a segunda internacional da mandatária, que no domingo participou das solenidades de ampliação do Canal do Panamá ao lado de representantes de diversos governo. A iniciativa do Paraguai, de tentar isoladamente fora do bloco negociar acordos comerciais com outros países segue a estratégia já defendida pelo governo interino do Brasil. Desde que foi empossado à frente do Ministério das Relações Exteriores, o ministro José Serra tem defendido a posição que o Brasil negocie em separado com outros blocos, como União Europeia, Estados Unidos, China, entre outros.

Para muitos especialistas em comércio exterior, a tendência de que outros membros do Mercosul também comecem a prospectar negócios fora do bloco pode representar uma ameaça a médio e longo prazo em relação à própria integridade do Mercosul como bloco.

Para o professor de Relações Internacionais das Faculdades Rio Branco José Maria de Souza Jr., esse é um dilema que o Mercosul vive e não é de hoje. O especialista lembra que, há algum tempo, a China também fechou um acordo com a Argentina, o Brasil sempre flerta com a União Europeia dentro do que se diz um acordo bilateral Mercosul-UE. Ele, porém, faz algumas ressalvas.

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"O Mercosul tem uma projeção também na esfera política e estratégica. Esses âmbitos têm uma intersecção, mas também uma área autônoma para cada um. O problema é um certo travamento com relação às negociações e ao entendimento das lideranças. Isso o Mercosul sofre desde a segunda metade da década de 90, quando acontece uma crise nos mercados financeiros e que acaba prejudicando Brasil e Argentina. De lá para cá, esse entendimento entre as lideranças é claudicante."

Souza Jr. diz que é preciso uma maior decisão: quais são os rumos que cada um dos Estados do Mercosul quer para si e como isso vai impactar o próprio bloco. Ele observa, porém, que comparações entre blocos são muitas vezes inviáveis.

"O comércio dentro do Mercosul não tem como ser algo extremamente alto, como os que os países da União Europeia trocam entre si. E por que? Porque a complementariedade das cadeias produtivas do Mercosul é muito baixa, ou seja, produzimos coisas muito parecidas."

Quanto ao futuro do bloco, Souza Jr. afirma que as associações normalmente têm prazos e nada é imutável.

"Nada é para sempre. Vemos aí o próprio movimento do Reino Unido na UE, dando um passo atrás no projeto de integração. Não sou um dos analistas que acha que o Mercosul vai e tem que durar para sempre. Agora, independente de a gente chamar de Mercosul, ou dizer que existe um projeto político de integração, a interdependência entre os atores da região,  ela existe e vai sempre existir. O modelo que a gente trata desde o final da Segunda Guerra Mundial é um modelo de integração regional. Se isso vai continuar ou não não dá para saber, pode um dia não existir mais."

O especialista lembra que Argentina, Venezuela, Paraguai e Uruguai são interdependentes, mas as assimetrias comprometem o aprofundamento da integração. O professor da Rio Branco não vê o fim do bloco no médio prazo, porque houve muitas conquistas em relação à proximidade política, independente de discursos ideológicos. Segundo ele, essa é uma proximidade de Estado, além de uma proximidade de governo, e isso é uma conquista para os países da região independente de quem está assumindo o governo.

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