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O Brasil e o Brexit: Efeitos serão sentidos em médio prazo

ENTREVISTA COM ANTONIO GELIS COM CREOMAR DE SOUZA E COM GUNTHER RUDZIT
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O Brasil, como os demais países, não ficará imune aos efeitos da decisão do eleitorado do Reino Unido pelo desligamento da União Europeia. As consequências serão sentidas em médio prazo, na medida em que o afastamento se consolidar. Esta é, em resumo, a opinião dos especialistas ouvidos por Sputnik sobre o Brexit.

Antônio Gelis, professor de Estratégia Internacional e Geopolítica na Fundação Getúlio Vargas em São Paulo, sustenta que o Brasil passará a sentir agora os desdobramentos do processo econômico global com esta mudança de comportamento no Reino Unido:

“Cada vez mais o mundo se dá conta de que está havendo uma transição de poder do Ocidente para a Eurásia”, afirma Gelis. “A antiga influência e a predominância dos Estados Unidos e dos países europeus estão dando lugar a uma crescente importância do chamado outro lado do mundo. O Brasil terá de se adaptar, forçosamente, a esta nova realidade, ou então ficará para trás diante das demais nações.”

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Já Creomar de Souza, professor de Relações Internacionais da Universidade Católica de Brasília, diz que o Brasil terá de esperar pela decisão dos demais membros do Reino Unido:

“A população da Inglaterra já disse claramente que não quer mais ficar na União Europeia. Escócia e Irlanda já falam em se emancipar do Reino Unido e realizar seus próprios referendos. E o País de Gales deverá ser o único país a formar com a Inglaterra o Reino Unido. Necessariamente, o Brasil terá de esperar pelas futuras decisões de escoceses, irlandeses e galeses para redefinir suas relações com o Reino Unido.”

Outro especialista, Gunther Rudzit, coordenador dos Cursos de Relações Internacionais das Faculdades Rio Branco em São Paulo, está convencido de que os atuais planos do Brasil e dos demais países da América do Sul entrarão em compasso de espera:

“Sem qualquer dúvida, os antigos planos de aproximação entre Mercosul e União Europeia sofrerão um novo retardamento”, analisa o Professor Rudzit. “A prioridade dos europeus neste momento será equacionar os efeitos da saída do Reino Unido da União Europeia. E o Brasil, principalmente o da gestão do Presidente Michel Temer, defensor da aproximação entre o Mercosul e o bloco europeu, será um dos principais prejudicados por esta consequência.”

O Professor Antônio Gelis, que em outras entrevistas à Sputnik tem falado na possível dissolução da União Europeia, observa:

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“A saída do Reino Unido do bloco europeu é o primeiro sintoma visível e claro desta dissolução. A União Europeia é hoje uma casca burocrática  cada vez mais vazia de conteúdo institucional real. Isto é um sinal de agravamento da crise europeia, que irá desencadear outros sérios problemas. Na Holanda, por exemplo, o candidato nacionalista a primeiro-ministro na eleição parlamentar do próximo ano, Geert Wilders, já declarou que votar nele é votar no primeiro passo para que a Holanda saia da União Europeia; Marine Le Pen, forte candidata de extrema direita à eleição presidencial de 2017 na França, sugeriu que um referendo como o do Reino Unido seja realizado em todos os países da União Europeia. E assim o movimento vai se espalhando pela Europa, tudo sob o pano de fundo dos problemas criados pelas ondas migratórias.”

Para Creomar de Souza, a decisão dos eleitores do Reino Unido não pode ser vista como surpresa:

“Embora as pesquisas de véspera anunciassem uma inclinação maior pela permanência do Reino Unido na União Europeia, no interior se fortalecia o sentimento contrário, o da saída. Foi este que acabou prevalecendo. O Partido Trabalhista falhou no cumprimento das metas que havia anunciado, e o eleitorado conservador detectou isso. Somando estes fatos à difícil questão da absorção das correntes migratórias, o eleitorado do Reino Unido decidiu dizer não à União Europeia.”

Na opinião de Gunther Rudzit, as consequências para os países europeus da afluência das correntes migratórias de vários países materializaram-se no referendo de quinta-feira:

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“Este referendo mostrou uma clara divisão no eleitorado do Reino Unido. Observando os mapas eleitorais, vimos que houve uma séria divisão. De um lado, os jovens eleitores, europeizados, globalizados, votaram pela permanência do Reino Unido na União Europeia, apesar de todos os problemas que os europeus estão enfrentando. Já os eleitores mais antigos e mais conservadores, saudosistas da história avassaladora do Império Britânico, votaram pelo desligamento. Foram estes eleitores que decidiram os rumos do Reino Unido. Foram eles que prevaleceram, e o recado que mandaram pelas urnas foi mais do que claro: o Reino Unido é dos britânicos.”

No referendo de quinta-feira, 52% dos eleitores britânicos votaram pela saída do Reino Unido, e 48% optaram pela permanência. Após o anúncio do resultado, o Primeiro-Ministro David Cameron anunciou sua renúncia, mas ainda permanecerá no cargo até outubro, período em que o Parlamento escolherá o novo chefe de Governo. Um dos principais candidatos para a vaga aberta por David Cameron é o ex-prefeito de Londres, o conservador Boris Johnson.     

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