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Manifestação na Espanha denuncia ingerência externa no Brasil e na Venezuela

ENTREVISTA COM FERNANDO ALMEIDA 2 DE 16 06 16
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Manifestações contra o processo de impeachment no Brasil e as tentativas de desestabilização do governo na Venezuela continuam a eclodir em várias partes do mundo. Na Espanha, cerca de 30 associações políticas e movimentos sociais firmaram um manifesto em que denunciam a "ingerência política" da Espanha na América Latina.

As entidades signatárias realizaram manifestação na quarta-feira, 15, em Madri, onde entregaram o documento ao embaixador venezuelano na Espanha, Mario Isea. A Plataforma Bolivariana de Solidariedade com a Venezuela informou que um dos objetivos do protesto é mostrar solidariedade ao Brasil e à Venezuela devido às ingerências de EUA e Espanha no quadro político dos dois países. O manifesto denuncia ainda que os EUA redobraram seus esforços em empreender uma "operação de retrocesso na América Latina", tentando desprestigiar o governo venezuelano por sua aposta em modelo anticapitalista e alternativo. No caso do Brasil, o documento afirma que o afastamento da presidente Dilma Rousseff é outra amostra desta "ingerência de corte golpista".

No Brasil, a Sputnik solicitou entrevista ao embaixador da Venezuela em Brasília, Alberto Padilla, para comentar o assunto. Até o fechamento da edição, contudo, a embaixada não respondeu à solicitação.

O professor de Relações Internacionais da Universidade Federal Fluminense (UFF) Fernando Almeida diz que, no caso da Venezuela, esses protestos vêm sendo corriqueiros nos últimos anos dada às profundas divergências entre o governo espanhol e as administrações do então presidente Hugo Chávez e agora de Nicolás Maduro.

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"O espanhóis têm bastante informações sobre a forma como os sucessivos primeiros-ministros da Espanha e o ex-rei (Juan Carlos) se comportaram com referência à Venezuela. É só lembrarmos quando houve a 12ª Conferência ibero-americana em 2007 e o presidente Hugo Chávez criticava o ex-primeiro ministro Aznar pelo apoio que ele teria dado ao golpe venezuelano em 2002 e o rei da Espanha mandou que o presidente venezuelano se calasse. 'O por que não te calas?' foi uma frase pesadíssima que levou Chávez a retrucar que era tão chefe de Estado quanto ele, 'só que fui eleito e ele não'.

Almeida lembra que desde 2001, quando do início das Cúpulas ibero-americanas — a desse ano vai ser na Colômbia e provavelmente vai haver mais problemas — esses encontros desfrutavam de muita repercussão na imprensa, mas  elas acabaram sendo superadas por outras como as da União de Nações Sul Americanas (Unasul). Segundo o professor, com a perda de atenção midiática, os conservadores perderam um fórum importante. 

"Na Espanha havia essa ideia de recuperar o prestígio espanhol no continente. Nos anos 90 eles investiram muito no continente com as privatizações, investiram bastante no Brasil e agora com toda a crise que estamos vendo na Venezuela devem estar ocorrendo algumas intervenções até pelas atitudes de embaixadas, consulados."

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Na opinião do especialista, as manifestações como a ocorrida agora em Madri acontecem porque há um histórico de intervenções estrangeiras para desestabilizar governos eleitos democraticamente na América Latina. 

"Não são tão graves quanto as que os Estados Unidos promoveram. A fala do rei (Juan Carlos) deixou isso muito claro. Havia um desconforto muito grande com a presença de Hugo Chávez à testa do governo venezuelano. Agora com o Maduro é a mesma coisa. Eles não são provenientes das elites tradicionais da Venezuela, têm um projeto antissistêmico. A preocupação com o Brasil se deve ao momento político que estamos vivendo onde é seguro que há ingerência estrangeira pelo financiamento dos movimentos que houve. Não pode ser considerada a ingerência da Espanha, mas sim a dos Estados Unidos."

O professor da UFF diz compreender que é politicamente compreensível que haja essas sucessões de partidos diferentes com programas diferentes. 

"Agora era de se esperar que isso viesse por via eleitoral convencional. Pela lógica da democracia, se deveria esperar até 2018 para troca do governo. O que aconteceu foi uma articulação enorme. O Fernando Henrique Cardoso chamou de artimanha para não chamar de golpe. No caso da Argentina foi uma eleição. Lá pelo menos o Macri tem legitimidade. Ele foi eleito por uma parcela expressiva do eleitorado. No Paraguai houve também uma interrupção por via institucional de um governo eleito democraticamente."

Segundo Almeida, existe sim uma tendência de ressurgimento da direita na América do Sul. 

"O reparo que é feito em países sul americanos é orquestrado por grandes grupos empresariais, pela mídia. No nosso caso, os historiadores do futuro vão ter uma dificuldade muito grande de fazer ligações de todos os que participaram do processo de impeachment. Temos federações de indústria, televisões, jornais, revistas semanais. E aí entra o sistema tradicional, político, o principal partido o PMDB. É uma articulação muito grande. Como o país também é muito grande, o Brasil é visado por todos os interesses internacionais. O caso brasileiro também fica parecido com o venezuelano em termos de serem grandes países produtores de petróleo."

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