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Deu no NYT: Mulheres no poder são alvo de machismo latente na política da América Latina?

© Roberto Stuckert Filho/ PR/FotosPúblicasPresidente Dilma Rousseff participa da Cerimônia de abertura da 4ª Conferência Nacional de Política para as Mulheres, em Brasília. 10/05/2016
Presidente Dilma Rousseff participa da Cerimônia de abertura da 4ª Conferência Nacional de Política para as Mulheres, em Brasília. 10/05/2016 - Sputnik Brasil
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Afastamento da primeira presidenta mulher do Brasil, ministério sem mulheres de Temer, processo judicial contra a ex-mandatária argentina Cristina Kirchner e queda de popularidade de Michelle Bachelet, no Chile: "o gênero é um fator?", questiona o jornal New York Times.

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Mulheres em Defesa da Democracia repudiam machismo e discriminação contra Dilma
O jornal New York Times publicou um artigo neste final de semana chamando a atenção para os recentes ataques sofridos pelas mulheres empoderadas da América Latina. Do afastamento da primeira presidenta mulher do Brasil e do ministério sem mulheres de Temer ao processo judicial contra a ex-mandatária argentina Cristina Kirchner e a queda de popularidade de Michelle Bachelet, no Chile, fica a pergunta: o gênero é um fator?

Ecos do patriarcado

“Gênero, dizem os analistas, não é a causa dos atuais problemas das líderes. Mas, acrescentam eles, o declínio coletivo das três mulheres aponta para uma persistência de atitudes machistas na região, especialmente dentro do establishment político”, afirma o NYT.

A conquista feminina de cargos públicos nos últimos cinco anos e, agora, seu aparente declínio nos “corredores do poder da América Latina” evidencia a atuação de “forças poderosas que resistem a estas mudanças”, segundo colocou Sergio Berensztein, um proeminente comentarista político argentino citado pelo jornal norte-americano.

“Mas e a corrupção?”

Mesmo levando em consideração que as causas dos recentes eventos em torno de Rousseff, Kirchner e Bachelet envolvem insatisfações populares contra escândalos de corrupção e crises econômicas, "é como se as líderes mulheres estivessem recebendo toda a repercussão pela corrupção dos homens", segundo afirma Farida Jalalzai, professora de política de gênero na Universidade Estadual de Oklahoma.

"Seria surpreendente se não houvesse a dinâmica do gênero por trás disso", disse ela ao jornal. 

Neste sentido, o NYT destaca que, de fato, “vários funcionários do governo de Cristina Kirchner, incluindo o ex-vice-presidente Amado Boudou, foram marcados por casos de corrupção. Mas foi ela quem recebeu o impacto da ira do público na sexta-feira, depois que um juiz a indiciou por acusações relacionadas a um escândalo financeiro que ela nega”.

​Além disso, diz o jornal, “no Brasil, a indignação pública sobre um escândalo de propinas na companhia nacional de petróleo se aglutinou em torno de Dilma e ajudou a impulsionar o processo de impeachment, mesmo que ela não esteja diretamente nomeada na investigação”.

Haveria um homem por trás de toda grande mulher na América Latina?

Antes de Kirchner assumir em 2007 após o mandato de seu marido, Nestor Kirchner, Eva Perón já havia ganhado destaque na história da Argentina na década de 1940, ao lado de seu marido, o ex-presidente Juan D. Perón. 

​Dilma, também, apesar de sua longa história de militância política, virou presidente após ser escolhida como sucessora por um homem, Luiz Inácio Lula da Silva.

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​O caso de María Eugenia Vidal, eleita governadora da província de Buenos Aires no ano passado, é de particular interesse neste sentido pelo fato de ela não ter dependido de um colega mais popular do sexo masculino ou de um cônjuge mais famoso para chegar ao poder, segundo afirma o jornal. Ainda assim, “o foco em sua vida pessoal por parte da mídia local, incluindo reportagens sobre a forma como ela perdeu peso, indica um progresso balbuciante”, diz o diretor de uma firma de consultoria argentina citado pelo NYT.

Belas, recatadas e do lar

“Mesmo que o sistema de cotas venha impulsionando as carreiras de mulheres políticas na região, há uma sensação de que as atitudes tradicionais nunca realmente ficaram para trás”, diz o jornal. “A mais recente safra de esposas presidenciais, dizem os observadores, são modelos de feminilidade”.

O NYT cita particularmente o caso do presidente interino do Brasil, Michel Temer, “que nomeou um gabinete desprovido de mulheres” e “é casado com uma ex-participante de concurso de beleza”.

​ Juliana Awada, esposa do presidente Mauricio Macri na Argentina, é uma designer de moda, lembra o jornal. 

​“Isabel Macedo, a nova noiva de Juan Manuel Urtubey, um proeminente governador argentino com ambições presidenciais, foi uma atriz de telenovelas, como tem Angélica Rivera, a primeira-dama do México”, observa o NYT. "É uma manifestação de atitudes machistas residuais", opina Berensztein, fechando o artigo.

Para além do establishment masculino: a voz das ruas

Apesar do ataque às figuras femininas empoderadas da América Latina, é visível também o crescimento paulatino da pauta feminista na formação de base dos movimentos sociais de esquerda na região. No âmbito das manifestações populares contra um projeto neoliberal de direita para o continente, as feministas têm ocupado uma das principais frentes, lembrando que o combate ao patriarcado sempre foi e ainda é um dos pilares fundamentais na luta anticapitalista.

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“Não vamos tolerar nenhum direito a menos para as mulheres e para o todo o povo latino americano! A direita conservadora e golpista se esquece que a América Latina é um continente de luta e que em todo o nosso continente as mulheres estão na linha de frente da resistência contra os retrocessos que esses setores querem promover em resposta a todos os avanços conquistados nesse ciclo de governos progressistas que construíram um espaço político de autonomia e de combate às desigualdades na América Latina”, afirma uma das militantes que discursou no ato realizado na Cinelândia, na última sexta, contra o afastamento de Dilma e a subida ao poder de Michel Temer.

“Se cuida, se cuida, se cuida seu machista: América Latina vai ser toda feminista!”, avisaram as mulheres reunidas em coro durante o protesto. 

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