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Bombeiro interceptado a pé na Ponte Rio-Niterói se transforma em ícone da Corporação

ENTREVISTA COM MESAC EFLAIN
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O caso do bombeiro militar interceptado caminhando a pé pela Ponte Rio–Niterói – proibida a pedestres – repercutiu na corporação, na mídia e na sociedade. Sem dinheiro para pagar o transporte, ele se tornou um exemplo da crise vivida pela categoria.

Escalado para um treinamento de reciclagem, mas sem dinheiro, por falta de receber o auxílio-transporte, que não está sendo pago devido à crise financeira do Governo do Estado do Rio de Janeiro, o cabo do Corpo de Bombeiros Altamir Cruz resolveu fazer a pé o trajeto de sua residência, na Ilha do Governador, Zona Norte do Rio, até o quartel de Charitas, em Niterói, um caminho de 32km.

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O bombeiro, que tem a especialização de técnico em enfermagem, chegou a avisar ao comando que não tinha dinheiro para a passagem de ônibus, mas, segundo ele, foi alertado que se não fosse ao treinamento seria punido. Para evitar uma possível prisão, decidiu ir a pé. Após três horas andando fardado e sob sol forte, foi interceptado na Ponte Rio–Niterói e, segundo a Polícia Rodoviária Federal, resgatado por uma viatura da Corregedoria dos Bombeiros.

Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil o presidente da ABMERJ – Associação dos Bombeiros Militares do Estado do Rio de Janeiro, Subtenente Mesac Eflain, avalia que a atitude do Cabo Cruz foi desesperada, diante do quadro de crise, por não estar recebendo o benefício de transporte. E Eflain afirma que este não é o primeiro caso na corporação.

“É uma situação desesperadora. O bombeiro passa por uma situação humilhante, de não ter recursos suficientes para se deslocar até o seu local de trabalho. Este não é o primeiro caso. Nós já tivemos casos de outros bombeiros que foram punidos por não terem conseguido chegar até o local de trabalho. A Associação vem recebendo várias denúncias de bombeiros que estão passando necessidades, inclusive pernoitando nos quartéis, por conta de falta de recursos para o transporte.”

Mesac Eflain explicou que o auxílio-transporte de R$ 100,00 só passou a existir a partir de 2011, porém desde então não houve reajuste no valor. “Nas reivindicações de 2011-2012 nós conquistamos esse auxílio de R$100,00, e nunca houve aumento. No entanto, a gasolina e a passagem de ônibus aumentaram várias vezes. Hoje o valor de R$ 100,00 é tão defasado que não consegue pagar o transporte nem da metade do mês de trabalho de uma escala normal de bombeiros.”

O subtenente bombeiro denuncia que, além da escala normal, os militares ainda estão sendo escalados para tarefas extras, também sem receber o auxílio-transporte, para ajudar no combate ao mosquito Aedes Aegypti e para fazer cursos de capacitação e treinamento, como foi o caso do Cabo Altamir Cruz – “e ainda vão servir aos Jogos Rio 2016”.

Mesac Eflain ressalta que a situação se torna mais grave por conta do atraso também no pagamento dos salários dos funcionários públicos do Governo do Estado do Rio de Janeiro, situação que faz com que diversas classes estejam em greve no Rio. O militar informou que a categoria não recebeu o 13.º salário integralmente (está parcelado em cinco vezes), teve mudança no calendário de pagamento por duas vezes, e ainda não recebeu o salário de março, que também pode ser parcelado.

“Apesar de constitucionalmente os bombeiros não poderem fazer greve, nós estamos apoiando as demais categorias que se encontram paradas por conta dessa crise financeira do Estado.”

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De acordo com o presidente da ABMERJ, o Cabo Altamir Cruz não sofreu punição por parte do Corpo de Bombeiros. A viatura da Corregedoria que o resgatou na subida da Ponte Rio–Niterói levou o militar até Niterói para o treinamento, e não para a detenção.

“Ele não foi punido”, esclarece Eflain. “Eu fui até ele, levei água, antes da viatura chegar e ter o apoio do Comando, que se sensibilizou com a repercussão do caso. A viatura, então, não o levou para a Corregedoria, mas o levou para o curso ao qual ele estava escalado em Niterói. Eu me desloquei até lá, confirmei a presença dele lá. Ele estava bem. A Corporação não considerou a atitude dele como protesto, e sim como um direito dele, porque ele tinha que se deslocar pelos meios próprios, e o único meio que ele tinha era ir andando.”

Eflain conta ainda que em solidariedade ao Cabo Altamir Cruz colegas de farda anunciam nas redes sociais a realização de uma caminhada marcada para este sábado, 9, às 10 horas da manhã. Os militares pretendem sair do quartel do Corpo de Bombeiros da Ilha do Governador e ir até Charitas, em Niterói. A Associação de Bombeiros também estará presente para apoiar os militares no que o grupo decidir, porque a situação é difícil, lamentável.”

Em nota à Sputnik, a Assessoria de Imprensa do Corpo de Bombeiros informou “que se solidariza com a dificuldade que o atraso do pagamento acarreta aos militares”. A corporação também confirmou que “o militar em questão não sofreu punição. Os salários dos militares, assim como de outros servidores, seguem a política de pagamento definida pelo Governo do Estado”.

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