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Há 10 anos, o Brasil inteiro acompanhava seu primeiro cosmonauta no espaço

ENTREVISTA COM MARCOS PONTES E
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Há 10 anos, o Brasil inteiro acompanhava pelos noticiários os momentos do primeiro cosmonauta brasileiro a ir ao espaço. No dia 29 de março de 2006, o Tenente-Coronel Marcos Pontes integrava a tripulação da Soyuz TMA-8, formada ainda pelo comandante russo Pavel Vinogradov e pelo astronauta americano Jeffrey Williams.

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Pontes integrava a chamada Missão Centenário, fruto de um acordo firmado em 2005 entre a Agência Espacial Brasileira (AEB) e a Agência Espacial da Federação Russa (Roscosmos). Pontes, que era tenente-coronel da Força Aérea Brasileira (FAB), estava se preparando há alguns anos para integrar as missões dos ônibus espaciais americanos, mas a explosão da Columbia em 2003 fez a Agência Espacial Americana (NASA) interromper todos os seus programas.

A Missão Centenário recebeu este nome em referência à comemoração do centenário do primeiro voo tripulado de uma aeronave, o 14 Bis, de Santos Dumont, em Paris, em 23 de outubro de 1906. Com o acordo firmado entre Brasil e Rússia, Marcos Pontes passou por treinamento na Cidade das Estrelas, complexo de formação e preparação de cosmonautas situado a cerca de 50 quilômetros de Moscou.

Os três cosmonautas decolaram do Cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão, em 29 de março de 2006, às 23h30min (horário de Brasília), tendo como destino a Estação Espacial Internacional, onde acoplou no dia 1.º de abril. Lá os cosmonautas realizaram diversos experimentos científicos. Entre os realizados por Pontes estavam estudos sobre o efeito da microgravidade na cinética das enzimas, minitubos de calor, germinação de sementes em ambiente de microgravidade, alguns dos quais foram acompanhados por alunos de escolas de São José dos Campos (SP) através da internet. A tripulação voltou à Terra no dia 8 de abril.

Dez anos depois, Pontes faz um balanço da experiência e conta aos leitores da Sputnik os pontos altos dessa missão:

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“Queria agradecer por todo o carinho que tenho recebido por ocasião dos 10 anos da Missão Centenário, um marco na minha vida. Uma honra muito grande poder representar o Brasil, poder conhecer amigos que tenho até hoje na Rússia e que mantenho com muito carinho, e poder realizar um sonho não só meu, mas de uma nação inteira. Toda vez que você decola carregando a bandeira de uma nação carrega consigo também os sonhos, as expectativas e as vontades de um país inteiro. E dez anos passaram bem rápido, e muita coisa aconteceu nesse período.”

A experiência no espaço deixou frutos que estão sendo colhidos até hoje graças à persistência do cosmonauta e ao seu empenho em contribuir com projetos de desenvolvimento de educação.

“Tudo o que eu pude fazer para incentivar, promover as atividades espaciais, a ciência e tecnologia e principalmente a educação no Brasil eu fiz, até criei fundação para isso, como a Fundação Astronáutica Marcos Pontes. Agora no domingo, dia 3 de abril, vamos ter um evento muito bonito em Bauru (SP), onde a gente espera reunir entre 40 e 50 mil pessoas – no ano passado foram 40 mil – justamente em torno de educação, ciência e tecnologia.”

Apesar do entusiasmo, no entanto, Pontes diz que o cenário no Brasil deixa ainda muito a desejar.

“O fato é que, do ponto de vista federal, do apoio ao programa espacial e de outras áreas de ciência e tecnologia no Brasil, infelizmente as notícias não são boas. Não sei o que se passa na cabeça das nossas autoridades, mas certamente é distante do desenvolvimento da ciência e da tecnologia. O que a gente vê é uma redução de investimentos, leis que atrapalham bastante o desenvolvimento, a conexão operacional entre as universidades públicas e as empresas privadas, os centros de pesquisa, as parcerias no país. A gente precisa mudar essa proa, para que se tenha um país desenvolvido através da ciência, da tecnologia e da educação.”

Sobre o momento mais marcante da Missão Centenário, Marcos elege um e se emociona ao falar dele.

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“Teve um momento que congregou desde a parte emocional, com tudo que foi antes da missão. Foi o momento em que chegamos ao espaço com o corte do motor e a separação do último estágio da Soyuz. Foi um momento especial quando olhei para a Terra e vi essa Terra azul, maravilhosa. Foi uma espécie de flash back de todos esses anos de preparação, começando lá em Bauru”, recorda.

“Lembro que naquela época, quando eu falava em ser piloto, os meus amigos de trabalho lá na Rede Ferroviária falavam que era maluquice, que eu nunca iria conseguir fazer isso. Eu tinha ali de 14 para 16 anos. Lembro que um dia cheguei em casa chateado e minha mãe olhou para mim – ela era italiana, com aqueles olhos azuis – e me disse: ‘Olha, não dê ouvido a esse tipo de coisa, porque você pode ser o que quiser na vida desde que você estude, trabalhe e persista. Sempre faça mais do que esperam de você.’ De repente, naquele momento, quando olhei a Terra, lembrei da minha mãe falando exatamente aquilo. Acho que aquele momento foi o mais marcante de toda a missão.”

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