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‘Decisão da OAB pró-impeachment é inaceitável para o sentimento jurídico dos advogados’

ENTREVISTA COM MARCELO LAVENERE E
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O presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, Cláudio Lamachia, protocolou na Câmara dos Deputados, na segunda-feira, 28, um pedido de impeachment da Presidenta Dilma Rousseff. O conselheiro vitalício da Ordem, Marcelo Lavenère, discorda: “Não há crime que possa ser imputado à presidente.”

A decisão de solicitar o impeachment foi adotada em reunião do Conselho Federal da OAB na qual apenas foram registrados dois votos contrários: o da Seccional da Ordem do Estado do Pará e o do conselheiro vitalício da OAB, Marcelo Lavenère, que, quando presidiu a entidade, foi um dos autores do pedido de impeachment do então presidente e hoje Senador Fernando Collor de Mello. O outro autor foi o falecido jornalista Barbosa Lima Sobrinho, na época presidente da ABI – Associação Brasileira de Imprensa.

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Tanto Marcelo Lavenère quanto Barbosa Lima Sobrinho formularam o pedido em caráter individual, conforme determina a Lei 1.079, de 10 de abril de 1950, que define os crimes de responsabilidade.

Falando à Sputnik Brasil, Marcelo Lavenère explicou as razões de ter se posicionado contra a decisão do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil:

“Não há crime que possa ser imputado à Presidenta Dilma Rousseff. Além disso, a Ordem acrescentou ao pedido fatos relatados pelo Senador Delcídio Amaral em seu acordo de delação premiada, fatos que só foram expostos para possibilitar ao senador uma condenação menor pelos crimes a que está respondendo perante o Supremo Tribunal Federal.”

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O advogado Marcelo Lavenère explica que o motivo que o leva à sua posição deriva do fato de que “não surgiu ainda nenhum fato concreto a justificar um pedido de impeachment da Presidenta Dilma. As acusações que são apontadas contra ela, tanto o processo que já está em tramitação como nesse processo apresentado pela OAB, não apontam nenhum fato concreto, nenhum crime previsto na Constituição que a Presidenta Dilma tenha cometido. Por esse motivo, eu não posso aderir a essa decisão da Ordem, que a meu ver foi um equívoco”.

“A Ordem deveria ter levado em conta que esse atual pedido de impeachment corresponde a uma manobra política, corresponde a uma decisão político-partidária e não a uma posição da sociedade civil, da consciência ética e jurídica brasileira, contra um presidente que tenha perdido o decoro, que tenha cometido crimes indiscutivelmente, e sendo ele o principal objeto da investigação como foi no caso ex-Presidente Collor.”

Lavenère destaca que no caso atual “se fala que o Governo vai mal, que o Governo não teria executado devidamente o orçamento, que a presidente não poderia ter nomeado o ex-Presidente Lula como seu ministro, mas todas as acusações que são feitas não são daquele tipo que consistam num fundamento razoavelmente jurídico para que ela possa ser afastada”.

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“Por esses motivos eu penso que a decisão da OAB foi equivocada, não corresponde àquilo que poderia parecer à totalidade dos advogados ou uma imensa maioria tornando uma minoria quase irrisória em relação a essa decisão. Pelo contrário, em todos os Estados há um movimento muito grande de advogados pela democracia, em divergência com a opinião do Conselho Federal, fazendo atos e mais atos; juristas da maior categoria que já entraram com o pedido junto ao presidente do Conselho Federal para que ele faça uma consulta plebiscitária a todos os advogados brasileiros. De modo que o impeachment é um assunto que divide o país e dividiu a entidade, como se viu ontem por ocasião da entrega do pedido de impeachment em que os advogados que estavam lá esperando a diretoria da OAB, os advogados se revoltaram e protestaram a tal ponto de haver graves tumultos dentro da Câmara Federal. Esses tumultos evidenciam que a decisão do Conselho encontra muita resistência por parte de segmentos muito numerosos de advogados. Os advogados estão protestando, entendendo que esta decisão é equivocada, que os conselheiros federais deveriam ter ouvido o conjunto dos advogados e não ouviram e que essa decisão afeta a biografia e a história da OAB, que é uma entidade que lutou pelos direitos humanos durante a ditadura militar e sempre batalhou pela preservação das garantias constitucionais, a ampla defesa, a liberdade de a defesa atuar sem coerção. Tudo isso faz parte do DNA da OAB, da sua estrutura mais íntima. E a decisão de ontem leva em conta, para justificar o pedido, uma simples delação de uma pessoa que foi presa e que para diminuir sua pena está acusando outras pessoas, onde não houve ainda a produção de provas. Isso é inaceitável para o sentimento ético e jurídico dos advogados brasileiros.”

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