Caravana vai de Honduras aos EUA em protesto contra política norte-americana antidrogas

© REUTERS / Jorge CabreraHomens carregam imagem de Berta Cáceres em funeral da líder indígena assassinada em Honduras
Homens carregam imagem de Berta Cáceres em funeral da líder indígena assassinada em Honduras - Sputnik Brasil
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Formada por representantes de movimentos sociais e da Igreja, a Caravana pela Justiça, Vida e Paz partiu na segunda-feira, 28, de Tegucigalpa, Honduras, para os Estados Unidos, a fim de denunciar os abusos cometidos pelos governos da América Central e dos EUA aos direitos humanos em nome do combate ao narcotráfico.

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A Caravana pela Justiça, Vida e Paz vai percorrer Honduras, El Salvador, Guatemala, México e Estados Unidos, onde encerrará o trajeto no dia 4 de abril. No dia 18, os integrantes da comitiva participarão de uma sessão especial da Assembleia-Geral das Nações Unidas, sobre Drogas, em Nova York. Durante o trajeto, a caravana visitará algumas das cidades mais afetadas pela onda de violência causada pela militarização e pelo crime organizado, que têm provocado milhares de mortes e o deslocamento de comunidades indígenas e rurais naqueles países.

Mayra Rodríguez, uma das diretoras do Centro Ecumênico Cristão da Guatemala – uma das entidades que participam da caravana – contou à Sputnik Brasil a importância da realização deste movimento:

“Para nós, na Guatemala, e para as instituições que trabalham juntas no México, El Salvador e Honduras, a jornada é um símbolo importante, pois significa a urgente necessidade de termos um enfoque da guerra às drogas que propiciou a violência e o armamentismo nos países e que cobra vidas humanas e desrespeita os direitos humanos.”

Para Mayra Rodríguez, a questão do combate ao narcotráfico é importante, mas isso não pode significar o desrespeito aos direitos humanos e aos valores básicos da vida de populações que muitas vezes vivem em estado de quase miséria.

“Em nossos países, a guerra contra o narcotráfico e as drogas tem influenciado muito fortemente o tema da segurança. Para os Estados Unidos, esse conceito tem significado apoiar grupos militares e o armamentismo nesses países, desatando uma verdadeira guerra contra esse flagelo que está atingindo toda a região. Não estamos, em nenhum momento, defendendo o narcotráfico, mas acreditamos que esse combate está cobrando muitas vidas. Acreditamos que especialmente os EUA e as Nações Unidas devem ter um enfoque partindo do respeito aos direitos humanos. O enfoque atual é equivocado e está afetando a vida das pessoas nesses países.” 

Segundo a diretora do Conselho Ecumênico Cristão da Guatemala, parece haver também um movimento que está expropriando territórios e que não tem a ver apenas com as incursões e as imposições ditadas pelas ações contra o narcotráfico.

“Há também megaprojetos multinacionais de mineração, hidrelétricas, deslocando as populações dos locais e retirando delas o único bem que têm, ou seja, os recursos naturais, seus territórios. Em Honduras mesmo têm sido assassinados vários ativistas e camponeses, assim como na Guatemala e no México. Talvez o caso mais emblemático tenha sido o assassinato de Berta Cáceres em Honduras".

Berta Cáceres era líder do Conselho Cívico das Organizações Populares e Indígenas de Honduras (Copinh) e foi morta a tiros em sua casa na cidade de Imbucá, no início de março, após denunciar interesses de grandes grupos multinacionais em projetos de mineração com impactos no meio ambiente e a construção da barragem de Agua Zarca, projeto da hondurenha Desenvolvimento Energético e da construtora chinesa Sinohydrol, o que lhe valeu em 2015 o Prêmio Ambiental Goldman.

A espiral crescente de violência que assola os países da América Central pode ser vislumbrada no estudo realizado em 2015 pela Associação Internacional de Fiscalização de Drogas Estupefacientes (JIFE, na sigla em inglês). Segundo os dados, no apenas no México, desde dezembro de 2006, o combate às drogas e aos cartéis deixaram cerca de 250 mil deslocados, 25 mil desaparecidos e mais de 130 mil mortos.

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