Na publicação do jornal turco, os autores apontam categoricamente a Rússia… não citando nenhum fato ou prova. Artigos semelhantes aparecem com regularidade em edições fiéis ao governo da Turquia.
Condolências? Muito suspeito! — Hipócritas? Pode ser!
O jornal considerou as condolências que o presidente Putin ofereceu à Turquia como “suspeitas” porque foi o primeiro dos líderes mundiais a enviá-las.
Ora, no verão do ano passado (inverno no hemisfério sul), Vladimir Putin também foi o primeiro a expressar condolências após o atentado perpetrado em Ancara durante uma manifestação pacífica. Na altura, o mesmo jornal avaliou as ações de Putin como positivas.
Atentado em Reyhanli: vamos culpar a Síria?
Um dos atos terroristas mais sangrentos na história da Turquia atual aconteceu em Reyhanli, na província turca de Hatay, localizada junto à fronteira com a Síria. Após o atentado, Erdogan declarou que “este foi um trabalho da liderança síria, temos documentos e dados provando isso”. Segundo a chefia turca, o ataque tinha alegadamente por alvo minar o processo pacífico da situação com os curdos. Após a declaração, a mídia começou a campanha anti-Síria.
Mas os dados da inteligência tornados públicos mais tarde mostraram um fato interessante: as autoridades da Turquia sabiam da preparação do atentado, mas nada fizeram para o evitar.
Atentado em Suruc: quem é o próximo a culpar?
Um homem-bomba fez-se explodir na cidade de Suruc, durante um encontro da juventude curda da Federação de Associações da Juventude Socialista que pretendia discutir o envio de ajuda humanitária para a cidade de Kobane (região curda da Síria). Como resultado, 33 pessoas foram mortas e outras 104 ficaram feridas.
Mais tarde, tornou-se claro que o terrorista de Suruc estava ligado ao centro de recrutamento do grupo Daesh (proibido na Rússia e reconhecido como terrorista pelo Brasil) na cidade turca de Adiyaman.
Entretanto, nenhum dos meios de comunicação pró-Erdogan mencionou como poderia um terrorista se ter infiltrado nos grupos de esquerda, que estão sob vigilância constante da inteligência turca e da polícia.
Atentado em Ancara: vamos culpar todos!
Outro ataque sangrento aconteceu em 10 de outubro de 2015, poucos dias antes das eleições legislativas, levado a cabo por dois homens-bombas. Ele foi considerado o pior na história da Turquia, porque deixou 102 vítimas fatais e 400 feridos.
A revista Akşam acusou os curdos da organização do ataque.
O jornal turco Yeni Şafak, que pertence à família do genro de Erdogan, afirmou que os principais suspeitos eram o Partido dos Trabalhadores do Curdistão, o Partido da Frente Libertação Popular Revolucionária (DHKP/C na sigla em turco) e os terroristas do Daesh.
Estas declarações foram feitas ainda antes da investigação estar concluída.
Também naquela época, muitos culparam os jihadistas do Daesh, mas fontes próximas do comando do grupo terrorista disseram que o Estado Islâmico não assume responsabilidade por atos terroristas que matam civis e só reivindica atentados que visam militares.
Tentativas de “justificar os terroristas” – uma forma de resolver os problemas?
Como se tornou público mais tarde, o terrorista que se explodiu em Suruc era irmão de um dos dois suicidas que se explodiram em Ancara. Foi divulgado que o primeiro terrorista era apoiado por terroristas do Daesh. Não se sabe a que grupo pertencia o seu irmão.
Em geral vale lembrar que, após Ancara ter começado a intervir diretamente nos confrontos na Síria, a instabilidade e a repercussão dos combates atingiram a própria Turquia. Este período mostrou claramente todas as deficiências do sistema de segurança no país.