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Secretário-geral da CNBB: ‘Sem diálogo não daremos fim à crise que estamos vivendo’

ENTREVISTA COM LEONARDO ULRICH STEINER
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Diante da complexa situação política no país, a CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil emitiu nota na quinta-feira, 10, conclamando a população brasileira e em especial a classe política a conservar o equilíbrio e a serenidade e também a não permitir o acirramento dos ânimos, mantendo viva a determinação para o diálogo.

Sobre o conteúdo da nota, a Sputnik Brasil conversou com o secretário-geral da CNBB, Dom Leonardo Ulrich Steiner, Bispo Auxiliar de Brasília. Ele ressaltou que este é o momento em que a serenidade e o diálogo devem predominar, e que “a CNBB sempre estará disposta a manter este diálogo com toda a sociedade”.

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Para Dom Leonardo Steiner, o momento atual do Brasil exige reflexão, e por força deste argumento a CNBB decidiu concluir a sua nota oficial reproduzindo as palavras do Apóstolo Paulo: “Trabalhai no vosso aperfeiçoamento, encorajai-vos, tende o mesmo sentir e pensar, vivei em paz, e o Deus do amor e da paz estará convosco.”  

Dom Leonardo destaca que a CNBB tem emitido notas “em diversos momentos, nos momentos especialmente difíceis, nos momentos de crise, mas também em momentos importantes da sociedade brasileira”.

“Eu creio que do ano passado para cá houve uma espécie de serenidade e tranquilidade maior, mas nós sentimos que de repente o clima ficou um pouquinho mais pesado, um pouquinho mais quente. Neste sentido a CNBB, reunida no Conselho Permanente, sentiu a necessidade de mais uma vez chamar a atenção da sociedade brasileira para a oportunidade do diálogo, da preservação da democracia e das instituições. A CNBB sempre tem se caracterizado por isso, não está defendendo partido, não está defendendo Governo, mas a necessidade de preservação das instituições. E também diante de tanta agressão e violência nas palavras nós sentimos necessidade de fazer esse apelo e indicar também os caminhos do diálogo.”

O secretário-geral da CNBB e Bispo Auxiliar de Brasília adverte, no entanto, que é muito importante combater a corrupção: “Nós acabamos quebrando as relações sociais mais profundas na medida em que nos deixamos levar por uma economia do lucro, por uma economia que beneficia determinadas pessoas ou determinadas empresas.”

Sobre a obediência às leis, Dom Leonardo observa:

“Se nós começamos simplesmente a passar por cima da Constituição Federal, colocamos em jogo a vida, a convivência. Observar a Constituição Federal é um elemento ético importante para toda a sociedade, para todo o país.”

O Bispo Auxiliar de Brasília sublinha a importância do diálogo neste momento de grave crise no Brasil:

“A CNBB sempre esteve disposta a este diálogo. Temos conversado muito, como outros setores da sociedade brasileira. A OAB – Ordem dos Advogados do Brasil tem procurado conversar também. Mesmo pessoas do Governo, deputados federais, senadores têm procurado conversar. Eu digo isso porque tenho participado de muitos desses diálogos. No momento presente nós sentimos isso também através de artigos de jornais. Existe essa tentativa de levar o diálogo até a exaustão. Apesar de todos os posicionamentos contrários ao diálogo, existem posicionamentos que simplesmente querem fazer passar a ferro e fogo determinados pensamentos, eu diria até determinada ideologia. Sem o diálogo nós não construiremos um novo país e não daremos uma destinação à crise que estamos vivendo.”  

 

A seguir, a nota da CNBB divulgada em 10 de março de 2016:

“O fruto da justiça é semeado na paz, para aqueles que promovem a paz” (Tg 3,18)

Nós, bispos do Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil–CNBB, reunidos em Brasília-DF, nos dias 8 a 10 de março de 2016, manifestamos preocupações diante do grave momento pelo qual passa o país e, por isso, queremos dizer uma palavra de discernimento. Como afirma o Papa Francisco, “ninguém pode exigir de nós que releguemos a religião a uma intimidade secreta das pessoas, sem qualquer influência na vida social e nacional, sem nos preocupar com a saúde das instituições da sociedade civil, sem nos pronunciar sobre os acontecimentos que interessam aos cidadãos” (EG, 183).

Vivemos uma profunda crise política, econômica e institucional que tem como pano de fundo a ausência de referenciais éticos e morais, pilares para a vida e organização de toda a sociedade. A busca de respostas pede discernimento, com serenidade e responsabilidade. Importante se faz reafirmar que qualquer solução que atenda à lógica do mercado e aos interesses partidários antes que às necessidades do povo, especialmente dos mais pobres, nega a ética e se desvia do caminho da justiça.

A superação da crise passa pela recusa sistemática de toda e qualquer corrupção, pelo incremento do desenvolvimento sustentável e pelo diálogo que resulte num compromisso entre os responsáveis pela administração dos poderes do Estado e a sociedade. É inadmissível alimentar a crise econômica com a atual crise política. O Congresso Nacional e os partidos políticos têm o dever ético de favorecer e fortificar a governabilidade. 

As suspeitas de corrupção devem ser rigorosamente apuradas e julgadas pelas instâncias competentes. Isso garante a transparência e retoma o clima de credibilidade nacional. Reconhecemos a importância das investigações e seus desdobramentos. Também as instituições formadoras de opinião da sociedade têm papel importante na retomada do desenvolvimento, da justiça e da paz social.

O momento atual não é de acirrar ânimos. A situação exige o exercício do diálogo à exaustão. As manifestações populares são um direito democrático que deve ser assegurado a todos pelo Estado. Devem ser pacíficas, com o respeito às pessoas e instituições. É fundamental garantir o Estado democrático de direito.

Conclamamos a todos que zelem pela paz em suas atividades e em seus pronunciamentos. Cada pessoa é convocada a buscar soluções para as dificuldades que enfrentamos. Somos chamados ao diálogo para construir um país justo e fraterno.

Inspirem-nos, nesta hora, as palavras do Apóstolo Paulo: “trabalhai no vosso aperfeiçoamento, encorajai-vos, tende o mesmo sentir e pensar, vivei em paz, e o Deus do amor e da paz estará convosco” (2 Cor 13,11). 

Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, continue intercedendo pela nossa nação!


Brasília, 10 de março de 2016.


Dom Sergio da Rocha    

Arcebispo de Brasília-DF  

Presidente da CNB                       

Dom Murilo S. R. Krieger

Arcebispo de S. Salvador da Bahia-BA

Vice-Presidente da CNBB                              

Dom Leonardo Ulrich Steiner

Bispo Auxiliar de Brasília-DF

Secretário-Geral da CNBB

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