Fim do embargo econômico não vai transformar Cuba em paraíso fiscal

ECONOMIA COM MARCOS CORDEIRO PIRES
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Investidores de peso estão reunidos na Cidade do Panamá para a 5.ª Offshore Investment Conference, que discute as melhores oportunidades de investimento nas Américas, em especial na Central e no Caribe. A maior parte das atenções, porém, tem recaído sobre negócios em Cuba, após o fim do embargo econômico decretado há 52 anos pelos EUA.

Durante o encontro, diversos especialistas analisaram os cenários de investimento na ilha caribenha e o grande potencial de setores como turismo, mercado imobiliário, telecomunicações, entre outros, como fontes de atração de capital. Os temores, porém, de que Cuba possa se converter, em médio prazo, numa espécie de paraíso fiscal, assim como vários países caribenhos, não são compartilhados por especialistas.

O professor de Economia Política Internacional da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Marcos Cordeiro Pires diz que o processo de abertura em Cuba, assim como já ocorreu na China e no Vietnã, pode criar inúmeras oportunidades de negócio para quem for investir na ilha.

“O que seria bom refletir é se Cuba voltaria a ser o paraíso fiscal, o paraíso para negócios fraudulentos como foi antes de 1959. Se olharmos, essa é a própria temática do offshore, em última instância, como esconder seu dinheiro e ter rentabilidade ampliada sem pagar imposto.”

Pires garante, porém, que pensar Cuba dentro dessa perspectiva será uma aposta errada.

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“A história às vezes ensina. O regime político de Cuba não apresenta fragilidade do ponto de vista do apoio popular. O regime tem experiências extremamente negativas de aberturas desenfreadas para o Ocidente, como a que ocorreu com a União Soviética e outros países europeus, mas também tem experiências positivas de um regime de partido único, de organizar estratégias de inserção na economia internacional e deixar margens muito grandes para opções internas e a realização de um projeto político interno.”

O professor da Unesp diz ainda que é importante refletir os motivos que levam aquele país a optar por um processo de abertura. Segundo ele, o modelo de integração no Comecon (Conselho para Assistência Econômica Mútua), como existia no período da União Soviética, não foi capaz de criar uma infraestrutura ou mesmo uma capacidade produtiva que permitisse ao país sair da crise do socialismo real com a cabeça levantada. Outra questão importante, afirma o professor, é que a abertura força a liderança cubana a mudar.

“A juventude hoje não tem os problemas que seus pais e avós enfrentaram durante a ditadura de Fulgencio Batista. Por outro lado, do ponto de vista cultural, você tem uma avalanche relacionada à tecnologia de informação e comunicação que, por mais que um governo tentasse reprimir, seria praticamente impossível. Seria uma estratégia importante verificar do ponto de vista do interesse nacional como se absorve a tecnologia e como a população pode se engajar em processos produtivos que lhe permitam ingressar na quarta revolução industrial, que vai trazer impactos dramáticos para a humanidade.”

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