Organizações sociais reagem ao assassinato de líder indígena em Honduras

ENTREVISTA COM PAULO CESAR SANTOS E DARCI FRIGO
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O irmão e a mãe de Berta Cáceres, coordenadora do Conselho Cívico de Organizações Populares e Indígenas de Honduras (COPINH), cobraram nesta sexta-feira, 4, garantias de segurança do Governo para proteção de testemunhas e familiares, após o assassinato da líder indígena na madrugada de quinta-feira, na cidade de Imbucá, no oeste do país.

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Gustavo Cáceres cobrou também das autoridades uma investigação a fundo sobre autores e motivação para o crime, enquanto a mãe, Berta Flores, criticou o Governo por não providenciar segurança para a filha mesmo após as várias denúncias de que vinha sendo ameaçada há vários meses.

A líder indígena, da etnia lenca, já havia recebido inúmeras ameaças de morte por defender as lutas de seu povo, liderar manifestações pelo meio ambiente, contra a construção de hidrelétricas, e, também, por encabeçar os protestos de 2009 contra o golpe de Estado que derrubou o então Presidente Manuel Zelaya.

Em 2013, a ativista também ficou mais conhecida por denunciar os planos dos Estados Unidos de instalar em Honduras a maior base militar norte-americana em toda a América Latina. Em suas declarações, ela afirmava que a instalação seria “um projeto de dominação e colonização com o propósito de saquear os recursos dos bens comuns da natureza” naquela nação da América Central.

“Os EUA, lembre-se, sempre usaram Honduras como uma plataforma para invadir outros povos irmãos, como aconteceu nos anos 1980 contra a Nicarágua. Desta vez, poderia ser a Venezuela”, advertiu a ativista na ocasião.

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Paulo César Santos, membro da coordenação nacional da Comissão Pastoral da Terra, entidade ligada à Igreja Católica, diz que a morte de Berta Cáceres se insere dentro de uma luta incansável de tantas pessoas que doam suas vidas para tentar diminuir as injustiças no mundo.

“Se de um lado, se tem a ânsia sangrenta do capital – no caso dela, a ânsia de empresas de mineração e de megaprojeto hidrelétrico como foi denunciado –, por outro lado há governos que apoiam e avançam com muita força sobre territórios e vidas. Isso está dentro do complexo projeto do capital de que alguns países só devem existir para oferecer mão de obra e terra para os megaprojetos do capitalismo", diz o coordenador da Pastoral da Terra. 

Santos afirma que esse projeto do capital está ligado ao massacre de comunidades que lutam por terras e territórios.

“Aqui no Brasil, por exemplo, somente até o início de março você já tem 9 assassinatos de lideranças camponesas que se inserem também nesse contexto de comunidades que estão buscando continuar em sua terra e que entram em choque com os interesses das grandes empresas. Infelizmente os governos têm dado apoio a todas essas empresas. [A morte de Berta Cáceres] não é apenas um anúncio, é um ataque que subiu de nível. Você tem um avanço da violência no aspecto da própria barbárie. É um ataque a luta de vários países, de todo o povo indígena.”

Já para o coordenador da organização Terra de Direitos, Darci Frigo, o episódio de Berta não é isolado:

"Temos em vários países a investida pesada do capital transnacional que coloca os Estados a serviço de seus interesses. Quando a população local, atingida por esses interesses, é expulsa de suas terras, muitas das lideranças que organizam esses protestos, a resistência daqueles que sofrem, acabam sendo vítimas de violência e ameaças como aconteceu com Berta Cáceres."

Trigo lembra que nos anos 80 foram vistas investidas pesadas dos Estados Unidos na América Central. Um pouco antes, nos anos 70, já havia a dominação na Nicarágua, e na Guatemala se registrava o genocídio da população indígena.

“Sempre houve a presença e aporte da inteligência militar e política que vinha dos Estados Unidos para proteger interesses de grandes empresas transnacionais que atuavam nesses países. Agora não é diferente. Eles [interesses] continuam sendo defendidos com a guerra que não termina nunca no Oriente Médio", diz Darci Frigo.

Ainda sobre a morte de Berta Cáceres, e em resposta a um pedido de posicionamento, a Anistia Internacional enviou a seguinte nota oficial à Sputnik Brasil:

"O brutal assassinato da líder indígena em Honduras traça um quadro terrível dos perigos enfrentados pelos defensores dos direitos humanos e ativistas sociais no país. O assassinato covarde de Berta é uma tragédia anunciada. Durante anos, ela tinha sido vítima de uma campanha sustentada de assédio e ameaças para impedi-la de defender os direitos das comunidades indígenas", disse Erika Guevara-Rosas, diretora da Anistia Internacional para as Américas.

"A menos que as autoridades de Honduras tomem medidas decisivas para encontrar os responsáveis ​​por este crime hediondo e para proteger outros ativistas como Berta, elas terão sangue em suas mãos. O Governo deve levar os responsáveis ​​por este crime à Justiça e garantir a proteção para sua família e todos os membros do conselho. A morte de Berta terá um impacto devastador para muitos ativistas e organizações de direitos humanos, como a Anistia Internacional, que trabalharam com ela para garantir os direitos de que algumas das pessoas mais vulneráveis ​​das Américas estão protegidas", sublinha a Anistia.


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