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“Caminho fértil” une Brasil e Rússia

© Foto / Wikipedia/LimongiEmbaixada do Brasil em Moscou
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“Eu fiquei surpreendido pela maneira como os compositores [brasileiros] conhecem a natureza do instrumento”, diz o violonista russo Vladimir Gapontsev, que apresentou na sexta-feira (26) o Prelúdio Curitiba do compositor Harry Crowl, na embaixada do Brasil em Moscou.

O concerto de Gapontsev coroou a visita do paranaense Harry Crowl a Moscou. Na véspera, o compositor tinha dado uma aula e tocou no Centro da Música Eletroacústica de Moscou. E na quarta, na Sala da Biblioteca do também moscovita Instituto Estatal da Arte, apresentou ao público interessado uma breve história da música erudita brasileira contemporânea.

© Sputnik / Ekaterina KozlovaCompositor, musicólogo e professor Harry Crowl. Embaixada do Brasil em Moscou. 26 de fevereiro, 2016
Compositor, musicólogo e professor Harry Crowl. Embaixada do Brasil em Moscou. 26 de fevereiro, 2016 - Sputnik Brasil
Compositor, musicólogo e professor Harry Crowl. Embaixada do Brasil em Moscou. 26 de fevereiro, 2016
Para a Rússia, trata-se de uma estreia e de uma descoberta. O nome de Heitor Villa Lobos é bem apreciado entre os amantes da música clássica. Mas outros nomes, como os de José Antônio de Almeida Prado, César Guerra Peixe, Francisco Mignone, têm permanecido aqui praticamente desconhecidos.

A situação assemelha-se à da literatura brasileira. Paulo Coelho (que nesta altura reside na Suíça) já foi um destaque nas livrarias (algumas delas guardam nos seus estoques alguns títulos de Jorge Amado, Graciliano Ramos e Machado de Assis). 

O Brasil, que se associa principalmente com samba, forró e praia de Copacabana, é a pátria da poesia concreta, que deu origem a outras tendências notáveis da arte internacional. A poesia concreta tem a sua irmã na música erudita. Na sua aula introdutória, Harry Crowl lembrou a adaptação do poema Beba Coca-Cola (de Haroldo de Campos) por Gilberto Mendes.

O próprio Crowl também fez uma homenagem a Haroldo com seu “moteto épico” de “Finismundo”.

Outro brasileiro palestrante na conferência de quarta-feira (organizada pelo Instituto Estatal da Arte e moderada pela musicóloga Olga Sobakina), bolsista do Conservatório de São Petersburgo, Wendell Kettle, traçou um perfil da ópera brasileira. Resulta que há bastante poucos exemplos de óperas completamente brasileiras. A famigerada “brasilidade”, reivindicada e procurada ainda pelos modernistas de 1922, foi encarnada, segundo ele, nas duas opções de “Pedro Malazarte”.

O que é, afinal, a música erudita?

Na verdade, é difícil falar de música sem ser músico ou musicólogo. Por isso, palavra (de novo) ao violonista Vladimir Gapontsev. Já citamos a sua opinião no início.

"Todas as composições [que fizeram parte da programação da sexta-feira] foram escritas de uma maneira que revela o conhecimento da natureza do instrumento. Quero dizer, quando você olha a partitura, fica claro como tocá-la, que timbres usar, como os pedais soam. E isso é bastante raro entre os compositores eruditos, tal conhecimento do violão", disse.

Perguntado pelo correspondente da Sputnik sobre se a música brasileira poderia ser descrita por uma expressão só, Wendell Kettel disse que “a música brasileira tem muita ginga” e nisso, diferencia-se da europeia. Esta “ginga” “tem que fazer parte” da música, é algo que a faz brasileira, segundo o musicólogo.

Diferencia-se também da russa – e neste caso, entre as diferenças culturais, há esta: “a música clássica da Rússia é música universal”, diz. Porém, há compositores menos conhecidos, como Taneev, Dagomyzhsky etc., que, segundo Kettel, devem ser promovidos também.

“Eu vejo na Rússia um potencial muito grande para o desenvolvimento da música brasileira”, disse ele ainda, elogiando a iniciativa da embaixada de iniciar este “caminho fértil”.

O próprio Harry Crowl também afirma estar vendo um “interesse crescente” do público russo em relação à música erudita brasileira.

O Brasil se associa principalmente com samba, forró, Copacabana e outros fenômenos culturais – que não deixam de ser parte da cultura, embora sejam da sua camada “popular”, considerada por muitos como “baixa”. 

O evento fez parte de uma iniciativa de promoção da música erudita brasileira que a embaixada começou em dezembro de 2015 com um concerto para viola, violino e clarinete. Wellington Bujokas, terceiro conselheiro da embaixada, é o responsável pelo projeto.

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