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Opinião: Zika vírus pode ser ainda mais perigoso, ‘mas não há motivo para pânico’

CIÊNCIA E TECNOLOGIA COM ANTONIO RAIMUNDO PINTO DE ALMEIDA
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Um artigo publicado na revista científica “PLOS Neglected Tropical Diseases”, de autoria dos médicos baianos Manoel Sarno e Antônio Raimundo Pinto de Almeida, revelou que o zika vírus, transmitido pelo mosquito Aedes Aegypti, pode estar associado aos quadros de microcefalia e, também, à hidropsia fetal, o acúmulo de líquido no feto.

Segundo os médicos – o Dr. Manoel Sarno é especialista em Medicina Fetal e o Dr. Antônio Raimundo de Almeida é nefrologista e diretor do Hospital Geral Roberto Santos, e ambos são professores da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (UFBA) – o caso foi comprovado na gestação de uma brasileira de 20 anos residente no Estado da Paraíba e encaminhada para tratamento médico na Bahia.

O Dr. Antônio Raimundo de Almeida, que também é professor de Clínica Médica na UFBA, revelou que este caso e o de várias outras pessoas contaminadas pelo zika vírus levaram um grande número de especialistas de várias instituições de pesquisas da Bahia a se reunir para desenvolver estudos em torno do tratamento das pessoas contaminadas pelo vírus e para uma possível fabricação de produtos que previnam a incidência de doenças provocadas pelo Aedes Aegypti, com ênfase no zika vírus. 

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O Dr. Antônio Raimundo disse ainda que, apesar da gravidade dos casos, não há motivos para pânico. De acordo com o médico, o momento é de se pensar em prevenção, e neste caso a responsabilidade deve ser compartilhada entre autoridades e população. O mais importante, segundo ele, é evitar a proliferação do mosquito Aedes Aegypti.

Sobre a questão de que a microcefalia supostamente seria causada pelo uso do larvicida pyriproxyfen, fabricado pela Sumitomo, empresa associada à Monsanto, e utilizado na esterilização de locais que possam ter larvas do Aedes Aegypti, Antônio Raimundo Pinto de Almeida afirma que não foi o caso. “Até pelo meu background nefrológico, gosto de estudar esses venenos, e digo que não.” E o médico diz que na década de 1960 aconteceram casos de bebês que nasciam surdos, mudos e com lesões neurológicas muito graves. Surgiram teorias conspiratórias e no final se provou que era rubéola. “Criou-se a vacina da rubéola, que acabou com aquilo.”

Quanto ao caso atual, o Dr. Antônio Raimundo pondera:

“Cada vez que analisamos esses casos que estão surgindo, mais estabelecemos um nexo causal entre a infecção materna pelo zika e alterações no sistema nervoso central, que nós, nesse grupo de pesquisa, estamos chamando de síndrome congênita da zika.”

O médico diz ainda que o braço clínico desse grupo que está estudando no Hospital Roberto Santos é composto de um grande número de especialistas do próprio hospital – radiologistas, obstetras, oftalmologistas, fonoaudiólogos, neonatologistas; de clínicos pesquisadores da Fiocruz; do Instituto Evandro Chagas, do Pará; de dois ou três Institutos da própria Universidade Federal da Bahia; do Laboratório de Arbovirose, comandado pelo Dr. Scott Weaver, da Universidade do Texas, que está na Bahia; e da Universidade de Yale o Professor Albert Ko, que foi para a Bahia no início do surto de microcefalia.

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”Estamos estudando desde o início de maio, quando tivemos o primeiro caso de Síndrome de Guillain-Barré, que é uma paralisia ascendente, e começamos a notar uma incidência anormalmente alta dessa doença e estabelecemos um grupo de trabalho para atender esses 18 pacientes que chegaram ao hospital.”

Segundo o Dr. Antônio Raimundo, “parece que nós temos realmente um aumento muito grande desses casos. A partir de julho de 2015, nosso especialista em medicina fetal, Dr. Manoel Sarno, começou a observar um aumento da incidência de casos de microcefalia em útero. Ele avaliava as gestantes e no útero notou um aumento anormal de 1 ou 2 casos desses a cada 6 meses, e agora ele começou a ver 4, 5, 6, 7 na Paraíba e no Rio Grande do Norte, e depois esse número absurdo de casos de microcefalia explodiu em Recife. Depois surgiram o isolamento do vírus no líquido amniótico, no Rio Grande do Norte, em dois abortos, e depois o caso, publicado no ‘New England Journal of Medicine’, da garota eslovena que engravidou em Natal, pariu e teve um aborto na Eslovênia, e eles fizeram um estudo e comprovaram ser o vírus zika”.

O Dr. Antônio Raimundo Pinto de Almeida continua:

“O que este artigo de ontem na revista médica “PLOS Neglected Tropical Diseases” trouxe de particularidade, de ser diferente, foram dois aspectos importantes: primeiro que essa moça – é o terceiro filho dela – tem 20 anos e não teve qualquer sintoma relacionado ao zika nem à doença viral. A gravidez evoluía normalmente quando foi observado, por um médico do interior, que a criança não estava crescendo, até a 14.ª semana estava tudo bem, e na 18.ª semana o bebê não estava se desenvolvendo bem. O médico encaminhou o caso para o nosso serviço de medicina fetal em Salvador e daí se observaram alterações no cérebro desse bebê.”

Finalmente, o Dr. Antônio Raimundo explica por que o grupo de pesquisa resolveu relatar esse caso para a literatura mundial:

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“É que esse bebê começou a ter hidropsia fetal, e a moça perdeu o bebê, ou foi uma perda fetal com 32 semanas. Este caso tinha duas coisas: a hidropsia fetal, que é o acúmulo de líquidos no pulmão, na pleura, no peritônio, no tecido subcutâneo, e hidrocefalia, quando o cérebro é totalmente substituído por uma quantidade muito grande de líquido e algumas outras alterações descritas também na microcefalia. Um grupo formado por neurocirurgião, neuropediatra, oftalmologista pediu permissão e tirou amostras de tecido deste bebê natimorto, e estudamos para afastar outras doenças, outras causas que pudessem resultar em hidropsia fetal e hidrocefalia, mas não encontramos toxoplasma e, no entanto, encontramos o vírus da zika. Nós sequenciamos o genoma dele, e mostrou ser a variante asiática que está circulando aqui no Brasil. Esta foi a importância: uma paciente que não teve sintomas e que aparentemente desenvolveu a doença.”

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