Avós da Praça de Maio só vão receber Obama se ele abrir arquivos sobre a ditadura

© REUTERS / Ginnette Riquelme Estela de Carlotto, presidente da organização argentina de defesa dos direitos humanos Abuelas de Plaza de Mayo (Avós da Praça de Maio)
Estela de Carlotto, presidente da organização argentina de defesa dos direitos humanos Abuelas de Plaza de Mayo (Avós da Praça de Maio) - Sputnik Brasil
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Um dos períodos mais sombrios da história recente da Argentina, os anos da ditadura militar no país, de 1966 a 1983, foram lembrados pelo presidente francês Françoise Hollande durante visita a Buenos Aires, onde se encontrou com a presidente das Avós da Praça de Maio, Estela de Carlotto, entre outras personalidades.

François Hollande prestou homenagem aos milhares de mortos e desaparecidos no período, colocando uma braçada de flores no panteão do Parque da Memória, à margem do Rio da Prata. Sputnik Brasil tentou falar com Estela de Carlotto nesta sexta-feira, 26, para que ela fizesse um balanço do evento, mas até o fechamento da edição não foi dado retorno ao pedido.

Ao prestar homenagem às vítimas, o presidente francês lembrou os sólidos e antigos laços de solidariedade com a Argentina em seus momentos mais difíceis. Segundo vários órgãos de direitos humanos, só de 1976 a 1983, calcula-se que desapareceram na Argentina 30 mil pessoas, das quais 20 de nacionalidade francesa. “Quero expressar a solidariedade da França a todas as vítimas da ditadura, da opressão e da barbárie”, disse Hollande, citado pela Prensa Latina.

A presidente das Avós da Praça de Maio disse que recebia com honra a visita do mandatário francês, e lembrou que a França sempre esteve presente na vida argentina, fosse na ditadura ou em épocas posteriores. “Para os que dizem que é preciso esquecer, a memória tem que estar presente”, afirmou Estela, referindo-se às tentativas da direita de apagar as lembranças do período tenebroso da ditadura.

Perguntada se em sua agenda poderia estar marcado um encontro com o presidente americano Barack Obama, ela disse que só o faria caso recebesse um pedido oficial do presidente americano, e garantiu que uma das pré-condições seria Washington abrir os arquivos que mantém da Argentina durante os anos do regime militar.

Considerado um dos períodos de mais forte repressão na América do Sul, o regime militar argentino começou em junho de 1966, quando o presidente eleito Arturo Illia foi deposto pelos militares.

O período mais crítico, porém, aconteceu em março de 1976, quando a Presidente Maria Estela Perón foi destituída do cargo e presa, assim como boa parte de seu Gabinete. Foi formada então a Junta Tripartite, constituída pelo General Jorge Videla, o Brigadeiro Orlando Agosti e o Almirante Eduardo Massera. Este é considerado o período mais repressivo, quando foram suspensos todos os direitos políticos, institucionais e de expressão no país. Sucederam-se prisões em massa, sessões de tortura, fuzilamentos e execuções como os chamados voos da morte, quando presos políticos eram arremessados dos aviões da Força Aérea sobre o Rio da Prata. Os sequestros de crianças também eram bastante comuns. Calcula-se que cerca de 500 crianças tenham sido adotadas por famílias com laços diretos com o regime militar. Destes, 114 tiveram as identidades recuperadas graças ao trabalho de investigação das Avós da Praça de Maio.

Em meados de 1978, todos os movimentos de resistência armada, partidos de oposição, organizações sindicais e movimentos estudantis estavam praticamente dizimados no país. Os anos de 1978, quando a Argentina quase entrou em guerra com o Chile, pela disputa do Canal de Beagle, e de 1982 (Guerra das Malvinas com a Grã-Bretanha) marcaram o apogeu e declínio da ditadura militar, finalmente substituída em 1983, com a eleição do Presidente Raúl Alfonsín, da União Cívica Radical (UCR). 

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