Islamização da Europa: fantasia ou realidade?

© Sputnik / Serviço de impensa do PNRManifestantes mostram uma faixa dizendo "PNR - Nacionalismo Renovador" durante o ato de 13 de fevereiro
Manifestantes mostram uma faixa dizendo PNR - Nacionalismo Renovador durante o ato de 13 de fevereiro - Sputnik Brasil
Nos siga no
Os esforços dos políticos europeus de regularização da crise migratória continuam questionáveis, enquanto movimentos anti-imigração ganham força.

A enorme onda de refugiados e imigrantes que tem chegado à Europa nos últimos meses, provenientes da Síria, do Afeganistão, do Iraque e de outros países muçulmanos, está produzindo fricções e descontentamento nas populações dos países do Velho Continente, não obstante a política oficial de tolerância e multiculturalismo presente em quase todas as democracias da UE, com excepção talvez da chamada Nova Europa, os países de Leste. 

Espaço Schengen, bandeira da União Europeia - Sputnik Brasil
A União Europeia desfaz-se?
Milhares de pessoas vindas do Oriente Médio e de África chegam diariamente às costas de Itália e da Grécia. Estima-se que em 2015 tenham chegado ilegalmente à Alemanha mais de um milhão de pessoas. Parte deles são refugiados, outra parte são imigrantes económicos e, conforme é regularmente indicado na mídia, não é de excluir que entre eles tenham vindo também algumas centenas de terroristas. De referir, neste contexto, que uma percentagem importante das pessoas que chegam à Europa são provenientes dos países que foram alvo de intervenções militares por parte dos EUA e seus aliados.

Em muitos países, os partidos anti-imigração estão ganhando força, seja a Frente Popular na França, o Partido da Liberdade na Áustria (que nas últimas eleições locais obteve mais de 30% dos votos), o Partido Popular na Dinamarca (segundo lugar nas eleições gerais), o partido Verdadeiros Finlandeses na Finlândia, o AfD na Alemanha, sem falar na Aurora Dourada na Grécia, na Liga do Norte na Itália ou do Partido Suíço Popular (SVP), entre outros. 

Na Alemanha, o movimento anti-Islão Pegida organizou no passado dia seis manifestações em várias cidades europeias como Amesterdão, Praga, Calais, Varsóvia e Birmingham. Calais, onde se concentram cerca de 5.000 imigrantes para tentarem passar ilegalmente para o Reino Unido através do Túnel da Mancha, foi a cidade que registrou mais participantes do protesto anti-Islão.

Bandeiras da Rússia e da União Europeia - Sputnik Brasil
Ministro alemão: cooperação com Rússia salvará União Europeia da crise de refugiados
Após as primeiras manifestações em Dresden que reuniram milhares de pessoas, o Pegida apela ao fim do que chama a “islamização da sociedade”. Paralelamente a isso, há nos países europeus também movimentos de sinal contrário, que se mostram dispostos a acolher os refugiados e a observar valores como a compaixão e a tolerância para com todos os que chegam à Europa, venham de onde vierem. 

Mas o tema não é apenas motivo de manifestações de rua, é também alvo de discussão inflamada na mídia, por exemplo em França, e ainda tema para obras de investigadores e cientistas políticos. 

Refira-se apenas um deles, Alexandre del Valle, cientista político e jornalista franco-italiano, especializado em radicalismo islâmico, terrorismo e nas relações Ocidente-Rússia. Ele é pesquisador associado no Instituto Choiseul, sendo colaborador em várias mídias como o Atlantico, France Soir ou Politique Internationale.

Um dos seus primeiros livros tem um título sugestivo: “O Islamismo e os Estados Unidos: Uma Aliança contra a Europa”, no qual ele abordou a forma como os serviços secretos dos EUA utilizaram os Mujahedeen afegãos na sua luta contra a União Soviética.

A sua segunda obra, de 2002, intitula-se “O Totalitarismo Islâmico ao Assalto às Democracias”.

O livro seguinte, de 2009, chama-se simplesmente “A Islamização da Europa”. 

O autor publicou ainda outras obras, nomeadamente o livro “O Islão Radical é uma Arma de Destruição Massiva” (2013).

“Há dez anos, o perigo de a Europa se tornar, dentro de uma ou duas gerações, maioritariamente islâmica era uma fantasia. Hoje em dia, é uma perspectiva bastante realista (embora não certa), porque a Europa renunciou aos seus valores judaico-cristãos e está dominada, por uma cultura de culpa e de morte, por um suicídio civilizacional colectivo (…) A nova realidade da islamização demográfica, cultural e psicológica está a constituir-se em toda a Europa, com 'provas de força', provocações ou escândalos provocados pelas organizações islâmicas subversivas, sob pretextos como o véu islâmico, a Burqa, as caricaturas de Maomé ou os minaretes na Suíça. Através destes escândalos mediáticos — aliás muito bem preparados —, as organizações islâmicas pretendem instaurar um clima de terrorismo psicológico e exercer pressão sobre os governos europeus e sobre uma opinião pública culpabilizada”, escreve o autor no livro “A Islamização da Europa”.

Curiosamente, Alexandre del Valle defende a ideia de aproximação entre Rússia e Europa para criar um novo bloco geopolítico, necessário para combater a ameaça islamista.

Presidente russo Vladimir Putin participa da cúpula do G20 na Turquia, 15 de novembro de 2015 - Sputnik Brasil
Previsões de Putin começaram a se cumprir, destacam especialistas
O autor disse há dois anos (ou seja, ainda antes da crise dos refugiados) em uma entrevista ao jornal francês Le Figaro:

“Os estrategistas da OTAN, tal como nossos líderes intelectuais e adeptos de uma concepção desenraizada do Ocidente, vêem na Rússia de Putin a última nação europeia que se atreve a desafiar o que eu chamo de "cosmopoliticamente correto". Eu sempre lamentei o fato de que a Rússia ainda é retratada como um perigo. Certamente, ele está longe de ser impecável, mas muitas vezes esquecemos que Vladimir Putin começou sua carreira política com o "clã pró-ocidental-liberal" de São Petersburgo, sob a proteção do ex-prefeito de São Petersburgo Anatoly Sobchak, e ele só se tornou hostil para com o Ocidente a partir de 2004, em resposta à guerra do Iraque, voltada contra o aliado de Moscou e, especialmente, após as "revoluções coloridas" apoiadas pelo Ocidente na Geórgia e na Ucrânia para desestabilizar a vizinhança da Rússia”, disse ele na referida entrevista.  

Em Portugal

Em Portugal a islamização (ainda) não é um problema. Com uma tradição antiga de emigração e de integração de imigrantes, os portugueses não se preocupam muito com o tema. No entanto, a decisão do governo de acolher parte dos refugiados do Oriente Médio de acordo com as cotas propostas por Angela Merkel, tem levado a algumas discussões na mídia e a uma maior visibilidade do Partido Nacional Renovador (PNR), até agora “marginalizado” pela intelectualidade e pela mídia. Considerado como tendo pouquíssima expressão na sociedade, a verdade é que o seu apoio praticamente duplicou nos últimos anos. 

Militantes do Daesh (Estado Islâmico) em comboio rumo ao Iraque - Sputnik Brasil
Daesh faz novas ameaças a Espanha e Portugal
Se nas eleições legislativas de 2011 havia obtido 17.742 votos, nas eleições de outubro passado já alcançou 27.269 votos.

Esta força política tem realizado diversas manifestações na capital. A última decorreu no passado sábado (13), no centro de Lisboa.  

Cerca de uma centena de pessoas manifestou-se na Praça do Martim Moniz.

“Mais uma vez, queremos alertar os portugueses para o perigo da invasão islâmica do velho continente, que também afetará Portugal, e também alertar para as injustiças cometidas ao dar-se aos invasores aquilo que é negado aos nossos”, indica um comunicado do partido.

"As violações, os desacatos, as agressões, intimidações, o Islão está a invadir a Europa, mas os primeiros culpados nem são os invasores, eles estão no papel deles, os primeiros culpados são os nossos governantes, que não só estão a permitir esta invasão, como estão a incentivá-la (…) É um protesto contra a islamização da Europa, que representa um perigo gravíssimo e que muitas pessoas ainda não estão a perceber", afirmou o líder do partido, em declarações aos jornalistas.

A pouca representatividade deste partido muito provavelmente não lhe dará influência na sociedade, mesmo a médio prazo. Mas não deixa de chamar a atenção para um problema que, sem qualquer dúvida, terá que ser muito bem refletido pelos países europeus.  

Feed de notícias
0
Para participar da discussão
inicie sessão ou cadastre-se
loader
Bate-papos
Заголовок открываемого материала