Adesão de Montenegro à OTAN: um passo atrás para a Europa

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Os países-membros da OTAN aceitaram o pedido oficial de Montenegro e convidaram o país a começar negociações sobre a adesão, segundo tornou-se público nesta quarta-feira (2).

Nesta quarta-feira (2) a porta-voz Oana Lungescu e o secretário-geral da OTAN Jens Stoltenberg divulgaram nas suas páginas do Twitter que o pedido de Podgorica foi aceite.

"A Aliança convida Montenegro a começar conversações de adesão para se tornar membro da OTAN", escreveram.

​Os ministros do Exterior dos países-membros da OTAN tomaram a decisão após negociações de dois dias em Bruxelas.

Após a decisão Stoltenberg declarou a jornalistas que espera que as negociações terminem no início do próximo ano e, depois disso, será começado o processo de ratificação pelos parlamentos dos 28 países-membros da Aliança militar.

“Espero que as negociações de adesão sejam iniciadas em breve para que nós possamos as terminar no início do ano que vem”, disse.

Ele especificou também que as negociações geralmente não exigem muito tempo, mas que o processo de ratificação pode se estender por certo período:

“Na última vez [a adesão de novos membros à OTAN] levou cerca de um ano, mas eu não vou declarar quaisquer prazos porque é impossível dizer com rigor quando tempo precisarão os Parlamentos nacionais”.

Como é sabido, nem todos estão de acordo com a decisão. Mesmo após o referendo sobre a independência montenegrina da Sérvia, ocorrido em maio de 2006, Montenegro continua sendo um Estado muito dividido, não só de ponto de vista geopolítico, porque deixou o Kosovo e a Sérvia, com os quais se manteve em coexistência como um Estado único por mais de uma centena de anos, mas também do ponto de vista político.

© Sputnik / Vitaliy PodvitskiOTAN sempre se interessa pela opinião pública (mas nem sempre a respeita)
OTAN sempre se interessa pela opinião pública (mas nem sempre a respeita) - Sputnik Brasil
OTAN sempre se interessa pela opinião pública (mas nem sempre a respeita)
Na cena política, os dois blocos diametralmente opostos – um pode ser descrito como pró-OTAN e pró-Montenegro e outro é pró-Sérvia e anti-OTAN – tentam provar a sua opinião.

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Andrija Mandic, político montenegrino, chefe do partido Nova Democracia Sérvia, um dos líderes da coalizão de oposição Frente Democrática, comentou os acontecimentos no seu país à Sputnik:

“Não posso dizer que o convite oficial da OTAN tenha sido bem encarado pelo povo montenegrino porque, a julgar por pesquisas de opinião pública e simples conversas com as pessoas, a maioria está contra a adesão à Aliança. A OTAN quer integrar Montenegro para controlar o nosso território”.

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Quando, nos finais de setembro, os Estados Unidos anunciaram que estavam preparados para apresentar o convite a Montenegro para aderir ao bloco militar em dezembro, o país balcânico passou por uma onda de protestos e a exigência principal foi a demissão do premiê, Milo Djukanovic.

Mas o governo declarou que os protestos visaram minar a adesão de Montenegro à OTAN e alegaram que a Rússia tinha a ver algo com isso. Mas Moscou oficial tem declarado que não tem nada a ver com os acontecimentos e também tem expressado constantemente sua preocupação com a crescente presença militar da Aliança ocidental no Leste Europeu, advertindo que a situação pode ameaçar a estabilidade regional e global.

Em declarações à Sputnik, o político montenegrino Andrija Mandic também não aprova a decisão porque, segundo sublinhou, a adesão à aliança militar minará a economia do país, visto que, nos últimos anos, os empresários e turistas provenientes da Rússia proporcionaram receitas ao seu país no valor de vários bilhões de dólares.

“A adesão à OTAN significará um golpe duro nesta fonte de receitas. Além disso, vamo-nos tornar membros de um bloco ofensivo, dirigido contra a Rússia”.

O embaixador da Sérvia na Rússia, Slavenko Terzic, já comentou o assunto e disse que a adesão de Montenegro à OTAN não contribuirá para a estabilidade nos Balcãs.

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A opinião é também apoiada por altos responsáveis russos.

O parlamentar russo Konstantin Kosachev, presidente da Comissão de Assuntos Externos do Conselho da Federação, opinou à agência noticiosa russa RIA Novosti que a adesão será um passo atrás para a segurança coletiva na Europa.

“Do ponto de vista da segurança coletiva na Europa e do ponto de vista de união face a novas ameaças e desafios, a ampliação da OTAN não é um passo em frente mas atrás”, disse.

Ele sublinhou mais uma vez a falta de consenso entre o povo e o governo montenegrinos sobre a questão da adesão à Aliança militar, e opinou que a decisão foi imposta pelo governo. 

“A posição é imposta ao povo pela atual chefia de Montenegro. O mesmo aconteceu na Geórgia durante os tempos de Mikheil Saakashvili, na Ucrânia com Viktor Yuschenko. E onde agora estão estas chefias?”, perguntou o senador retoricamente.

O vice-chefe do Comitê de Defesa da Duma de Estado russo (câmara baixa do Parlamento), membro da delegação russa na Assembleia Parlamentar da OTAN, Sergei Zhigarev, declarou à RIA Novosti nesta quarta-feira:

“A entrada de Montenegro na OTAN não irá fortalecer [o país], mas o conceito de desejo da Aliança Atlântica de engolir toda a Europa, sem examinar nem questões étnicas, nem a história dos países que aderem, é simplesmente o desejo de cobrir todo o território como seu monopólio.”

O porta-voz presidencial russo Dmitri Peskov também partilhou da sua opinião e disse:

“Em vários níveis, Moscou sempre sublinhou que a expansão contínua da OTAN, da estrutura militar da OTAN para Leste, naturalmente não pode deixar de levar a medidas de resposta do Leste, quer dizer, do lado russo, tendo em conta a garantia de segurança e manutenção da paridade de interesses”, declarou.

Lembramos que, em 2014, a OTAN começou a reforçar a sua presença militar nos países do Leste europeu que fazem fronteira com a Rússia, alegando um suposto envolvimento de Moscou na crise ucraniana.

A Rússia tem repetidamente negado as acusações e manifestou preocupação com o reforço da OTAN ao longo da sua fronteira ocidental, dizendo que o movimento poderá levar à desestabilização na região e no mundo.

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