CIA na sombra: Estaria Berlim preparada para reatar com Moscou e irritar os EUA?

© Sputnik / Sergey Guneev / Acessar o banco de imagensVladimir Putin, Presidente da Rússia, e Angela Merkel, Chanceler da Alemanha
Vladimir Putin, Presidente da Rússia, e Angela Merkel, Chanceler da Alemanha - Sputnik Brasil
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De acordo com uma análise da Stratfor, Berlim está pronta para restaurar seus laços com Moscou, entendendo claramente que isso pode "criar atritos" com Washington, que, por sua vez, vai usar toda a sua influência sobre os Estados do Leste Europeu para conter a reaproximação dos dois países.

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No entanto, por ora, a Alemanha está apenas "testando as águas" antes de tomar uma decisão final sobre o futuro de suas relações com a Rússia", segundo afirma o relatório publicado no site da agência privada de inteligência geopolítica estadounidense, também conhecida como Strategic Forecasting e mais ainda como a "CIA na sombra" (referência à Agência Central de Inteligência dos EUA). 

O artigo veio a público na sequência da reunião entre o presidente russo Vladimir Putin e o vice-chanceler alemão, Sigmar Gabriel, em Moscou, na quarta-feira (28).

"A Alemanha enviou um sinal na quarta-feira de que está repensando sua relação com a Rússia, quando o vice-chanceler e ministro da Economia, Sigmar Gabriel, se reuniu com o presidente russo Vladimir Putin em Moscou", diz o texto.

"Berlim está à procura de maneiras de modificar ou mesmo de levantar as atuais medidas punitivas contra Moscou. No entanto, tal decisão provavelmente criaria atrito entre a Alemanha e a maioria dos países da Europa Central e Oriental, o que significa que Berlim ainda não está pronta para uma mudança formal de direção", acrescenta a análise.

O autor, em seguida, enumera as razões pelas quais a Rússia e a Alemanha poderiam ser de algum interesse uma para a outra.

Interesse da Alemanha na Rússia

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A Rússia é apenas o 13º destino mais importante das exportações alemãs, diz a Stratfor, mas num momento em que a recuperação econômica da Europa ainda é frágil e o crescimento da China está se desacelerando, Berlim provavelmente considera que precisa diversificar suas exportações tanto quanto possível.

"As sanções da União Europeia (UE) contra Moscou tornam a exportação de mercadorias para a Rússia complicada. Além disso, a Alemanha e a Rússia haviam planejado aumentar o comércio antes da crise, com negociações para trens, fábricas de produtos químicos e outros projetos sobre a mesa", observa a agência, acrescentando que "a Alemanha também está interessada em melhorar seus laços com a Rússia no setor de energia".

"A Alemanha é o maior consumidor de gás natural russo. Este fato obriga Berlim a se certificar de que as empresas de energia alemãs e russas continuem a cooperar. Também força Berlim a se equilibrar entre a contenção da influência de Moscou na Europa Central e Oriental e a necessidade de garantir que a Rússia continue a vender gás natural a preços acessíveis".

Outra razão, segundo o artigo, é que a Alemanha vê a Rússia como um "jogador-chave na resolução da crise na Síria, que está diretamente ligada ao aumento da chegada de requerentes de asilo na Europa".

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Além disso, o texto afirma que "a Alemanha tem sido mais suave do que outros países da Europa Ocidental e do que os Estados Unidos quando se trata de discutir o futuro do governo do presidente sírio, Bashar Assad, e o conflito sírio".

O argumento ecoa um discurso recente do analista político Ian Bremmer – colunista da revista Time e presidente da consultoria Eurasia Group –, que disse que os europeus "ficaram fartos das sanções antirrussas". E, como a Ucrânia "deixou as manchetes", disse ele, "vê-se mais líderes europeus dizendo: ‘vamos tentar normalizar nossas relações com o Presidente Putin".

Interesse da Rússia na Alemanha

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A razão pela qual a Rússia, por sua vez, está interessada na Alemanha, diz a Stratfor, é que "o Kremlin tem feito lobby ativamente em muitos países europeus, como a Itália e a França, para aliviar as sanções – embora Moscou saiba que a Alemanha é a chave para abrir as sanções".

O artigo sugere ainda que "o Kremlin vê as reuniões com altos funcionários europeus como prova de que não está isolado e como um meio de gerar atrito entre os membros da UE".

"Putin provavelmente também pensa em longo prazo. Gabriel é o líder do Partido Social Democrata, que tradicionalmente tem sido simpático para com a Rússia. Com a popularidade do partido União Democrata Cristã da chanceler alemã Angela Merkel em declínio devido à crise dos refugiados, há uma chance de Merkel não ser vitoriosa nas próximas eleições gerais, previstas para 2017. O Partido Social Democrata também está sendo prejudicado por causa da crise dos refugiados, mas a preservação das boas relações da Rússia com a centro-esquerda alemã poderia ser útil no caso de o partido ter um bom desempenho daqui a dois anos", argumenta a Stratfor.

Atenção da Ucrânia e os Estados Unidos

O encontro de Gabriel com o Presidente Putin, segundo a agência privada de inteligência norte-americana, vai chamar a atenção da Ucrânia e dos Estados Unidos.

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"Levantar as sanções contra a Rússia pode danificar o relacionamento da Alemanha com os Estados Unidos e também forçar a Casa Branca a aumentar a sua cooperação econômica e militar com os ex-Estados comunistas, da Polônia à Romênia. Isso, por sua vez, aprofundaria a já grave fragmentação política da União Europeia".

"Embora países do Ocidente como a Itália e a França sejam favoráveis a uma flexibilização das tensões com o Kremlin, a maioria dos membros da UE na Europa Central e Oriental continua a pressionar por uma linha dura sobre Moscou", adverte o relatório.

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"Esses países já têm uma relação tensa com a Alemanha sobre as suas estratégias para lidar com a crise de imigrantes; a Europa Central e Oriental têm sido particularmente crítica dos planos alemães de realocar os requerentes de asilo para toda a União Europeia, e Berlim não está pronta para uma nova confrontação".

Portanto, conclui a agência, "a Alemanha vai provavelmente decidir lidar com uma crise de cada vez". 

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