Eleições regionais na Colômbia avaliam força do Presidente Juan Manuel Santos

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A Colômbia terá eleições regionais neste domingo, 25: serão escolhidos governadores dos departamentos, deputados das Assembleias Departamentais, prefeitos e vereadores. Para os analistas políticos, o pleito será uma forma de avaliar o Presidente Juan Manuel Santos e a sua influência no quadro político colombiano.

Especialista em políticas latino-americanas e particularmente na história e atualidade de países como Colômbia, Venezuela, Chile e Equador, o professor de Relações Internacionais da Universidade Federal da Bahia, Diogo Dario, concedeu à Sputnik Brasil entrevista em que analisa o panorama dessas eleições colombianas.

Segundo Dario, dois fatos precisam ser considerados: os possíveis reflexos da queda de popularidade do Presidente Juan Manuel Santos e a volta ao cenário político da União Patriótica, o partido que representa as FARC, Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia.

A seguir, a entrevista com o professor da UFBA.

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Sputnik: Estas eleições na Colômbia, neste domingo, são regionais, não têm caráter nacional, certo?

Diogo Dario: Exatamente, são eleições locais, regionais. Significa que estarão em disputa os cargos relativos aos municípios e aos departamentos. Na Colômbia, ao contrário do Brasil, os cargos de maior prestígio político são os relativos às cidades, sendo as mais importantes, neste momento, as prefeituras de Bogotá e Medellín.

S: Pesam mais no panorama colombiano as eleições regionais do que as eleições nacionais?

DD: As eleições dos departamentos, que equivaleriam aos Estados no Brasil, não têm grande importância porque esses departamentos não têm muita receita e não têm prerrogativas importantes do ponto de vista político. As prerrogativas e executivos estão concentrados nas cidades, nos municípios, propriamente.

S: Qual a influência do Presidente Juan Manuel Santos nestas eleições?

DD: Ele tem uma missão importante, que é garantir que o Partido de la U, o Partido Social de Unidade Nacional, continue com uma base de sustentação política razoável, porque ele tem um processo de paz em vista e não pode perder o apoio a esse processo, porque isso pode causar instabilidade, porque muitas das decisões que ele tomar devem ser endossadas dentro do campo da política doméstica. Mas ele não é um político que tenha, ele próprio, um grande prestígio neste momento. A administração dele não é tão popular e ele está contando mais com um resultado positivo do que atuando para que esse resultado possa ser realizado por parte do partido dele.

S: Ele não teve envolvimento direto nas campanhas?

DD: Ele atuou ativamente, principalmente nas grandes prefeituras, mas ele não é um político que hoje conte com grande popularidade. Santos contava antes, desde o momento em que ele iniciou o processo de paz e até 2013, quando houve na Colômbia um processo muito parecido com os protestos que tivemos no Brasil. E, paralelamente à Presidenta Dilma, ele também perdeu popularidade vertiginosamente. Neste momento o que segura o governo dele é a polarização em torno do processo de paz. Ele tem uma classe média e uma centro-esquerda que o apoia pragmaticamente porque o processo de paz é muito importante, mas as políticas no campo doméstico não são populares.

S: Juan Manuel Santos foi ministro da Defesa do Presidente Álvaro Uribe, certo?

DD: Isso, no segundo mandato de Álvaro Uribe.

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S: E lidou diretamente com a questão das FARC – Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia. Qual o papel das FARC hoje, o que elas representam? Há um processo de negociação em andamento com o Governo. Qual o papel das FARC nestas eleições?

DD: Eu diria que o papel das negociações, dos diálogos, é mais proeminente do que o papel do grupo em particular. Desde 2014 a política colombiana – mesmo a questão política doméstica – está muito polarizada em torno deste processo de paz. De 2012 a 2014 temos uma euforia em torno do processo. Todos os grupos se mobilizaram para, de alguma forma, se colocar a favor do processo. A partir de 2014 a oposição começou a ganhar espaço dentro deste panorama, e uma oposição ao processo como um todo, algo que não existia antes, começou a se manifestar. Os grupos de direita que tinham sido afastados do poder com a guinada política que o Presidente Santos deu encontraram espaço político nesse ressentimento da população em relação aos resultados pouco concretos dos diálogos. A eleição reflete este panorama polarizado: os partidos de direita, que estão na oposição ao governo de centro, contra o processo de paz; e os partidos de centro e de esquerda, a favor. Esta é a grande pauta nacional que está se refletindo nas eleições locais. O que é interessante, em termos simbólicos, nesta eleição, é que é a primeira em que a União Patriótica, partido fundado pelas FARC em 1984 para se reinserir no poder, fruto de um processo de paz liderado pelo Presidente Belisario Betancur, volta reativado depois de mais de 25 anos. É um partido que foi criado para reinserir as FARC dentro do panorama político. Na década de 1990 houve um processo de perseguição sistemática a este partido, quando milhares de pessoas foram assassinadas. E, para conseguir viabilizar a reinserção das FARC novamente dentro do campo deste novo processo de paz, acabamos de reativar a União Patriótica, que não tem nenhum candidato relevante. Não há expectativa de que ela consiga grandes vitórias dentro deste processo eleitoral, mas já tem o elemento simbólico de mais uma vez assegurar a União Patriótica entre os partidos que estão participando. A União hoje é um partido mínimo, e as FARC ainda são uma organização estigmatizada. Não se trabalha com a expectativa de que eles terão qualquer ganho relevante em termos eleitorais. Mas até pela forma dramática como este grupo foi perseguido, como este partido foi dizimado, a recolocação dele no panorama político carrega um peso simbólico muito importante. E um dos líderes das FARC, organização que ainda está na clandestinidade, está concorrendo. Mas a reativação é um indício de que estamos caminhando para um segundo momento em que este partido pode ter um papel relevante na reconstrução do país pós-diálogo.

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