10 erros dos EUA no Afeganistão além do bombardeio de hospital

© REUTERS / ParwizAtentado suicida no Afeganistão (foto de arquivo)
Atentado suicida no Afeganistão (foto de arquivo) - Sputnik Brasil
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O bombardeio estadunidense do hospital dos Médicos Sem Fronteiras em Kunduz não foi o primeiro ataque aéreo dos EUA ou da OTAN que resultou em muitas vítimas civis, é apenas um ponto da longa lista de erros que foram cometidos pelos EUA no Afeganistão.

O bombardeio do hospital nem sequer foi o primeiro caso desta lista em Kunduz. Em 2010, caças dos EUA chamados pelo lado alemão mataram 150 civis que estavam desviando gás de caminhões sequestrados pelo Talibã mas acabaram parados num rio. Só este fato levanta dúvidas sobre o papel dos EUA no Afeganistão e os passos dados pelo lado norte-americano para prevenir a crise que o Afeganistão vive atualmente.

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1. Anos 1980: Osama Bin Laden 

Durante a guerra soviética no Afeganistão, os EUA patrocinaram o treinamento e armamento de militantes islamitas mujahedins para combater as forças soviéticas e governamentais. Entretanto, exatamente como acontece hoje com os rebeldes sírios apoiados pelos EUA,  pouco a pouco começou se desenvolvendo uma situação em que os homens treinados não só combateram a ateia ocupação Shuravi, mas também adotaram ideias de "Morte à América" e a todas as pessoas que eles consideravam de “infiéis”.

Ao contrário dos rebeldes sírios de hoje, Bin Laden no início não tinha a al-Qaeda à qual pudesse se juntar após receber armas e treinamentos financiados pelos EUA e, por isso, ele teve que criar o grupo terrorista em 1988. Após as tropas soviéticas terem sido retiradas do Afeganistão em 1989 e o governo afegão ter caído em 1991, o grupo exigiu a jihad global, tendo começado por bombardear embaixadas norte-americanas, um navio da Marinha dos EUA e as torres gêmeas de World Trade Center (duas vezes).

2. Outubro de 2001: Guerra no Afeganistão

Após o grupo de Bin Laden al-Qaeda ter realizado os ataques terroristas de 11 de setembro em Nova York, os EUA primeiramente escalonaram um grupo relativamente pequeno da CIA e das Forças Especiais do Exército para matar ou capturar Bin Laden. O grupo também deveria combater as forças do Talibã que o protegiam.

Esta operação foi relativamente bem sucedida porque na realidade atingiu o Talibã onde era mais vulnerável, no suporte de civis.

Mesmo assim, os EUA consideram quase impossível realizar missões militares sem “promover a democracia” ao mesmo tempo e é por isso que, em 7 de outubro de 2001, a invasão terrestre foi iniciada com os mesmos objetivos mas com apoio de ataques aéreos. Como resultado, surgiu no Afeganistão mais uma insurgência talibã.

3. Dezembro de 2001: Osama Bin Laden, mais uma vez

É bem conhecido que Bin Laden foi localizado em uma caverna nas montanhas de Tora Bora, perto da fronteira com o Paquistão, o que permitiu o acesso militar aos EUA. Eles precisaram de dois meses após o começo da invasão para finalmente chegar à área aparentemente inexpugnável.

Após o fim da batalha pela área, em resultado da qual a coalizão a capturou, e começou examinando cada caverna, se soube que Bin Laden já havia fugido para um país desconhecido, onde sucessivamente continuou gravando podcasts promovendo a jihad e navegando na Internet por meio de unidades USB por mais de 10 anos, até ser capturado e morto pelas forças norte-americanas.

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4. O exército sem equipamento

Semelhante aos soviéticos, que tinham problemas treinando uma força militar para lutar e morrer por ideias de um país diferente quando o outro aliado, consideravelmente melhor armado poderia fazer o mesmo, os Estados Unidos enfrentaram problemas. De fato, as tropas afegãs muitas vezes eram mais motivadas para fumar maconha.

Esse foi o problema da diminuição e retirada de tropas norte-americanas após 2011.

Enquanto os soviéticos tentaram abastecer o exército afegão com helicópteros de ataque, os EUA escolheram reorganizá-lo numa grande milícia, tal como já tinham feito no Iraque em 2003. 

No entanto, assim como o novo exército do Iraque não conseguiu contrariar o grupo terrorista Estado Islâmico, Humvee do Afeganistão e as forças baseadas em MRAP estão agora lutando com o Talibã renascido e são dependentes de ataques aéreos norte-americanos.

5. Prisão de Bagram

Enquanto os EUA se tornaram conhecidos por técnicas de tortura usadas na prisão de Guantánamo e na prisão de Abu Ghraib no Iraque, o Afeganistão teve a sua “versão regional” destas prisões. Ali, as técnicas eram as mesmas, os prisioneiros eram atados ao teto e batidos.

Bagram não foi a única prisão descoberta em território do Afeganistão mas a discussão pública sobre estas prisões foi menos violenta que sobre a de Guantánamo. Todavia, ao invés de Guantánamo, a prisão de Bagram foi fechada em dezembro de 2014 enquanto os outros locais alegadamente seguem existindo.

6. Queima do Alcorão

Enquanto o Dia de Queima de Alcorão organizado pelo pastor do estado da Flórida Terry Jones levou a protestos sangrentos no Afeganistão, a incompetência da burocracia militar norte-americana conseguiu levar à queima de muito mais cópias do livro sagrado e matar mais pessoas do que as ações do pastor.

Depois de o Exército norte-americano ter retirado 48 exemplares do Alcorão da biblioteca da prisão de Bagram através dos quais os prisioneiros trocavam mensagens escritas nas margens, queimaram-nos em um fogão. Isso resultou em protestos violentos no Afeganistão e na morte de 41 pessoas, incluindo dois conselheiros militares norte-americanos de alto nível.

7. Questão da pedofilia 

É um fato triste mas bem conhecido de que pedofilia permanece uma prática difundida e crescente na sociedade pachtum, apesar de ser ilegal no Afeganistão. 

Todavia, as tropas norte-americanas receberam a ordem de permitir aos oficiais militares afegãos continuar as práticas de abuso infantil conhecido como bacha baazi.

Num caso que se tornou público, um militar norte-americano foi obrigado a abandonar o serviço militar e o país depois de fazer uma tentativa de confrontar esta prática, batendo em um comandante da polícia afegã. A tolerância para com a pedofilia também teve efeito sobre as forças norte-americanas em 2012, quando um menino empregado de um chefe da polícia local que morava na base militar roubou um fuzil e matou três soldados da Marinha norte-americana.

8. Massacre de Azizazad (2009)

Além de ser a ferramenta principal na realização do bombardeio do hospital em Kunduz, o AC-130 participou também do ataque aéreo contra a aldeia de Azizazad. Rumores sugeriam que um comandante do Talibã estaria se escondendo lá.

Mas como não dava para ver quem era exatamente o comandante do Talibã a partir do AC-130, o avião destruiu, passo a passo, 8 casas e matou 92 civis.

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9. Massacre de Granai (2009)

Outro caso de apoio aéreo malogrado foi o bombardeio da aldeia de Granai, onde combatiam forças dos EUA, de um lado, e do Talibã, do outro.

Em resultado, pelo menos 147 civis foram mortos, a maioria deles mulheres e crianças. Porém, quase não houve dados sobre baixas entre os talibãs.

10. Assuntos morais

O exército dos EUA registrou um rebaixamento geral da ética militar nas suas fileiras com o avanço do conflito, que parece às vezes não ter saída. Surgiram práticas como tirar fotos com partes dos corpos dos homens-bomba ou urinar sobre os corpos de afegãos mortos — alegadamente talibãs, ainda que isso nunca tenha sido provado.

Outros desvarios incluem um Grupo de Matança (Kill Team), cujos integrantes matavam civis somente para tirar fotos com os corpos. Já o sargento Robert Bales, em 2012, matou 16 civis em Kandahar, após um ataque de nervos.

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