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Estudo mostra preocupação das indústrias brasileiras na redução das emissões de CO2

REPORTAGEM PROPOSTA COP21 - 2 DE 09 09 15
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Pesquisa inédita divulgada pela CNI, Confederação Nacional da Indústria, realizada com 100 empresas de médio e grande porte, revelou que 2/3 dos empresários brasileiros estão atentos aos efeitos da mudança do clima e que também 66% dos empresários adotaram ações para reduzir as emissões de dióxido de carbono.

O estudo foi realizado entre os dias 11 de junho e 6 de julho, com representantes de 15 setores industriais: automotivo, cal, cimento, construção civil, mineração, papel e celulose, petróleo e gás, químico, têxtil, vidro, alumínio, carvão, energia, siderurgia e sucroalcooleiro.

Para o Especialista em Meio Ambiente da CNI Mario Cardoso, diante da proximidade da COP 21, 21ª Conferência das Partes da ONU sobre Mudanças Climáticas, que acontece em Paris, no final do ano, o resultado da pesquisa é muito positivo, principalmente porque 59% dos entrevistados disseram que investir em sustentabilidade produz oportunidades de negócios.

“A gente ficou bem feliz e satisfeito com o resultado da pesquisa, porque ela mostrou que tanto as indústrias estão se preocupando com as questões ambientais e especificamente com as questões climáticas quanto estão investindo nesses assuntos. Tanto em redução de emissão de gases do efeito estufa quanto na melhoria do seu processo de gestão ambiental, e tem uma perspectiva de aumento desse investimento ao longo do tempo. Esses dois fatores agregados dão uma visão bem otimista da inserção da indústria brasileira nessa temática”.  

A pesquisa revela que 61% dos empresários levam em consideração nos negócios o impacto das mudanças climáticas. O especialista em Meio Ambiente da CNI explica que, conforme o levantamento, 75% das empresas brasileiras aumentaram a atenção aos efeitos das mudanças climáticas nos últimos cinco anos, em razão justamente de uma maior conscientização dos empresários (46,7%), da pressão global (18,7%), e pelo fato das informações sobre o tema estarem mais disseminadas (17,3%).

“Quando ele pensa na imagem, na marca da empresa, talvez isso seja o principal fator que estimula as empresas a entrarem nessa lógica de baixo carbono. Você, ao agregar a imagem da sua empresa a uma preocupação ambiental, e a uma preocupação com as emissões de gases do efeito estufa, você consegue alcançar mercados que antes não estavam disponíveis para você, principalmente mercados internacionais”.

Para Cardoso, se muitas empresas ainda não aderiram à questão ambiental foi por falta de informação:

“Aquela parcela das indústrias que ainda não estão inseridas, isso vai muito da questão da informação. A informação ainda não chegou de maneira adequada para a sociedade. A sociedade tem uma informação em relação à mudança climática, muito voltada para a questão da catástrofe, para a questão dos efeitos do clima. Mas, tendo em vista todo esse cenário futuro, a discussão é qual é a responsabilidade de cada um, e de que maneira cada ator da sociedade pode dar sua contribuição para a redução das emissões de gases do efeito estufa”.

O estudo revela que o mercado de carbono ainda não é uma realidade nas empresas brasileiras. Pouco mais da metade dos entrevistados dizem ser bem informados sobre o mercado; 71% acreditam que a compra e a venda do carbono seria uma boa oportunidade de negócios, mas apenas 7% realizam efetivamente transações no setor no país. O especialista da CNI acredita que o percentual não é tão pequeno como parece, já que no Brasil não há ainda uma legislação de comercialização do carbono.

“Apesar de parecer um número baixo, ao mesmo tempo é alto, porque não existe um mercado regulado no Brasil. Não temos um mercado brasileiro de redução de emissões, que é previsto inclusive na política, como um instrumento de redução de emissões. Ele não existe ainda. O que se tem são mercados voluntários, a maioria deles internacionais. Poucas empresas têm acesso e conhecem esses mercados, e o preço que está sendo pago pelo carbono é um preço muito baixo, é pouco atrativo”.

A pesquisa aponta ainda os principais desafios para o investimento em práticas sustentáveis. Em primeiro lugar está a falta de incentivos governamentais, com 56%. Em segundo, está o aumento de custos da empresa (39%), e, como terceira causa, aparece a legislação inadequada no Brasil (25%).

De olho na Cop21, a Confederação Nacional da Indústria apresentou propostas com contribuições do setor industrial para o governo federal, para a agenda de mudanças climáticas. A expectativa é a de que o governo brasileiro leve em consideração as sugestões do setor nas negociações durante o evento.

Para a CNI, a proposta que deve ser apresentada pelo governo brasileiro deve ter o foco no desenvolvimento de longo prazo, mas caminhando junto com o planejamento no setor energético e também com a política econômica do país. Outra sugestão é a de que no novo acordo do clima estejam presentes condições mais atrativas economicamente para a indústria, possibilitando assim fontes de financiamento e acesso a tecnologias de baixa emissão de gases do efeito estufa. O setor sugere ainda que as ações de investimento e desenvolvimento unilaterais de tecnologia, inovação, capacitação e financiamento não atrapalhem o comércio internacional.

Segundo Mario Cardoso, é preciso que o novo acordo climático obedeça o princípio das responsabilidades comuns, mas diferenciadas entre os países, de forma que, por exemplo, o documento não comprometa programas e ações voltadas para a melhoria dos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) de países em desenvolvimento.

O especialista também apontou como uma das propostas da CNI a de que os esforços de redução das emissões de gases do efeito estufa já efetuados pelo Brasil sejam reconhecidos e contabilizados nas negociações.

“A gente quer que seja considerada essa trajetória do Brasil, porque tudo isso teve um custo para a sociedade. Por exemplo, combate ao desmatamento e plano de agricultura de baixo carbono têm um custo para a sociedade. A sociedade brasileira, de certa forma, já está pagando um preço por reduzir essas emissões. Isso tem que ser considerado. A gente não começou essa discussão hoje e nem começamos a trabalhar hoje nesse sentido”.

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