Opinião: Kiev não tem coragem para admitir seus erros

© AFP 2023 / GENYA SAVILOVMembros de grupo ultranacionalista desfilam pelas ruas de Kiev
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O governo ucraniano tenta por todos os meios passar responsabilidade pela situação no país para os independentistas ucranianos ou para movimentos de extrema-direita, embora seja o governo o responsável, escreve sociólogo ucraniano no The Guardian.

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O sociólogo Vladimir Ischenko comentou os confrontos em Kiev no início da semana. O Parlamento da Ucrânia aprovou em 31 de agosto na generalidade o projeto de alterações à Constituição do país para a implementação da descentralização. Os manifestantes protestavam contra a aprovação das alterações à Constituição. Mais de 100 pessoas ficaram feridas devido à explosão de uma granada em frente ao prédio do Parlamento ucraniano. Um soldado da Guarda Nacional que foi atingido por estilhaços acabou por morrer.

“A questão da autonomia de Donbass dividiu a coalizão já frágil mas o governo deve pensar nas suas decisões…”, considera o sociólogo, especializado em protestos sociais.

Além disso, Vladimir Ischenko nota que as alterações da Constituição propostas por Kiev têm uma fraca ligação ao texto dos Acordos de Minsk. Realmente, não concedem um estatuto especial às regiões de Leste. Mais do que isso, a assim chamada descentralização é acompanhada pelo fortalecimento do controle presidencial das autoridades locais através de prefeitos.

Entretanto, os partidos extremistas Svoboda e o Setor de Direita consideraram as alterações da Constituição como “capitulação”. Segundo os dados, a granada foi lançada por militantes do Svoboda.

No entanto, o presidente ucraniano Pyotr Poroshenko, em uma entrevista ao canal britânico Sky News, culpou a Rússia da tragédia.

“O presidente afirmou que se deve culpar ‘a campanha do Kremlin para desestabilizar a situação’, embora tudo indicasse a que foram os apoiantes dos movimentos extremistas que provocaram os confrontos com a polícia”, precisou o especialista.

Entretanto, o partido Svoboda chamou o conflito perto do prédio do Parlamento ucraniano de provocação para desacreditar os patriotas.

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Ischenko faz lembrar que as autoridades têm sido avisadas já há muito tempo sobre as possíveis consequências da cooperação com nacionalistas.

“Lançar uma granada em uma multidão não é o pior ato de violência que acontece na Ucrânia. Atrocidades ainda piores são cometidas quase todos os dias na região de Donbass por pessoas ‘comuns’ de ambos os lados do conflito”, opina o sociólogo, adicionando que os ataques na guerra e a violência causada por militares que voltam da zona do conflito porque se sentem traídos pelo governo são coisas diferentes.

Segundo o especialista, isto acontece porque o governo ucraniano tem mais responsabilidade no conflito militar do que os movimentos de extrema-direita: eles somente “orquestram os acontecimentos”, não os provocam.

Ischenko explica que os acontecimentos em Mukachevo, onde membros do grupo ultranacionalista ucraniano Setor de Direita, armados com metralhadoras e granadas, abriram fogo contra civis e policiais, mostram que poder tem o governo ucraniano na realidade:

“O que pode surgir na política ucraniana é uma situação assustadora, em que o governo nacionalista terá só uma alternativa – a oposição ultranacionalista”.

Vale lembrar que em fevereiro de 2014 um golpe de Estado em Kiev promoveu a troca de poder na Ucrânia. Preocupadas com a política das novas autoridades do país, as populações das regiões de Donetsk e Lugansk, no sudeste do país, e que juntas formam a região de Donbass, rejeitaram a legitimidade do novo gabinete em Kiev.

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